A virada para o 5G tem movimentado operadoras e fornecedores, e uma vertente importante de negócios começa a se desenhar: a figura do integrador de negócios e soluções. A NEC se prepara para atuar nessa frente, à medida que o 5G avance. A empresa tem soluções tradicionais de rede 5G no Japão, mas por uma questão das especificidades de espectro daquele país, a prioridade não é atuar como fornecedora de rede no Brasil. O que não quer dizer que a experiência japonesa não será útil. Ângelo Guerra, vice-presidente da empresa, explica que o 5G é muito mais do que uma simples migração de tecnologia de acesso móvel, e tem implicações que vão além das empresas de telecomunicações.
"Vemos o 5G como uma revolução muito mais ampla, que vai além da questão das velocidades e frequências. É uma transformação, um novo sistema de comunicação, que afeta várias verticais de negócio", diz o executivo. "Acredito que o modelo é de parcerias. O 5G não é só throughput, mas tem questões de backhaul, de segurança de rede, de virtualização, processamento em borda, as aplicações específicas para cada mercado… Tudo isso precisa se preparar para o 5G e isso tudo precisa ser integrado e gerido", diz, colocando-se nesse papel de "ponte entre a conectividade e os clientes". Para a NEC, a rede 5G será um serviço nesse complexo ambiente de soluções integradas.
Guerra percebe que as operadoras já iniciaram um movimento no sentido de virtualizarem suas redes e prepararem o ambiente para o 5G, mas que o mercado está aberto a novos entrantes também. Para ele, um paradigma importante será a entrada da Rakuten no mercado japonês com a rede 5G. A empresa atua apenas como MVNO hoje, mas decidiu por ter uma rede própria só 5G. "Há ainda uma evolução significativa das plataformas abertas (OpenRAN), que facilita."
Green field
A parceria da NEC com a companhia de comércio eletrônico já vinha do fornecimento da integração de BSS e OSS. Desde outubro, a Rakuten já atua como MVNO, e o plano é de lançar 5G com as faixas de 28 GHz e de 3,7 GHz no ano que vem com equipamentos de rede e solução OpenRAN da fornecedora japonesa. Para a diretora geral da divisão de soluções para provedores de serviço da NEC, Mayuko Tatewaki, o caso é especial porque a Rakuten é uma operadora "Green Field", isto é, um novo player começando do zero, enquanto as outras três teles japonesas – NTT Docomo, KDDI e Softbank – são incumbents. "Eles têm uma grande vantagem de não ter legado", declarou a executiva a este noticiário. Especialmente porque isso permite já ir se preparando para a quinta geração, como a virtualização do core e de funções de rede.
Segundo Tatewaki, não é necessário ser um novo entrante para tomar proveito da virtualização na rede no padrão aberto da OpenRAN. Basta tomar uma decisão estratégica. "Se quiser, claro que pode virtualizar, mas é uma grande mudança e um grande passo para as operadoras existentes", afirma, lembrando que haverá a necessidade de reestruturação operacional. A questão é que isso poderá ter de acontecer, cedo ou tarde. "É uma decisão que eu acho que os clientes têm de fazer. Porque realmente a briga é com o Facebook e Google. Se quiser brigar com esse pessoal de TI, então você terá de realmente ser ágil e tentar virtualizar a infraestrutura, tornando-a mais flexível".
A flexibilidade vem também na possibilidade de se trabalhar com mais de um fornecedor. Com o OpenRAN, a operadora tem a chance de escolha de parceria com um cenário multivendor. "Posso escolher determinado rádio para minha rede, mas para outra frequência, eu posso escolher este novo equipamento com a rede aberta", diz. "Não importa se tem legado ou é Green Field, [a tendência é] ir para a rede aberta."
O caso da Rakuten tem sido tratado como uma espécie de benchmark da nova abordagem de operação e infraestrutura virtualizada para possibilitar a chegada do 5G. Além do aspecto técnico, a empresa está angariando a própria base de clientes do e-commerce oferecendo preços mais competitivos, permitindo um começo completamente atípico para uma tele. Tatewaki analisa que a indústria está "observando atentamente" os resultados da operadora no mercado japonês, bem como se a estratégia é efetiva. Em todo caso, a NEC também trabalha com as outras teles tradicionais naquele país, incluindo em 5G: a fornecedora já testava a tecnologia com a NTT Docomo em meados de 2013.
Perguntada se a possibilidade de virtualização de funções e de core de rede poderia ser uma forma de competir com os equipamentos chineses, Mayuko Tatewaki diz que a adoção do OpenRAN pode ser mais viável economicamente, mas tenta afastar o aspecto de competição. Contudo, ela não cita a Huawei, mas diz que é uma questão de escolha. "Se você quer depender de um único fornecedor, pode ir fundo da plataforma de TI até a rede móvel de acesso. Se quiser, pode ter a escolha entre diferente coisas alocadas abertamente", compara. "Não é sobre ir contra a China, mas é uma forma de fazer mais para novas e menores operadoras."
Parece um tipo de solução que se adequaria ao cenário brasileiro, sobretudo se considerar a presença de provedores regionais como novos entrantes no mercado móvel. Tatewaki diz que discussões com "algumas companhias" sobre a estratégia de virtualização e OpenRAN estão acontecendo no Brasil, mas ela não pode esclarecer com quem ou se são novos ou antigos players. Entretanto, afirma que o contexto é o de esperar a definição do leilão de espectro em 5G, que pode ou não acontecer ainda em 2020.