Foram lançados com sucesso nesta sexta, dia 16, os dois primeiros satélites da nova geração O3b mPOWER, operado pela SES. Os dois satélites fabricados pela Boeing Space System (F1 e F2) foram lançados em conjunto pelo fogrete Falcon 9, da SpaceX, na base de lançamento da empresa em Cabo Canaveral, Flórida.
Os satélites ainda levarão cerca de cinco meses para entrarem na órbita definitiva. Por fazerem parte de uma constelação de órbita equatorial média (MEO), os satélites ficarão posicionados a 8 mil km de altitude. Após os dois primeiros satélites, a previsão é de que o próximo lançamento, no começo de 2023, combine três satélites e depois mais um até o final do ano. O lançamento operacional do serviço mPOWER está previsto para o terceiro trimestre, segundo Steve Collar, CEO da SES.
Para o executivo, em conversa com este noticiário durante o briefing de lançamento, o que a nova geração do serviço O3b proporcionará é uma ampliação de pelo menos 10 vezes da capacidade do serviço. "Com a nova constelação expandimos a capacidade de fazer o que já era feito mas com muito mais flexibilidade".
Steve Collar destacou três parcerias durante o evento com jornalistas: com a empresa de cruzeiros marítimos Princess Cruises, com a operadora Vodafone das Ilhas Cook, e com a Claro Brasil, para backhaul da rede celular na região Amazônica. Segundo Collar, são exemplos extremos de possibilidades de serviços que foram viabilizados com a constelação O3b e que se potencializam com a nova geração. Se a geração anterior permitia a cada satélite 10 feixes (beams) de cobertura simultâneos, a nova geração possibilita 5 mil, com velocidades de até 10 Gbps.
Ele acredita que a nova geração terá grande demanda para serviços governamentais (a SES projeta que 50% da capacidade da nova constelação será dedicada a serviços de governos) e especialmente na América Latina há a expectativa de grande demanda.
Ele destaca o esforço técnico de desenvolvimento do mPOWER, realizado em parceria com a Boeing. "O que foi feito foi o equivalente, em termos de miniaturização, a transformar um desktop em um smartphone", diz ele. Foram cinco anos de planejamento e preparação, segundo ele.
Michelle Parker, VP and deputy general manager da Boeing Space and Launch explica que o desenvolvimento dos satélites mPOWER foi uma conquista tecnológica importante para a Boeing. "Tivemos que pensar de uma maneira muito diferente para criar um satélite com esse nível de flexibilidade, completamente autônomo para a operação, resistente a condições extremas de temperatura e radiação", explica a executiva. Segundo ela, mesmo que os satélites com payload digitais já fossem uma realidade quando a geração mPOWER foi encomendada, o desafio foi completamente novo.
TELETIME – O que vocês pensam em fazer a partir dessa nova geração que não era possível antes?
Steve Collar – O que o mPower faz é ampliar a capacidade. Pegue o exemplo da indústria de cruzeiros. Como antes a gente só conseguia 10 feixes por satélite, só podíamos atender ao topo da cadeia de navios. Agora, podemos atender a todo o mercado, inclusive o mercado de super yatches e navegação comercial, o que antes era difícil com o O3b clássico. Aumentamos o alcance, mas também há um outro ponto que é o fato de coletarmos dados de maneira muito mais intensiva para os clientes sobre o que está conectado e onde, o que pode ser integrado com outras fontes de dados como satélites de observação. São novas aplicações e que permitem novos casos de uso.
Quando a primeira geração foi lançada, há oito anos atrás, vocês foram pioneiros em levar banda larga via satélite, mas muitos dos serviços atuais sequer existiam, como 5G, constelações LEO etc. Por quanto tempo a geração mPower será competitiva? Quandoela precisará ser atualizada?
O que fizemos na primeira geração foi imenso. Nunca ninguém havia pensado em lançar um serviços de banda larga via satélite, seja em uma constelação MEO ou LEO. O que estamos fazendo é construindo em cima desse sucesso e de uma base de clientes que já existem. Isso é muito importante. Quando atualizamos a tecnologia tínhamos essa especificação de design de multiplicar por 10 a capacidade, e conseguimos mais. Provavelmente precisaremos fazer o mesmo em algum momento com o mPOWER, mas existe uma grande diferença: temos agora um satélite baseado em software, muito mais flexível, completamente atualizável em cima do mesmo hardware. Mesmo com novos serviços e necessidades, teremos capacidade de atualizar o mPOWER de forma que não tínhamos com a O3b clássico. Não teremos as mesmas limitações e não necessariamente precisaremos fazer uma atualização antes do planejado. O que pode acontecer é precisarmos ampliar a capacidade com mais satélites.
Você diz que prevê 50% do tráfego do mPOWER vindo de aplicações governamentais. Como isso será possível, considerando que os governos estão cada vez mais preocupados com questões de soberania, segurança…
Hoje 25% do nosso negócio já é com governo, e 50% do business de rede é com governo. Então não planejamos nada muito diferente do que já é. Mas de fato, governos têm uma preocupação crescente com soberania e segurança. Por isso montamos um sistema que permite aos governos construirem um gateway próprio em suas próprias instalações, com total controle, e operar a capacidade, apontar os feixes, sem que a gente sequer precisse colocar o dedo nessa operação. É como operar uma rede em cima de uma rede sem nenhuma interferência da SES. A Europa está preocupada com isso, e o mPOWER foi pensada para atender essa demanda. Os satélites se tornam apenas parte de uma rede descentralizada. É uma arquitetura aberta e não fazemos nenhuma modulação no satélite, é tudo IP, e o governo usa a transmissão, criptografia que quiser.
Falando sobre o Brasil, qual o focus que vocês têm com o mPOWER? E como fica o SES 6, que hoje está dedicado ao serviço da OiTV e cujo contrato acaba em 2025?
O que a gente quer é ampliar o uso do O3b para backhaul mas agora em vez de uma alocação para pontos fixos, criar um lago de capacidade que possa atender sob demanda qualquer site que esteja conectado. Podemos adicionar capacidade onde for mais necessário. Outro negócio importnte para nós são as plataformas offshore de petróleo, que já operams e poderemos adicionar mais capacidade. Sobre o SES 6 hoje com a OiTV, não precidsmod tomar nenhuma decisão agora, ele tem uma longa vida, e podemos esperar os planos da Oi para decidir. (O jornalista viajou ao Cabo Canaveral a convite da SES)