Datora vê mercado de Internet das Coisas em alta e mira redes privativas

Tomas Fuchs, CEO da Datora

A Datora está ampliando sua aposta em Internet das Coisas (IoT) e vê um mercado aquecido no segmento, apesar dos desafios ainda enfrentados no Brasil. A adoção de redes privativas – inclusive por empresas de médio e pequeno porte – e a continuidade das transformações no mercado de voz fixa são outras apostas da empresa.

Em entrevista ao TELETIME, o CEO da operadora, Tomas Fuchs, revelou que o negócio de Internet das Coisas foi o que mais cresceu dentro da Datora em 2023. "Estamos muito focados nesse segmento. Temos a parte de voz, que também cresceu, mas IoT está crescendo muito", observou.

Segundo Fuchs, além das áreas de rastreamento e de máquinas de pagamentos – de certa forma consolidadas como maiores usuárias de IoT do País -, têm se destacado como verticais maduras o mercado financeiro e o segmento de segurança (neste caso, com a conexão de câmeras, alarmes e equipamentos do gênero). Outra expectativa do executivo é que projetos de novas áreas – como a indústria 4.0 – saiam efetivamente do papel.

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No caso do rastreamento veicular, a empresa também está colhendo benefícios da aquisição da STC Tecnologia, celebrada no meio do ano passado. A integração da adquirida foi concluída em dezembro. O negócio é considerado estratégico, por somar equipamentos à proposta de valor IoT para o segmento.

Assim, a Datora espera adicionar em 2024 mais 100 mil veículos rastreados a partir do movimento, o que levaria a base da empresa para perto dos 400 mil veículos. Fuchs estima que hoje, menos 15% dos veículos brasileiros (contando carros e motos) contem com o rastreamento, indicando grande mercado potencial a ser explorado.

Em paralelo, outras aquisições são consideradas pela empresa, não apenas no Brasil, mas também para internacionalização em outros mercados da América Latina.

Desafios

O mercado de IoT, contudo, não alcançou ainda a dimensão projetada para o segmento há alguns anos. "Ele não evoluiu tanto quanto poderia ter evoluído. A conjuntura geral talvez não tenha contribuído", reconheceu Fuchs.

A situação afetou projetos na indústria e também no segmento de cidades inteligentes, por exemplo. Um fator que limitou o potencial – especialmente no caso do uso do IoT no agronegócio – foi o insucesso na criação de um quarto player de conectividade nacional (algo evidenciado pela devolução da faixa de 700 MHz da Winity).

"O agro sofre com falta de conectividade, então a gente esperava esse quarto player atendendo IoT e pessoas físicas, mas ele não veio", apontou o CEO da Datora. Fuchs lamentou que o 700 MHz leiloado em 2021 já esteja há mais de dois anos sem uso, desde a compra da faixa pela Winity. Ele também aponta que ainda demorará algum tempo até que a faixa volte ao mercado.

Redes privativas

Por outro lado, o momento também seria propício para evoluções no mercado de telecom. A Datora vê um potencial promissor para projetos de redes privativas em setores como agro, indústria, portos e mineração, além de uma maior presença da solução no middle market.

"Fizemos grandes investimentos no nosso core 5G e estamos preparados para redes privativas de 4G e 5G. Vamos colher resultados em 2024-2026", avaliou Tomas Fuchs. "A gente também entende que esse mercado vai entrar no médio e pequeno porte e vai crescer bastante para empresas de nicho", apontou.

A Datora já trabalha em iniciativas do gênero, como projeto que a operadora atua na fazenda Macuco, no Mato Grosso. A empresa utiliza espectro de uso secundário para atender o case no agro e também entende que seria interessante poder estender a conectividade fornecida na fazenda para cerca de 300 famílias da população local dos arredores. A licença de SLP do projeto, contudo, ainda não permite tal evolução.

Neste sentido, Fuchs avaliou como positiva a abordagem proposta pela Anatel para o novo Regulamento de Uso de Espectro (RUE). Em paralelo, o executivo – que também faz parte da diretoria da TelComp – citou o Plano Geral de Metas da Competição (PGMC) como pauta que o segmento de provedores acompanha com maior ansiedade. "O novo PGMC deve mudar muita coisa e afetar o mercado inteiro", observou.

2G e 3G

Outra discussão que a Datora tem acompanhado é a sobre o desligamento das redes 2G e 3G no Brasil. A empresa já vê clientes se movimentando para a migração de dispositivos de IoT para a tecnologia 4G diante dos desdobramentos mais recentes no tema, embora destaque que o processo será complexo.

Fuchs aponta que se o 3G já está em declínio há algum tempo, o 2G ainda surge como uma solução tecnicamente excelente e com cerca de 30 milhões de conexões, entre devices de IoT e pessoas físicas. A substituição deste parque por dispositivos 4G exigiria um investimento bilionário, que precisaria ser gradual.

"Mas também tem a questão das frequências, que são muito importantes para o mercado e para todos que são clientes. Acredito que a migração vai ser super importante, ela só não pode acontecer em um ano", apontou Fuchs. Um prazo de cinco anos também poderia não ser o ideal, levando a sugestão da Datora para uma migração em quem sabe três anos.

"O custo do chipset do 4G é mais caro, mas é importante que elas [as empresas usuárias] comecem a trabalhar nisso", completou. Neste mercado de IoT, a chegada das redes 5G ainda não causou grandes mudanças, avalia o empresário.

Por outro lado, a Datora já tem incluído o 5G em ofertas de operadoras móveis virtuais (MVNO) credenciadas, oferecidas aos provedores regionais clientes. Além do interesse na nova tecnologia, a empresa também vê mais operadoras locais interessadas em soluções de MVNO, como forma de diferenciação em um cenário competitivo mais acirrado.

Telefonia fixa

A telefonia fixa é outro mercado onde transformações são esperadas, sobretudo no setor corporativo. A Datora recordou ser uma das empresas com saldo positivo de portabilidades no segmento em 2023, mesmo com o declínio da vertical como um todo. A razão é a migração de tecnologias.

"Muitas empresas têm PABX antigo, e vemos migração natural para aplicações na nuvem. O número telefônico vai continuar servindo como uma identidade, mas a telefonia fixa tradicional não vai seguir", apontou Fuchs. Na conversa com TELETIME, o executivo também destacou o amplo leque de mudanças atravessado pela empresa – e pela indústria – nas últimas décadas.

Em 2023, a Datora completou 30 anos de trajetória. A empresa nasceu como uma escola de informática e migrou para o setor de telecom e voz em 1996, ou antes da privatização do sistema Telebras e da Internet comercial como realidade no Brasil. "Era um outro mundo, mas passamos por todas as mudanças regulatórias e tecnológicas".

Para o futuro, Fuchs projeta ascendência ainda maior das tecnologias móveis como 6G e 5G ("ainda não vimos 1% do que vai ser construído sobre o 5G nos próximos anos"), além de universalidade na cobertura de fibra e de novas linhas de negócios em telecom, baseadas em Internet das Coisas e inteligência artificial.

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