Com a iminente chegada do 5G ao Brasil, a distinção entre as redes "standalone" (SA) de quinta geração e sua versão non-standalone (NSA) deve entrar de vez no radar do mercado local, inclusive sendo um possível fator de decisão para a imposição de restrições a fornecedores. Ao lado das principais fornecedoras de tecnologia do setor, TELETIME listou as principais diferenças entre as duas arquiteturas de rede.
"Uma rede 5G não-standalone permite a disponibilização mais rápida do 5G, já que o que acontece é a reutilização da rede de core 4G. Em uma arquitetura 5G de tipo standalone, não há dependência alguma do 4G", explicou o diretor de soluções da Nokia para América Latina, Wilson Cardoso.
O core (ou núcleo) que concentra a capacidade computacional e de gerenciamento das redes e serviços de telecom, em oposição aos elementos de acesso (ou RAN), que distribuem o sinal para o consumidor final através das estações radiobase.
Diretor de operações da Cisco, Junot Pitangue notou que hoje, "90% ou mais" dos anúncios globais de ativação 5G se referem, na verdade, a redes 5G NSA – ou seja, ainda baseadas no core 4G. A situação tornaria a solução em uma espécie de "fase 1" da tecnologia de quinta geração, mas não garantiria todo o potencial vislumbrado pela indústria.
Velocidades
Diretor de soluções da Huawei, Carlos Roseiro pontua que, de forma geral, o grande benefício do 5G se divide em três pontos: taxas de transferência de dados (throughput) até 20 maiores que as atuais, latências mais baixas (de 50 ms para 5 ms) e maior densidade de acessos por km².
Dos três aspectos, o 5G non-standalone só endereça completamente o primeiro. "O NSA tem como principal benefício o aumento das velocidades. Claro que também vai trabalhar um pouco a questão da latência, mas não é o foco", sinalizou Roseiro.
Por outro lado, o VP de redes da Ericsson para o Cone Sul da América Latina, Marcos Scheffer, nota que as redes 5G NSA são mais rapidamente implementáveis, pois podem contar com a estrutura existente nas redes 4G. O executivo também pontua que mais importante que a arquitetura standalone ou non-standalone é a capacidade espectral de cada uma.
"Uma rede 5G SA com 50MHz de espectro terá um desempenho pior que uma rede 4G com 100MHz de espectro alocado. Neste sentido, enquanto as operadoras não conseguirem disponibilizar spectrum suficiente para alocação do 5G SA, o 5G NSA é uma boa alternativa".
B2B
Apesar da arquitetura 5G SA não depender teoricamente das redes já em operação, a avaliação das fontes ouvidas por TELETIME é que, salvo em projetos greenfield (totalmente novos), as operadoras não devem construir uma nova infraestrutura completamente apartada das redes 4G existentes.
"O mais comum, até para preservar o investimento já feito, é expandir a capacidade da rede com antenas 5G NR onde também já existam antenas 4G instaladas", afirmou Pitangue, da Cisco.
A situação pode ser distinta no caso de redes exclusivas para clientes corporativos, nota o diretor de desenvolvimento de negócios da Qualcomm, Helio Oyama. "O SA será importante para redes privadas, até porque elas não vão precisar de âncoras em frequências já usadas", afirmou ele. Oyama também lembrou que a Anatel estuda alocação de espectro específica para o uso privativo.
Neste sentido, os especialistas notam que um dos grandes benefícios do core 5G é a possibilidade de realizar o network slicing (ou fatiamento de rede) para clientes B2B. Com o recurso, um nível de serviço diferenciado pode ser oferecido para atender funções críticas e muito sensíveis à latência. Entre elas, novas aplicações para smart cities, controle de carros autônomos ou cirurgias remotas.
"A mudança no nível do core pode não ter grande diferença para o usuário final, mas terá para os clientes industriais", destacou Roseiro, da Huawei. Já Oyama, da Qualcomm, lembrou que uma vez instalado o core 5G, o serviço de voz tradicional também pode ser transformado, uma vez que com a opção, a voz sobre rede 5G (ou VoNR) poderá ser ofertada, a exemplo do que já ocorre com o VoLTE no 4G.