As novas políticas públicas do governo brasileiro tratam de aplicações em Indústria 4.0, mas o conceito de Sociedade 5.0 ainda parece um pouco distante da realidade local. Durante o último painel da Futurecom nesta quinta-feira, 31, especialistas de diversas indústrias de tecnologia mostraram uma tendência de humanização, inclusive na conectividade. A head global de negócios de provedores de serviços da NEC, Mayuko Tatewaki, ressaltou que o 5G já está presente em 38 redes no mundo, e que a tecnologia vai acelerar a transformação digital. Mas ressalta que a empresa tem uma visão para além da rigidez técnica. "A NEC acredita na abordagem humanizada para a tecnologia, na qual a cultura das companhias deveriam ser sustentáveis para a sociedade', declara. Ela cita as "leis da robótica" do escritor de ficção científica Isaac Asimov, afirmando que, no contexto atual, seriam questionáveis. "Elas são suficientes? A inteligência artificial se desenvolve tão rápido, e talvez os humanos precisem endereçar mais como usam a tecnologia e seguir adiante."
A diretora de estratégia e parcerias da Dutch Blockchain Coalition, Marloes Pomp, explica que a estratégia nacional holandesa tem como visão central o usuário. O governo daquele país construiu uma colaboração público-privada para um projeto nacional de blockchain, que tem uma agenda voltada a identidade digital, logística, administração de previdências, certificados e diplomas educacionais e compliance. "Na China o governo controla os seus dados, nos Estados Unidos, as companhias é que controlam. Estamos tentando construir uma tecnologia para os cidadãos deterem os próprios dados, e não o governo", afirma.
O diretor de marketing para a América do Sul da General Motors, Hermann Mahnke, explica que a fabricante de carros também está trabalhando com uma visão de futuro menos focada no automóvel, e mais nos serviços prestados aos usuários. A empresa trabalha com os pilares do zero triplo: com zero acidente, zero emissão e zero congestionamento. Para tanto, aposta em carros autônomos "já nos próximos meses" para eliminar acidentes, compartilhamento de veículos para reduzir o tráfego e automóveis elétricos (sem passar pelos modelos híbridos ainda com combustíveis fósseis) para reduzir as emissões.
Governo no centro de tudo
Essas iniciativas contrastam com a visão do governo brasileiro. O secretário de governo digital do Ministério da Economia, Cristiano Lamberti, afirmou em livre associação que todos os casos antes citados no painel tinham em comum o elemento público. "O governo é a única entidade que não é consumidora, mas está presente em todas as considerações", argumenta. Em sua fala, a ideia foi de promover a Estratégia de Transformação Digital brasileira, lançada ainda na gestão Michel Temer, em 2018. "Queremos uma economia fortemente baseada em dados, mas com segurança jurídica. Que crie novos negócios a cada dia, e que tenhamos modelos de regulação e operação em um mundo de dispositivos conectados na IoT e com o 5G gerando riqueza", analisa. Ele procurou ainda citar medidas de digitalização para até o fim do mandato, como a migração de serviços públicos para canais digitais, consolidação da presença digital (redução de 1.500 sites gov.br para apenas um "grande marketplace") e a nova identidade digital, considerada "uma das de que mais pode gerar valor econômico no mundo".