É crescente o clima de desconforto das concessionárias de telecomunicações em relação ao Plano Geral de Metas de Universalização (PGMU III), atualmente em consulta pública. A sutil referência ao tema feita pelo presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco, durante palestra na Futurecom, é um bom termômetro. Falco lembrou que a rede do STFC, que cobre 100% do Brasil, "é fruto dos ativos e recursos da privatização e é bem reversível", mas enfatizou também que "o backhaul e a rede de banda larga foram construídas com recursos privados". Foi uma referência breve, mas sintomática ao problema. Depois do painel, em conversa com os jornalistas, perguntado se ele temia que a Anatel possa considerar o backhaul uma rede pública, e portanto reversível a união, Falco foi ríspido: "só se ela (Anatel) comprar".
O desconforto decorre das novas interpretações que estão sendo dadas pelas empresas ao PGMU III em função das informações passadas pela Anatel nas reuniões realizadas nas últimas semanas. Uma dessas interpretações é a de que a agência estaria entendendo, por exemplo, que com o novo PGMU toda a rede hoje utilizada pelo serviço de comunicação multimídia (SCM) seria incorporada à rede do STFC, tornando-se portanto pública e reversível. Segundo apurou este noticiário, essa é a leitura feita por pelo menos duas concessionárias que falaram com a Anatel.
Note-se que esta não era a interpretação que a Anatel manifestava à imprensa logo que anunciou a consulta pública. Na ocasião, a agência esclareceu que backhaul era tão somente a infraestrutura de rede entre o backbone e a rede de acesso e não incluia portas IP e a prestação do serviço de dados. Além disso, explicou a Anatel, a porção pública seria a correspondente à capacidade necessária ao SFTC e ao previsto no Plano Geral de Metas de Universalização. A Anatel foi, inclusive, específica ao dizer que caso houvesse demanda de mercado superior à capacidade prevista no backhaul público, essa demanda seria atendida de forma privada, sem tarifação e sem obrigações de atendimento.
O grande receio das concessionárias é que a Anatel esteja tentando transformar a rede privada, utilizada para a oferta dos serviços de banda larga, em uma rede pública e reversível. Para a Oi, a situação é obviamente mais crítica, pelas dimensões da rede e pelo impacto financeiro das metas de backhaul.