Encontrar um ponto de equilíbrio de receitas e investimento em conteúdo é hoje a maior dificuldade dos streamings. "Ninguém está operando no streaming com alta rentabilidade. Se não está no vermelho, tem margem perto de zero", disse Erick Bretas, diretor de Produtos Digitais e Canais Pagos da Globo, em participação gravada para o Pay-TV Forum 2022.
De acordo com o executivo, a estratégia na Globo tem sido a de "dividir a conta" ao rentabilizar em várias janelas. "Temos a virtude de ter TV aberta, TV paga e streaming. Dividimos a conta entre as diversas janelas. Já estávamos fazendo isso entre Globoplay e TV Globo e agora levamos para Globoplay e os canais pagos", diz.
Além disso, outra estratégia é exportar o conteúdo: "mais do que nuca, fazer o conteúdo viajar". "Até concorrentes nossos no Brasil, podem levar o conteúdo para outros territórios", diz.
Para Bretas, o aquecimento da demanda por conteúdo nacional por parte das plataformas de streaming levou a um aumento artificial de preço. De acordo com o executivo, se trata de um reflexo da demanda, mas sem um investimento em contrapartida na infraestrutura. "O aumento de preço sem lastro é o que caracteriza uma bolha. Quando ela estoura, não é bom", diz. A tendência é que os players comecem a olhar os planos de investimento "com um pouco mais de realismo".
Futuro da TV paga
Sobre o futuro dos serviços por assinatura, o diretor de Produtos Digitais e Canais Pagos da Globo diz que passa, principalmente na TV paga tradicional, por algum grau de unbundling. O bolso do consumidor tem um limite e, para muitos, não haverá a possibilidade de juntar numa cesta meia dúzia de serviços de streaming. E a TV paga tem condições de responder a este público. ´"É importante que a TV paga reaja com ofertas compactas, o que já está acontecendo com as MVPDS (as operadoras virtuais) já são assim: ofertas mais magras e mais competitivas financeiramente".
A aposta na continuidade do serviço mais tradicional de TV paga reflete também a crença na longevidade dos canais lineares. Para o executivo, os canais lineares terão uma vida longa, sobretudo com esportes, jornalismo e eventos musicais, mas também com programas gravados que geram uma conversa social, como as novelas. "Em torno destes conteúdos, você constrói um grade linear", diz. "São como um carro-chefe que puxa os outros vagões", completa.
A programação perdurará e se reinventará, mas nem tudo continuará sendo consumido numa grade linear. "Canais de filmes e séries tem desafio maior (para se manter no linear) do que os de jornalismo e esportes", diz.
Bretas conta ainda que a estratégia da empresa é seguir com as parcerias como market place, sem concorrer com seus parceiros tradicionais de distribuição. "Buscamos a complementariedade. Alguns serviços complementam com o que não temos. O Disney+ é complementar – produz conteúdos que a Globo não produz e não tem intenção de produzir", exemplifica.
Também não serão descartadas parcerias com plataformas que até podem ser concorrentes, mas, em busca da distribuição que a Globo tem, ofereçam condições interessantes. "Seguimos buscando novas parcerias, mas não com a lógica da operadora, para quem quanto mais parceiros melhor. Para nós, a lógica é a do complemento".