Na estratégia colocada em curso para aumentar as receitas com novos serviços, a Vivo está preparando um pedido de licença ao Banco Central (BC) para atuar como Sociedade de Crédito Direto (SCD). O anúncio foi feito pelo CEO da Vivo, Christian Gebara, durante o Vivo Day nesta terça-feira, 5.
"Esse pedido nos dá uma flexibilidade maior de poder oferecer outros serviços de crédito que hoje a gente não consegue com uma licença IP [de Instituição de Pagamento], ou com o aluguel de uma licença de um outro parceiro. Isso pode existir para gente não só aumentar o portfólio, como reduzir alguns custos", afirma Gebara.
De acordo com o executivo, o movimento acontece quando um grande volume de clientes utilizam serviços financeiros por meio da tele. "Para operar em alguns desses serviços, hoje eu alugo a capacidade ou a licença de outros. Quando o meu volume crescer, vai justificar eu ter essas capacidades internas", diz o executivo.
O CEO diz que a operadora não passará a ser um banco, mas terá condições de atender os usuários de forma mais assertiva por conta dos dados disponíveis em sua base. A partir da data do pedido, o BC tem o prazo de 12 meses para dar uma resposta.
"A gente tem em uma base de clientes que, muitas vezes, alguns não são nem bancarizados, mas têm um relacionamento com a Vivo. A gente conhece esse cliente: ele paga uma fatura, tem relacionamento e está conectado à nossa rede. Então nós temos, talvez, capacidade de aprovar o crédito dele melhor que outras instituições que muitas vezes não enxergam por falta de dados", afirma Gebara.
O que muda com uma SCD?
A característica principal de uma SCD é justamente a oferta de operações de crédito, em plataforma eletrônica, com recursos próprios. É diferente de uma IP (Instituição de Pagamento), que pode fornecer serviços de movimentação de compra e venda de recursos financeiros, mas não tem como conceder empréstimos e financiamentos aos clientes, por exemplo.
Além disso, as SCDs estão habilitadas a fazerem análise de crédito, cobrança de terceiros, distribuição de seguro para as operações e emissão de moeda eletrônica. Hoje, a Vivo utiliza a licença de um parceiro, a Qitech, com a gestão feita pela Polígono Capital, que tem como sócio o BTG Pactual e a Prisma Capital.
No ano passado, as receitas com novos negócios, entre fintechs, entretenimento, eletrônicos (sem considerar smartphones), serviços financeiros, seguros e saúde, somaram R$ 1,3 bilhão, crescimento de 40% sobre 2022. Essa vertical resultou em uma receita adicional para a companhia da ordem de R$ 380 milhões e terminou 2023 com 4 milhões de assinantes, representando 3% das receitas totais da empresa.
Já na parte de fintech, especificamente, a Vivo apurou alta de 36% nas receitas, para R$ 403 milhões. Entre os produtos, o empréstimo pessoal fechou com receita de R$ 100 milhões e 55 mil contratações de crédito. Hoje, a carteira é de R$ 358 milhões.
Em seguro de celular, o produto contabilizou 500 mil smartphones segurados, sendo que um a cada cinco dispositivos vendidos já saem com seguro das lojas. No ano, a companhia teve, também, 214 mil cartões emitidos em parceria com o Itaú, com 20% de penetração na venda de smartphones em lojas próprias.
Produtos na mira
Segundo o VP de estratégia e novos negócios da Vivo, Ricardo Hobbs, a licença de SCD vai permitir com que a tele possa ter flexibilidade de desenvolver produtos de crédito, sem tantos agentes na cadeia e com melhor margem.
Sobre os produtos no pipeline da empresa estão crédito com garantia, consignado, o saque FGTS e mesmo o Pix parcelado, que oferece a facilidade de pagamento para pequenas compras rápidas feitas pelos clientes. O perfil desse usuário são consumidores na base da pirâmide social.
"São todos os clientes da base. Tipicamente, nós começamos por aquele cliente que talvez não tenha um acesso característico ao mercado financeiro, por falta de positivação nos scores tradicionais, mas a gente evoluiu e entendeu, também, que outros clientes têm um apetite a isso [crédito]", diz Hobbs. "Então eu diria que é um portfólio diversificado, desde a base do [Plano] Controle até à base do pós-pago da Vivo."
Além dos já mencionados, a tele ainda poderá atuar com consórcios, crédito colateralizado e Buy Now, Pay Later (BNPL). Parte da estratégia para chegar ao usuário final na ponta será por meio do seu aplicativo, o App Vivo, que alcançou 22 milhões de usuários únicos em dezembro e está sendo relançado com uma interface mais intuitiva, mostrando as ofertas dos diversos serviços ofertados pela operadora e por parceiros.