Nos programas de educação conectada, há um inegável foco no passo mais básico, que é levar a Internet às escolas. Mas, além de necessitar de outras infraestruturas (como energia, equipamentos e capacitação), é preciso se buscar a sustentabilidade para manter a conexão, e não só quando os recursos iniciais forem esvaziados. E ir além do mero fornecimento do acesso, conforme discutiram representantes da TIM, da MegaEdu e do Grupo Mulheres do Brasil no Painel Telebrasil 2022, evento que aconteceu nesta semana em Brasília.
Para criar a sustentabilidade, diz o vice-presidente institucional da TIM, Mario Girasole, deve-se criar um equilíbrio entre o mercado e os direito humano à educação. "Há vários mecanismos que geram o valor, que depois se transforma em valor para a sociedade", pontuou. "E só se consegue isso elevando o diálogo entre Estado e mercado."
Isso porque, na visão de Girasole, essa conversa está "muito fraca", e precisa ser otimizada para ir além apenas da conectividade. "Vou ser provocativo: não acredito que o Brasil viva no abismo digital. Talvez tenha que transformar um pouco em um movimento de ambição e coragem."
Na opinião da CEO da MegaEdu, Cristieni Castilhos, o momento também é oportuno. Durante a pandemia, professores e outros profissionais de educação acabaram precisando utilizar ferramentas digitais, muitas vezes pela primeira vez. "No começo, professores não sabiam fazer um link do Zoom. Hoje, o nível de habilidade digital é muito mais alto porque eles tiveram que resolver", disse. "É como a faca e o queijo na mão."
Por outro lado, há de se pensar em projetos sustentáveis para a educação. Castilhos entende que o caminho não é por meio de doação ou obrigações, como vem sendo feito. "Precisamos é de diálogo, de sentar juntos e desenhar um mecanismo que funcione para a escola e governo. Tem várias experiências disso, como em Petrolina, feito pela RNP", completa. Levantamento recente da MegaEdu estima em R$ 11 bilhões necessários para levar banda larga às escolas.
Sobretudo, a executiva defende a conectividade significativa nas escolas, e não apenas levar a Internet de qualquer qualidade para cumprir metas. "Estamos falando de escolas com entre 5 a 10 Mbps. Dá para considerar esse nível [de capacidade]?", indagou. Estudo divulgado nesta quinta-feira, 30, e que tem a MegaEdu como participante, fala em conexão de 1 Mbps por aluno.
No caso de banda larga móvel, a situação não melhora. Marise De Luca, representante do Grupo Mulheres do Brasil, entidade liderada pela empresária Luiza Helena Trajano, menciona que as classes C, D e E costumam ficar sem Internet plena (ou seja, não só acesso a aplicativos de zero rating) no final do mês por ter acabado a franquia no pré-pago. Isso porque metade da população desse segmento socioeconômico só utiliza o smartphone como meio de acesso.
"Acreditamos que a sociedade civil organizada é quem vai ajudar a trazer as mudanças sustentáveis", comentou. "Trabalhamos com todos os governos e todas as esferas."