A operação de reestruturação societária da Telemar em curso, e que nesta quinta, 17, ganhou novo fôlego com a reversão da decisão original dos controladores de fazerem uma oferta secundária de suas ações ao mercado, pode indicar uma mudança significativa para o futuro da Brasil Telecom.
Uma avaliação ouvida por este noticiário é que a Brasil Telecom ficaria "contra as cordas" caso a Telemar tenha sucesso na operação proposta e de fato se torne uma empresa com nível "Novo Mercado" de governança, com mais liquidez dos papéis, simplificação da estrutura societária e, sobretudo, independência da vontade de poucos controladores. A análise é simples: a saída encontrada para a Telemar de abrir totalmente a companhia em mercado dá à empresa muito mais atratividade do ponto de vista de novos investidores. Os ratings da empresa devem subir, barateando o acesso a capital e possibilitando melhores condições de endividamento. Hoje, só quem briga pelo espaço no mercado investidor brasileiro são a Telemar e a Brasil Telecom, já que a Telmex está sustentada por uma confortável posição de seus investidores no México e a Telefônica na Espanha. Caso a Telemar "evolua" da forma como indica a proposta de reestruturação societária, a BrT deixaria de ser uma empresa "competitiva".
Pesariam contra a Brasil Telecom ainda outros fatores: uma complexa disputa societária, uma estrutura de holdings caótica, com cinco níveis de controle e acordos de acionistas absolutamente desconfortáveis para qualquer investidor, além de uma receita e capacidade de geração de caixa menor. No longo prazo, a única alternativa da empresa seria ser vendida para a Telmex ou Telefônica, desde que houvesse uma possibilidade regulatória disso acontecer. Sozinha, a Telemar também teria mais dificuldades de competir contra as duas multinacionais, e no limite também poderia ser comprada por uma das duas. O mercado brasileiro de telefonia se tornaria, assim, um duopólio dividido entre mexicanos e espanhóis, que poderiam ou não competir entre si, ou seja, com risco de formação de cartel, ainda mais com o processo de fragilização dos órgãos de regulação brasileiros (Anatel, Cade, CVM etc).
Mesmo caminho
Mas vale lembrar que a Brasil Telecom pode resolver seguir o mesmo caminho da Telemar e pulverizar seu controle em bolsa. Teria que vencer alguns problemas antes. Primeiro, acertar societariamente sua confusa estrutura, fruto da administração Opportunity. O Citibank deve vender a sua participação aos fundos de pensão até o final do ano que vem, caso não haja um comprador. Aos fundos, ao que tudo indica, a solução de uma saída em bolsa é aceitável. Já as participações da Telecom Italia (que hoje tem 38% da holding da BrT e teria poder de veto sobre uma reestruturação societária nos moldes da Telemar) e do Opportunity (com pequena participação no topo da cadeia societária e muitas ações diretas adquiridas em bolsa) teriam que ser resolvidas antes.
Se a Brasil Telecom optar pelo mesmo caminho, não se descarta a hipótese de que ela e a Telemar comecem a buscar a possibilidade de se unir para, como uma empresa única e pública, sem controladores majoritários, fazerem frente à Telefônica, de um lado, e Telmex, de outro. Mas isso dependeria de mudanças significativas na legislação e no modelo de telecomunicações, o que depende de uma disposição política ainda não manifestada pelo governo.
Problemas atuais
Atualmente, a Brasil Telecom tem dois problemas imediatos a resolver. O primeiro é em outubro, quando vence o prazo dado pela Anatel para que se desfaçam as sobreposições de licenças de SMP e longa distância entre a empresa e a TIM. Um caminho é os atuais controladores, Citibank e fundos de pensão, comprarem a parte da Telecom Italia, já que os italianos não se dispõem a gastar para se tornarem eles os compradores. Acontece que nem fundos nem Citi tampouco querem comprar essa participação, visto que já têm o controle da empresa. Restaria à Telecom Italia colocar suas ações em um fundo fideicomisso, abrindo mão da participação do dia-a-dia da empresa, mas também isso não teria sentido sem que houvesse, no médio prazo, um comprador. E nada indica que exista, no mercado, alguém disposto a comprar um pedaço sem direito a controle na Brasil Telecom.
Caso não haja nem uma operação de compra e venda e nem a disposição dos italianos de colocar as ações em um fundo para desfazer a sobreposição, restará à Anatel obrigar uma das partes a se desfazer de alguma coisa. Mas certamente nem a BrT nem a Telecom Italia vão abrir mão de suas respectivas operações de telefonia móvel, a não ser na hipótese de venda, o que manterá o impasse.
O segundo problema que os controladores da Brasil Telecom precisam resolver é a realização de seus investimentos na empresa. O Citibank tem como alternativa de saída o acordo de put firmado com os fundos, que pagarão cerca de R$ 1 bilhão corrigidos, ao final de 2007, pelas ações do Citi, caso não haja outro comprador. Já os fundos, que também querem vender o controle da empresa, terão que esperar algum candidato à compra, ou optarem por uma saída de mercado, em uma operação semelhante à da Telemar agora, mas isso tomará tempo.
Até lá, restará à BrT observar se a operação da Telemar dá certo ou não. Se for bem sucedida, a própria BrT ganha uma saída para o seu futuro, mas ficará pressionada a seguir o mesmo caminho e poderá sonhar, no futuro, em juntar forças em uma única empresa. Caso a operação da Telemar não dê certo, as duas teles poderão ter que assistir à Telmex e Telefônica crescerem sozinhas no mercado brasileiro, turbinadas pelas condições de mercado mais favoráveis de suas matrizes no exterior.
Situação dos italianos
A Telecom Italia, como se sabe, já colocou à venda ativos no Brasil e no mundo, e cada vez menos se acredita que a empresa esteja blefando. Ou seja, os italianos não devem ampliar a sua participação na Brasil Telecom e podem inclusive buscar compradores para seu principal ativo fora da Europa, a TIM. Vale lembrar que a Telecom Italia precisa se capitalizar para cumprir com pesadas obrigações financeiras em outubro, sob o risco de mudança de controle. Fontes próximas à cúpula da Telecom Italia garantem, contudo, que os controladores dispõem de ativos imobiliários que poderiam ser vendidos, cobrindo suas necessidades.