"E essa coisa da Internet? O que é isso exatamente?" perguntou David Letterman, o apresentador de do programa Late Show, para Bill Gates, da Microsoft. "Bem, tornou-se um lugar onde as pessoas publicam informações. Assim, todos podem ter sua página, as empresas estão ali, além das informações mais recentes. É uma loucura o que está acontecendo… você pode enviar e-mail para as pessoas! É a grande novidade", respondeu Gates a um cético Letterman, que não entendia por que as pessoas preferiam ouvir um jogo de beisebol em seus computadores quando podiam fazer a mesma coisa no rádio.
Essa conversa aconteceu em 1995 durante uma entrevista que – ironicamente para Letterman – agora pode ser vista no YouTube. Agora que todos reconhecemos que a Internet é uma necessidade em nossa rotina, esse vídeo parece cômico, mas é uma prova daquilo que acontece quando os visionários falam pela primeira vez sobre inovações revolucionárias. Como sabemos agora, a Internet transformou quem somos e como trabalhamos como sociedade. Então de que maneira podemos continuar expandindo e adotando novas tecnologias para nos levar à próxima grande invenção?
Vinte e sete anos depois da conversa de Letterman com Gates, estamos experimentando o mesmo choque tecnológico com o metaverso, pois ainda estamos tentando compreender o conceito e como ele mudará nossa sociedade de formas que ainda não podemos prever totalmente.
Provedores de serviços em todo o mundo estão preparando suas redes para suportar novas plataformas de colaboração semelhantes ao metaverso. Muitos avanços precisarão ser implementados, como redes 5G e data centers mais próximos dos usuários, reformulando a arquitetura da rede metropolitana e usando automação e a inteligência artificial para gerenciar essas redes.
Na América Latina, o metaverso já conquistou os usuários em potencial. De acordo com uma pesquisa de 2022 realizada pela Ciena no Brasil, México e Colômbia, mais de 90% dos trabalhadores nesses países preferem participar de reuniões no metaverso do que usar as ferramentas atuais de videoconferência, e 81% podem imaginar seus locais de trabalho introduzindo ferramentas de realidade virtual nos próximos anos.
Um dos aspectos mais impressionantes dos resultados da região é que, em comparação com outros lugares do mundo, os latino-americanos estão mais dispostos a usar novas plataformas imersivas como o metaverso para atividades diárias como trabalhar, assistir aulas e até socializar. De acordo com os resultados, mais de 50% dos trabalhadores também acham que é mais fácil colaborar usando plataformas virtuais do que pessoalmente, e 81% podem imaginar seu local de trabalho introduzindo ferramentas de realidade virtual, como óculos AR e VR. Tudo isso indica que os latino-americanos têm um apetite grande por novas plataformas como o metaverso.
A jornada para latências mais baixas
Para satisfazer a vontade pelo metaverso na região, os provedores de serviços estão fazendo os investimentos necessários para atualizar a infraestrutura de rede. Para que ele se torne uma realidade generalizada, um fator chave é atingir uma latência, que é o tempo que o sinal leva para viajar de um lugar para outro, excepcionalmente baixa na rede.
Hoje, a borda da rede está se aproximando do usuário final, o que, por fim, minimiza as velocidades de latência e aumenta a confiabilidade. Com latências mais baixas, os usuários poderão experimentar uma experiência virtual mais realista. Por exemplo, se eles mexerem a mão na vida real, seu cérebro não perceberá qualquer atraso, fazendo com que se sintam realmente dentro de um mundo virtual.
Essas novidades são fundamentais para responder à demanda esperada em torno de novas plataformas imersivas como o metaverso. Em estudos como o da Ciena na América Latina, seis em cada dez trabalhadores da região considerariam trabalhar nesse ambiente virtual. Muitos outros usariam um mundo virtual para fazer compras ou participar de jogos.
É por isso que as indústrias estão acelerando os desenvolvimentos de rede na região. Segundo a TeleGeography, nos últimos quatro anos, mais de dezenove sistemas de cabos submarinos chegaram à região na tentativa de manter uma taxa composta de crescimento anual de 30% da largura de banda internacional. Além disso, pelo menos mais três cabos deverão estar em operação antes de 2024.
Em todo o continente – impulsionados por hiper escaladores e provedores de conteúdo – também estamos vendo mais data centers sendo construídos mais próximos a borda, o que permitirá latências menores do que nunca. Outro ponto importante é que aplicações imersivas como o metaverso também contarão com o 5G, que vai acelerar na região graças às ações que muitos governos estão tomando para garantir maior cobertura, além de projetos realizados pelo setor privado.
Dito isso tudo, apenas assistir e ouvir jogos de beisebol da maneira tradicional ou usar as atuais ferramentas como videoconferência logo serão coisas do passado. Agora estamos entrando em um momento em que os usuários podem aproveitar esses novos espaços virtuais para se sentirem como se estivessem no estádio de seu time favorito ou na sala com colegas que trabalham em todo o mundo. Estamos prestes a experimentar um novo choque tecnológico para o mundo; assim como o que Letterman experimentou em 1995 com o conceito de Internet que ainda estava engatinhando. Novas plataformas imersivas estão chegando e os latino-americanos estão ansiosos para adotá-lo no trabalho e em suas vidas cotidianas.
* Fabio Medina é vice-presidente e gerente geral da Ciena América Latina. As opiniões expressas nesse artigo não necessariamente refletem o ponto de vista de TELETIME.