O padrão standalone (SA) do 5G exigido nas primeiras ativações do serviço nas capitais pode ser um trunfo para o Brasil e compensar o atraso de três anos para chegada da tecnologia ao País.
A avaliação foi realizada pelo diretor de rede da TIM, Marco Di Costanzo, durante evento virtual promovido nesta quarta-feira, 31. Na ocasião, Costanzo relembrou que as ativações em 3,5 GHz iniciadas no último mês de julho ocorreram três anos depois do lançamento de redes 5G em mercados como Itália, Coreia do Sul, Estados Unidos e China.
Com o intervalo, o Brasil estreou na tecnologia em cenário onde 214 redes comerciais 5G estão ativas em 84 países. Destas, 30 redes em 20 países seriam amparadas por núcleo (core) standalone, notou Costanzo.
Ao mesmo tempo, a China – líder global em número de usuários 5G – estaria vivenciando forte migração de clientes para o SA e já estaria começando a pautar o desligamento das redes non-standalone (NSA) no mercado interno, para seguir apenas com o 5G SA, aponta o diretor da TIM.
Além da fotografia mais clara do potencial da tecnologia, o relativo atraso do Brasil também teria permitido aprendizado diante da precificação de espectro em outros países. Segundo Costanzo, o preço médio de espectro em banda média na União Europeia e Reino Unido superou em 10 vezes o praticado no Brasil no leilão de 2021, onde o modelo de leilão "não arrecadatório" (baseado em compromissos de investimento) foi aplicado.
A diferença de abordagens teria impacto direto na oferta dos serviços standalone, presente em apenas seis das 100 principais operadoras europeias, e também na cobertura com espectro em banda média, entende a TIM. De acordo com Costanzo, no Velho Continente cerca de 20% da população é coberta com 5G em frequências médias, frente a 65% nos Estados Unidos e mais de 90% na Coreia do Sul.
No Brasil, o edital do 5G exige parâmetros mínimos de cobertura SA na faixa de 3,5 GHz. Nas primeiras ativações nas capitais, as operadoras têm combinado o 5G na versão mais sofisticada e estações NSA.
Corporativo
O impacto do 5G standalone no mercado corporativo também foi apontado pelo diretor de evolução tecnológica de rede da Claro, Luiz Fernando Bourdot, durante o evento virtual – promovido pela consultoria Teleco e o portal TeleSemana.
O recurso deve habilitar o chamado network slicing (ou fatiamento de rede), considerado peça importante na rentabilização de redes 5G. Segundo Bourdot, redes 4G ou 5G NSA já permitem modalidades de slicing, mas em um caráter estático. Já uma oferta dinâmica do fatiamento, com orquestração de rede e potencial de escalabilidade, só seria possível a partir de core SA.
No momento, órgãos internacionais de padronização estão trabalhando em APIs para resolver questões de orquestração e interoperabilidade na versão "dinâmica" do fatiamento de rede. Dessa forma, a previsão da Claro é que ofertas de slicing dinâmico a partir das redes 5G SA possam chegar ao mercado corporativo brasileiro a partir de 2023.