Nos próximos dois anos, o Brasil terá uma série de projetos de cabos submarinos saindo do papel, diversificando rotas para além dos Estados Unidos. Ao menos seis sistemas estão previstos até 2018, como o Júnior, cabo do Google para ligar Rio a São Paulo; o Seabras-1, da Seaborn Networks e que ligará São Paulo a Nova York; o BRUSA, rota da Telefónica (e sua subsidiária Telxius) que ligará Brasil aos EUA (passando por Porto Rico); e o cabo Brasil-Europa, da joint-venture Ellalink, a empresa formada pela Telebras e pela espanhola Islalink . A movimentação indica que há uma demanda de tráfego de dados crescente tanto de outros países para o Brasil quanto na outra direção, mesmo em época de crise econômica.
Em duas das iniciativas que estão tomando forma, o cabo Monet, que ligará o Brasil (Santos e Fortaleza) aos Estados Unidos (Boca Ratón, Flórida), e o South Atlantic Cable System (SACS), que ligará Fortaleza a Luanda, há em comum uma empresa por trás dos projetos: a Angola Cables, que reúne os cinco principais operadores de telecomunicação angolanos. No caso do sistema Monet, é em parceria com Google, Antel (Uruguai) e Algar Telecom.
Segundo revelou a este noticiário o CEO da Angola Cables, António Nunes, o projeto do SACS se interligará ao Monet para transmitir dados de Fortaleza para São Paulo e para os Estados Unidos. O investimento recentemente anunciado, de US$ 100 milhões, virá do Banco do Japão para Cooperação Internacional (JBIC, na sigla em inglês), enquanto o Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA) cobrirá os US$ 60 milhões restantes previstos apenas para esse sistema. Ao todo, incluindo o data center na capital cearense, landing stations e o par de fibras no Monet, a companhia investirá US$ 300 milhões.
Nunes garante que o momento de crise macroeconômica, tanto no Brasil quanto em Angola, não impede a aposta na infraestrutura submarina. "Não há mal que dure para sempre", acredita. "A expectativa é grande, se não, não construiríamos; é um investimentos que fazemos com retorno relativamente curto", avalia. Na visão dele, a demanda por dados ainda crescerá muito, especialmente pela importância do País na América do Sul e pelo crescimento da própria Internet na África. "O que estamos fazendo é criar uma ponte, a África é um potencial mercado do futuro, o último grande foco (de crescimento). A ideia de fazer um cabo com os dois (países) é de garantir o futuro." Assim, afirma, haverá um crescimento na economia digital brasileira, que poderá disponibilizar conteúdo para países africanos.
O executivo destaca ainda que os cabos têm previsão de funcionamento de pelo menos 25 anos, o que mostra que são iniciativas de longo prazo. O SACS deverá ser lançado comercialmente em 2018, enquanto o Monet tem previsão para entrar em operação entre o final deste ano e primeiro semestre de 2017.
Espaço para todo mundo
Para quem já está no mercado, a concorrência com as novas rotas não terá grande impacto nos negócios, na opinião do presidente da Level 3 Brasil, Marcos Malfatti. A companhia conta com a rota de 15 mil km do SAC, sistema herdado da Global Crossing e que foi lançado em 2001. O cabo interliga principais países das Américas, incluindo Brasil e Estados Unidos. "Antes, o mercado era muito limitado, com pouca oferta e custo altíssimo", lembra. "Hoje há espaço e demanda (para mais players), mas não acho que vá baratear (o preço dos dados trafegados nos cabos submarinos) porque toda a infraestrutura tem um custo elevado de instalação, de manutenção e de equipamentos", declara. Segundo Malfatti, cada um desses três elementos consome cerca de um terço do custo total dos sistemas submarinos.
O executivo cita como exemplo uma operação de conserto do cabo no Brasil em 2013, operação que custou US$ 6 milhões e levou 29 dias para ser realizada. "Não é barato, tudo isso tem um custo", declara. "Mas tem demanda, e o mundo está ficando pequeno, com grandes empresas de tecnologia que estão basicamente em fibra", justifica.