A Oi divulgou na noite desta quinta-feira, 10, os resultados financeiros da empresa no segundo trimestre de 2023. Mais uma vez, a companhia teve crescimento em negócios estratégicos como banda larga fibra óptica e corporativo (B2B), o que não impediu prejuízo de R$ 845 milhões, impactado por despesas financeiras.
No todo, o grupo somou R$ 2,434 bilhões de receitas (-11,2% em um ano). A queda nas receitas se deve à aceleração das perdas na telefonia fixa. Na delimitação da chamada Nova Oi – que exclui a operação de DTH, à venda -, a queda foi menor: -3,1% (R$ 2,168 bilhões). Já se excluídas também as operações legadas e contabilizados somente negócios estratégicos, houve alta de 10,5% no faturamento, para R$ 1,918 bilhão.
Este grupo reúne a Oi Fibra, a Oi Soluções e subsidiárias como a Serede. No caso da primeira, foi gerado R$ 1,1 bilhão em receitas, alta de 15,3% em um ano. A base de clientes da fibra óptica até a residência da Oi também cresceu e atingiu 4,05 milhões de acessos, (+10%), após 60 mil adições entre abril e junho. A receita média por usuário da base de fibra foi outro elemento que avançou: 2,4%, para R$ 90,7 com a venda de pacotes com maiores velocidades.
Já no corporativo, o faturamento ficou em R$ 705 milhões, em salto de 2,8%. Neste caso, houve queda de 7,3% nas receitas dos serviços B2B de telecom, compensadas por alta de 38,4% nos negócios de tecnologia da informação e comunicação (TIC), que hoje representam 24% da vertical B2B.
Por sua vez, o chamado legado teve R$ 250 milhões de receitas, sendo R$ 186 milhões oriundos do serviço de telefonia fixa. Nos dois casos, esta linha de negócios teve redução de 50% em um ano. Entre as subsidiárias, R$ 109 milhões em receitas foram contabilizadas (+19%). E o DTH à venda apurou outros R$ 267 milhões, em queda de 14,6% (já o passivo referente aos contratos de satélites teve despesa total de R$136 milhões no trimestre).
"Registramos avanço nos nossos principais indicadores tanto em fibra como no B2B e vemos que seguimos nossa tendência de crescimento, segmentando as ofertas de fibra com preços competitivos […]. Isso nos ajuda a compensar quase que totalmente o grande impacto causado pela continuada e acentuada queda das receitas baseadas no STFC, que como temos dito, precisa ser equacionado como parte dos esforços de solução da concessão. É importante também ressaltar que mantivemos nossa disciplina financeira, fazendo ajustes finos e ampliando nossa eficiência tanto no lado dos custos operacionais como nos investimentos", destacou o CEO da companhia, Rodrigo Abreu. A retenção de pagamentos pelo processo da recuperação judicial também contribuiu com os números.
Financeiro
O Ebitda de rotina do grupo no Brasil ficou em R$ 129 milhões, redução de 66% em um ano. Com efeito de R$ 308 milhões em depreciação e amortização e R$ 565 milhões de despesas financeiras, chega-se ao resultado líquido negativo de R$ 845 milhões no trimestre. No semestre, a Oi acumula R$ 2,112 bilhões em prejuízo contábil.
Vale notar, contudo, que as despesas financeiras do grupo recuaram no período entre abril e junho, com menor pagamento de juros após pagamentos de compromissos com recursos de venda de ativos.
Outras linhas que apresentaram redução foram custos e investimentos. No primeiro caso, houve queda de 2,1% em um ano, para R$ 2,306 bilhões. Ocorreu retração em elementos importantes, como serviços de terceiros e pessoal (menos 18% e 2,1%, na ordem), ao passo que a categoria aluguéis (onde estão inclusos pagamentos pelo uso de redes neutras da V.tal) cresceu 51,8% em um ano.
No caso dos investimentos, foram R$ 263 milhões aportados no segundo trimestre, em queda de 75% amparada pela adoção do modelo operacional de utilizar a infraestrutura neutra. Do capex, 72% vai para fibra (sendo parte relevante na compra de terminais ópticos para casa de clientes, ou ONTs). Outros 14% são associados a investimentos na concessão de telefonia fixa.
Dívida
Em recuperação judicial, a Oi divulga dois valores para sua dívida bruta: a valor de face, são R$ 35,283 bilhões. Já no chamado valor justo, o endividamento bruto é de R$ 23,748 bilhões. Considerando a posição de caixa de R$ 2,55 bilhões da Oi ao fim de junho, chega-se a dívida líquida (valor justo) de R$ 21,198 bilhões, em alta de 31,5% em um ano.
O aumento de caixa é decorrência, entre outros fatores, do empréstimo emergencial de credores (financiamento DIP), cujo qual a empresa recebeu a primeira parcela de US$ 200 milhões em junho. "Este primeiro aporte reforçou nossa posição de caixa, e seguimos trabalhando para que possamos apresentar os termos definitivos de nosso plano de recuperação, em função das negociações em curso com os diversos credores", explicou Abreu. Já a variação cambial com a valorização do real atenuou o crescimento dos números (a empresa em recuperação judicial tem 67,1% da dívida em moeda estrangeira).
Análise: a pressão do tempo
A análise dos números da Oi mostra o óbvio, que já vem sido acompanhado pelo regulador com lupa: a equação caixa vs. tempo é a maior inimiga da empresa. Com reservas em um patamar baixo e um custo financeiro da dívida elevado, e a dificuldade de ampliar as receitas em função dos serviços legados declinantes, a empresa tem hoje reservas para mais um semestre, mantidas as condições atuais. Segundo apurou este noticiário, é cada vez mais crítico que a Oi consiga o acordo entre Anatel, TCU e AGU para viabilizar a migração para o modelo de autorização, tirando as amarras regulatórias (e liberando os bens reversíveis), o que viabilizaria as principais condições do plano de recuperação judicial em elaboração.
Ao que tudo indica, segundo fontes que acompanham o processo, a área técnica do TCU deve liberar até o começo da próxima semana o parecer sobre a admissibilidade da pactuação por consenso solicitada pela Anatel. Se o sinal for positivo, a Oi tem uma saída de curto prazo no horizonte. Se for negativo, é praticamente certo que a Anatel precisará decretar a intervenção na empresa para proteger a prestação do serviço de telefonia fixa, dada a deterioração de caixa da companhia. O deadline para estas definições, segundo expectativas das operadoras concorrentes, seria setembro. (Análise de Samuel Possebon)