O caminho sem volta da economia da conectividade na geração de riqueza

Marcos Ferrari, presidente-executivo da Conexis Brasil Digital

Se o Brasil pretende avançar a passos largos em direção ao crescimento econômico, não há dúvida de que será preciso se debruçar sobre o papel da conectividade como eixo fundamental das políticas públicas nos próximos anos. Não apenas devido ao recém-chegado 5G, que permite o impulsionamento da agenda digital e representa uma ótima oportunidade para acelerar o catching-up tecnológico, mas também devido ao papel central da conectividade na sociedade do conhecimento e sua alavanca para transformar o futuro da humanidade.

Inegavelmente houve alguns avanços relevantes nessa seara nos últimos anos, medidas que devem ser comemoradas. Mas é necessário ir muito além. O assunto precisa definitivamente ocupar a pauta central do próximo Governo e de sua área econômica. É muito importante enxergar os diversos ganhos que um país mais conectado pode gerar em termos de produtividade, crescimento econômico e distribuição de renda. Nesse sentido, deve-se migrar do círculo vicioso da agenda predominantemente fiscal – que é muito relevante, mas não pode ser um fim em si mesma, para um círculo virtuoso da pauta prioritariamente econômica e social.

Nessa toada, é inescapável tratar da conectividade, sob pena de o Brasil ficar fadado à lógica dos países de baixo crescimento estrutural. Perde-se potência a cada crise econômica, faltando fôlego para a recuperação e acompanhamento das tendências mundiais. Em termos macroeconômicos, estudo da PGA Associados (vide versão ampliada da Carta da Conexis aos presidenciáveis) mostra que cada vez mais há menos condições de o país voltar aos níveis de crescimento anterior a um período turbulento (Gráfico 1). Desde a crise fiscal, o patamar prospectivo de crescimento se tornou o menor já registrado.

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Gráfico 1: Crescimento do PIB e crises no Brasil (% a.a.)

Fonte: IBGE e Relatório Focus de 29 de abril de 2022.

O Brasil precisa finalmente acordar e romper com esse ciclo que só prejudica a sua população, gerando um impagável débito às gerações futuras. Sair dessa armadilha requer, por um lado, equilíbrio e resistência à sedução de soluções fáceis de curto prazo. Por outro, clama por um pacto intergovernamental de cumprimento de compromissos de Estado para o futuro da nação. Como sempre, é muito mais difícil enxergar os problemas em meio ao turbilhão, e a dimensão dos desafios brasileiros amplifica essas dificuldades. A título de ilustração, o Barão de Münchhausen escapou da morte no pântano puxando a própria cabeça para cima e teve consequentemente outra visão do mundo. O conto poderia inspirar as autoridades brasileiras a enxergar outras formas de solucionar os mesmos problemas e evoluir da fraqueza econômica para a prosperidade.

A conectividade pode ser uma forte aliada nesse processo, desde que esteja no centro das decisões de políticas econômica, industrial e pública. Não se trata de haver um condicionamento, pois cada esfera tem sua autonomia, mas deve ser uma variável relevante no modelo de decisão dessas políticas. Assim já fazem outros países como Estados Unidos, Alemanha e China. No Brasil, já há resultados não desprezíveis do poder transformacional da conectividade. Como exemplo, um estudo também realizado pela PGA Associados (vide versão ampliada da Carta da Conexis aos presidenciáveis), a partir de dados das contas nacionais, mostra que os setores que mais obtiveram ganhos de produtividade na última década foram justamente aqueles que priorizaram a conectividade (Gráfico 2), mediante incentivos nas políticas governamentais. Esse sucesso por si só lastreia o que aqui se defende em termos de uma mudança de patamar na escala governamental de prioridade para o setor de telecomunicações.

Gráfico 2: Correlação entre crescimento da Produtividade e Consumo intermediário de TIC – Brasil (Variação %, média anual, entre 2000 e 2019)

Fonte: SCN/IBGE. Elaboração: PGA Consultoria.

Diante de tantas evidências, até que surja outra grande revolução de equivalência semelhante, será preciso investir em uma economia da conectividade que encabece as decisões do Governo. Caso contrário, o Brasil poderá morrer no pântano, ou melhor, no limbo devido à realidade econômica digital imposta hoje no mundo.

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