A ignorada qualidade da banda larga dos PPPs

Fabio Vianna Coelho, sócio da RadiusNet e da Vianatel

A banda larga registra a pior avaliação entre consumidores de serviços de telecomunicações. Embora principais responsáveis pelas 12,4 milhões de conexões de Internet rápida que entraram em operação entre 2019 e 2022 no país, os provedores regionais de Internet pouco têm a ver com esse quadro. Aliás, muito pelo contrário.

O estudo da Anatel, divulgado no início de abril, aponta um índice de satisfação de 7,07% com os acessos à banda larga, o mais baixo dentre serviços de telecomunicações apurados a partir de entrevistas com realizadas em 2021 com 88 mil clientes das grandes operadoras – Claro, TIM, Vivo, Oi e Sky – e de alguns dos maiores provedores regionais – Algar, Brisanet, Gigabyte, Mob, Unifique e Valenet –, que registraram os melhores resultados quanto à avaliação do serviço.

Ciente de que sua metodologia restringe o alcance da Pesquisa de Satisfação e Qualidade, a agência passará a ouvir também consumidores atendidos por Ligga Telecom, Proxxima, BR Super, Blink e Vero Internet para a próxima edição, que será divulgada em 2024. Ao todo, serão onze PPPs. É algo positivo, mas ainda muito distante do necessário para se saber como de fato a Internet rápida é avaliada no país. Afinal, segundo a Abrint, os ISPs formam um contingente de 20 mil empresas.

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Fora das estatísticas oficiais, a imensa maioria dos ISPs não dispõe de dados que atestem a qualidade de suas ofertas. Dessa forma, como se poderia dizer que não são responsáveis pela insatisfação dos usuários de banda larga?

Outros dados fornecidos pela Anatel justificam a afirmação. Em março, quando respondiam por 51,6% das 45,7 milhões de conexões de banda larga fixa ativas no país, os provedores regionais detinham 21 milhões de acessos por fibra óptica, 64,6% do total disponibilizado a partir da tecnologia, que está presente em 88,9% das conexões que fornecem. Entre as grandes operadoras, que dispõem de poderio econômico e atuam em grandes centros – onde novas tecnologias são mais acessíveis e mais baratas – os percentuais caem para 35,4% do total de conexões via fibra e 52% das que elas disponibilizam. Com estas empresas, está, portanto, a maior parte do cabeamento de cobre ainda existente.

Fala-se muito no 5G mas, no cenário econômico atual, protagonizado por juros e inflação altos, consumo, tomada de crédito e investimentos são inviabilizados, reprimidos e postergados. É um obstáculo, por ora, intransponível para que a quinta geração da telefonia móvel ganhe escala num futuro próximo.

Há consenso de que o 5G terá aplicações basicamente empresariais concentradas, a princípio, em automação industrial e no agribusiness, algo que, mesmo na Europa, ainda não se tornou realidade. Por ora, parte das promessas relacionadas a automação, manutenção preditiva, Machine deep Learning e afins, bem como consecutivos ganhos de produtividade que seriam proporcionados apenas pela tecnologia já é realidade – também no Brasil –, o que se dá com a combinação do 4G – que cresce a partir dos ISPs – e do Wi-Fi 6.

As grandes teles têm apresentado – com o devido acompanhamento da Anatel – resultados relativos à implantação do 5G que, com base nos cronogramas, superam, até aqui, as expectativas quanto ao cumprimento das metas estabelecidas no leilão de frequências. Porém, faltam consumidores corporativos e finais e, sem eles, é difícil avaliar a qualidade do que está no mercado. E esta não deve ser boa.

Isso porque essa oferta está hoje nos grandes centros que, por conta das redes das teles, concentram o cabeamento de cobre ainda existente. É sabido que a capacidade de transmissão de dados possibilitada pelo 4G e pelo 5G depende da fibra óptica. Se a falta de atualização desse tipo de infraestrutura pode frear o desenvolvimento econômico ao privar empresas de ganhos de competitividade, ela também acaba deixando o cidadão comum sem acesso a serviços essenciais – não só a conexão à Internet, mas até mesmo o contato telefônico com Bombeiros, Polícia, SAMU, dentre outros.

O cobre é um metal que se caracteriza pela excelente condutividade e que, pelo seu uso em componentes eletrônicos, tem valorização contínua no mercado. Isso se reflete nos valores por ele pagos em ferros-velhos e que motivam o furto de cabeamento composto por este material.

Segundo a Conexis, integrada por Claro, Oi, TIM, Vivo, Algar e Sercomtel, 4,72 mil quilômetros de cabos foram furtados em 2022, 14% mais que no ano anterior. A entidade afirma que esses crimes, que visam, em sua maioria, a obtenção de cobre para posterior venda, deixaram 7 milhões de clientes sem serviços de telecomunicações. O agravamento do quadro motivou a criação de uma CPI na Câmara Municipal de São Paulo, maior das metrópoles – áreas abastecidas pelas grandes teles – do país, para se apurar responsabilidades.

Criminosos também danificam cabeamentos de fibra óptica, mas estes casos resultam de atos de vandalismo ou da busca por cobre. Por terem aplicação exclusivamente na transmissão de dados e demandarem preparo técnico para que tenham alguma utilidade, as fibras ópticas praticamente não dispõem de valor comercial neste, digamos, mercado secundário. Isso as excluem do interesse de bandidos.

Não se pretende aqui depreciar os serviços das grandes teles. A desatualização de parte de suas redes deve-se à aquisição das imensas infraestruturas das subsidiárias da Telebras quando da privatização do sistema. Além disso, obrigações como aterramento de redes – mais exigido em grandes cidades – consomem recursos que poderiam ser destinados à atualização tecnológica. Já os ISPs tiveram crescimento mais recente, em áreas que passaram a dispor de redes de telecomunicações quando o uso da fibra óptica já era usual.

Seja como for, as redes dos provedores regionais, adequadas às demandas atuais e menos suscetíveis a atos criminosos que causam transtornos e insatisfação de clientes, constituem ativo valioso – bem mais que o cobre! – que, assim como as possibilidades geradas pelos serviços dessas empresas, é observado pelos que promovem a onda de M&As que não perde força no segmento.

*-Sobre o autor: Fabio Vianna Coelho é sócio da VianaTel e da RadiusNet, empresas especializadas em consultoria regulatória e software de gestão para provedores de Internet. As opiniões expressas nesse artigo não refletem necessariamente o ponto de vista de TELETIME.

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