Os problemas no desenvolvimento do projeto Gesac não foram inicialmente verificados pelo Ministério das Comunicações, mas pela própria CGU (Controladoria Geral da União), diz o ministro das Comunicações, Hélio Costa. Em relação à gestão de 2004, foi detectada ?além de outras desconformidades com o contrato (do serviço), que cerca de 30% das unidades visitadas não provêem acesso à internet, embora haja o pagamento mensal de R$ 952,64 por cada um dessas unidades, as quais comportam até dez computadores com conexão à internet?. Há ainda outros problemas identificados nos relatórios da CGU que dizem respeito à falta de acompanhamento do programa por parte do próprio Ministério das Comunicações.
Há denúncias, por exemplo, de não funcionamento dos pontos em algumas escolas (70% dos pontos do Gesac são operados em convênio com o Ministério da Educação), onde se "cobra" R$ 1,00 de cada aluno por hora de acesso à internet feita através do Gesac, porque "os alunos não têm este dinheiro para pagar o serviço."
Indignação
O ministro se mostrou indignado com a falta de supervisão do programa Gesac por parte do seu próprio ministério, mas também dos parceiros dos outros ministérios. Na opinião de Roberto Pinto Martins, secretário de serviços de telecomunicações do Minicom, este descontrole é resultado do desconhecimento por parte dos parceiros do custo do acesso: ?Eu acho que eles pensam que isso é grátis e daí não dão importância.? Certamente para valorizar a prestação do serviço, o ministro Costa pretende discutir a transferência da responsabilidade pelo pagamento do serviço para os parceiros. Em substituição a Antônio Albuquerque, diretor do Gesac exonerado na semana passada, o ministro está convidando um funcionário do Banco do Brasil, que foi responsável pela implantação do Internet banking do BB, para dirigir o Gesac: Eliomar Medeiros de Lima. Além disso, será firmado um contrato com os Correios para fazer o monitoramento permanente do funcionamento do programa.
O ministro tem reclamado da instalação de pontos do Gesac em áreas onde poderia ser utilizado um outro sistema de acesso mais barato, como a maioria dos mais de 400 pontos instalados no Estado de São Paulo. Segundo ele, o próprio presidente Lula ficou muito surpreso com a concentração de pontos do serviço em grandes cidades do interior paulista. Costa disse suspeitar que isso aconteceu por razões políticas: ?Quando cheguei no ministério, recebi uma cobrança de três pontos de Gesac para Duque de Caxias, no Estado do Rio, que haviam sido ?prometidos? para determinado político. Perguntei se não havia TV a cabo por perto e que eu não ia pagar quase mil reais por um serviço que poderia custar R$ 70,00. E não instalamos.?
O ministro não ignora, porém, que um acesso de 2 Mbps, como o provido pelo Gesac, não custa apenas este valor em uma operadora de TV a cabo ou pelo ADSL de uma empresa de telefonia. De qualquer forma, o que ele pretende é ter um sistema misto que use os recursos mais baratos disponíveis, reservando o satélite para as localidades onde ou acesso seja impossível, ou ainda maximizar o acesso a um ponto Gesac em 2 Mbps com a utilização da tecnologia WiMax ou PLC, como tem defendido.
"Aperto" e MMDS
Costa conheceu no último final de semana o experimento que vem sendo feito na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) com o sistema "Aperto", que permite acessos sem fio de 128 kbps até a 40 quilômetros de distância, a um custo de R$ 35 mil a torre central (que ficaria conectada ao satélite do Gesac) e R$ 4 mil em cada ponto dentro desta área. Além disto, o ministro pretende conhecer as experiências de utilização da faixa de MMDS para transmissão de dados que vêm sendo realizadas pelo grupo Abril, segundo o ministro.
Na verdade, a Abril é, em conjunto com os demais associados da Neotec (associação dos MMDS), uma das desenvolvedoras de testes para acesso a dados por redes de MMDS, ainda que a TVA ocupe, sem dúvida, papel de liderança no processo. ?Eu acho que colocando o MMDS na ponta do Gesac, podemos multiplicar enormemente o acesso".