Em um cenário ainda pré-pandemia, a pesquisa TIC Saúde 2019, divulgada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) nesta terça-feira, 21, mostra como o País encarou – e provavelmente ainda encara – a crise do coronavírus: com quase um quinto das unidades básicas de saúde (UBSs) sem acesso à Internet. São 7,2 mil UBSs desconectadas, ou 18% do total, segundo o levantamento realizado pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br). Comparado com a pesquisa do ano anterior, o cenário praticamente não havia mudado – de fato, houve um crescimento de 1% na quantidade de UBS desconectadas.
Dos estabelecimentos com conexão (ou seja, 82% do total), as tecnologias mais utilizada são de fibra ou cabo – a entidade não fez diferenciação entre as duas. Segundo a pesquisa, 86% utilizavam essa forma de banda larga, enquanto 43% usavam o cobre (xDSL); 13% via rádio; e 8% via satélite. Além disso, 39% contavam com modem ou chip 3G/4G. Uma UBS pode ter mais de um tipo de conexão.
Por conta da presença da fibra, a maior parte das unidades contam com velocidade de 10 Mbps a 100 Mbps (30%) – a ampla faixa é a adotada pela pesquisa. As conexões acima dessa velocidade eram 11%. Nota-se que 26% responderam não saber qual era a capacidade da banda larga contratada.
"Ainda que o cenário nessas unidades de saúde tenha apresentado melhoras, existe uma parcela significativa de UBS sem computador e sem acesso à Internet. Isso é bastante relevante em um momento em que enfrentamos a pandemia COVID-19 e precisamos, mais do que nunca, que esses estabelecimentos estejam informatizados e conectados, de forma que possam contribuir com informações atualizadas para o controle e combate à doença", declarou o gerente do Cetic.br, Alexandre Barbosa, em comunicado.
A coleta de dados ocorreu entre julho e novembro do ano passado com 2.427 gestores de estabelecimentos de saúde; e entre setembro de 2019 e fevereiro de 2020 com 1.732 médicos e 2.458 enfermeiros vinculados a esses estabelecimentos.
Sem conectividade
Se a pesquisa fosse feita hoje, durante a pandemia, poderia não haver um resultado tão diferente. O governo, por meio do Ministério da Saúde (MS) e do então MCTIC, anunciou no começo de abril um programa em parceria com a RNP para conectar 16,2 mil UBS pelo País em resposta à pandemia do coronavírus. Mesmo sem contar com orçamento definido, a instituição chegou a realizar o chamamento de provedores, que enviaram propostas e apoiaram a iniciativa. A promessa era de uma ação urgente e início ainda no dia 30 daquele mês.
Porém, as sucessivas mudanças de comando no Ministério da Saúde, agora comandada interinamente pelo militar Eduardo Pazuello, acabaram por colocar o programa em um limbo. A pasta já completa 66 dias sem um ministro. Nesse interim, o governo recriou o Ministério das Comunicações (Minicom). Desde abril, o projeto de conexão das UBSs não tem mais notícias por parte do governo ou da RNP.