Para o presidente da Claro, José Felix, o mercado de produção e distribuição de conteúdo precisa encontrar um novo modelo de negócio que remunere todos os elos e atenda a demanda do consumidor por baixo custo. Segundo ele, a estratégia atual dos produtores de conteúdo colocou em xeque o modelo da TV por assinatura tradicional.
"É fácil ser engenheiro de obra pronta, mas sabemos que o modelo de TV por assinatura foi enterrado pelos produtores de conteúdo em busca de um modelo que acaba com um intermediário", disse o principal executivo da maior operadora de TV paga do Brasil no PAYTV Forum, realizado nos dias 22 e 23 por TELA VIVA e TELETIME. "A TV por assinatura lá de trás não existe mais. Neste ano deve perder 2 milhões de assinantes. A representatividade da TV por assinatura na Claro caiu pela metade, uma realidade inegável", disse.
Segundo Felix, buscando o modelo da Netflix e vendo a possibilidade de manter para si todo o valor da assinatura, os detentores de conteúdo, com medo do futuro, "se atiraram sem saber onde iriam cair. É um mundo bem diferente daquele em que se convivia em equilíbrio, apesar das brigas por preço entre produtor e distribuidor", disse o executivo.
Por conta desse caminho trilhado pelos outros elos do setor, a Claro, em 2021, fez uma aposta importante em outro modelo de distribuição com o Claro TV Box, hoje chamado Claro TV+. Segundo Felix, com essa aposta, a operadora segue investindo em manter a base fiel ao modelo tradicional, mas praticamente não vende mais o produto baseado no Serviço de Acesso Condicionado, o SeAC.
No entanto, ele afirma que este modelo de venda de serviços de streaming ainda está em construção e, por enquanto, não é capaz de remunerar todos os elos. Mesmo os produtores de conteúdo já não recebem o suficiente para sustentar os pesados investimentos em conteúdo original. Felix lembra que a Disney lançou seu serviço de streaming nos Estados Unidos por US$ 8 e hoje, após sucessivas revisões, já planeja um aumento para US$ 20. "Temos que encontrar um novo modelo, mas sem manter a cabeça no modelo anterior. O novo modelo requer uma obsessão por redução de custo", diz o executivo.
Uma das estratégias da operadora para reduzir custo é o Claro TV + por aplicativo ou com uma caixinhas mais em conta, "sem portas que ninguém usa". Além disso, é preciso ter uma obsessão no dia a dia em reduzir todos os custos, por menores que sejam, afirma o executivo. Para Felix, o modelo tem que ser digital e orientado a custo. "O cliente não está a fim de pagar: ou é pirata ou está acostumado a pagar pouco. O cara foi ensinado a pensar diferente e cabe a nós repensar o modelo", diz.
O valor do conteúdo
Pela primeira vez, em 2022, os gastos em conteúdo por parte da Claro cairam – de R$ 4,7 bilhões no ano anterior para R$ 4,2 bilhões. Segundo Felix, esta é uma tendência que seguirá na medida em que os contratos de conteúdo forem renovados. "Vai começar a doer um pouco mais para alguns fornecedores de conteúdo. Temos que renovar alguns contratos e aquele modelo antigo de venda e aquisição de conteúdo não existe mais. Estamos indo para um proposta mais de parceria com os provedores. Com aqueles com quem conseguirmos montar um modelo, vamos continuar; com os que não conseguirmos montar um modelo, sei lá o que vai acontecer…"
Ganhar um percentual de 10%, 15% ou mesmo 20% sobre os serviços de streaming dos parceiros de conteúdo, segundo o presidente da Claro, não fecha a conta. "Tem que fazer uma infraestrutura enorme para entregar aquilo, com complexidade técnica e uma arquitetura difícil e cara", diz.
A Claro quer um modelo no qual haja um compartilhamento do risco e do benefício. Se este modelo não for encontrado, Felix cogita parar de atuar como agregador dos serviços de streaming. Com quase 15 mil vendedores, diz o executivo, a operadora pode vender qualquer coisa. "Agregar ou não conteúdos vai depender de ser bom para todos. Se não trouxer benefício, eu vendo outra coisa. Treinar equipe requer energia e dinheiro. É natural que você selecione o que te dá mais retorno", diz. "Não queremos sair desse negócio. Por isso, estamos conversando com os principais players para fazer modelos inovadores" de negociação.
Regras isonômicas
É evidente que a TV por assinatura perde competitividade com os modelos por streaming por conta da diferença nas obrigações de cada modalidade de serviço por assinatura. Mesmo assim, Felix não prega uma imposição das regras do SeAC nos outros setores, mas uma desregulação da TV paga em todos os seu modelos. "Não tem que esculhambar a vida dos outros para melhorar a sua. Não tem que levar o SeAC para os outros. Esta sempre foi uma lei equivocada para atender a alguns setores da sociedade, mas que nos levou a perder 2 milhões de assinantes por ano", disse.
O executivo diz que é preciso haver regras com "um modelo bacana para todos". Prorrogar as cotas no SeAC por mais 20 anos, diz, não parece ser a melhor alternativa. "Mas vamos ouvir os argumentos. Estamos abertos à melhor discussão possível para todos os players e para o país", diz.