Banda larga fixa 5G vai enfrentar desafios no Brasil, projeta Bain

Alberto Silva, da Bain & Company

De chegada ao mercado brasileiro, as ofertas de banda larga fixa sem fio (FWA) baseadas em 5G devem encontrar no País um cenário desafiador devido à alta penetração da fibra óptica, à demanda do consumidor por maiores velocidades e à difícil equação econômica de ofertas, aponta estudo da Bain & Company.

A consultoria, que estima market share de até 6% para o FWA 5G em 2025, explicou para TELETIME o racional por trás dos números. Segundo o sócio especialista em telecom da Bain, Alberto Silva, a banda larga fixa por meio das redes 5G tem alcançado penetração interessante em mercados com características peculiares, ao passo que em países com redes fixas de maior qualidade representariam desafio significativo.

Este seria o caso do Brasil, onde a penetração de fibra óptica nos acessos de banda larga fixa já ultrapassa os 70%, com perspectiva de expansão a partir do impulso de redes neutras e novas operadoras. Com a capacidade de entregar velocidades na casa do gigabit por segundo e diante da demanda do consumidor por pacotes mais robustos, a fibra deixaria o FWA 5G restrito aos locais sem alternativa óptica disponível, entende a Bain. 

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"O desafio não é tanto a tecnologia, que é fantástica, mas a evolução da demanda e com quem você está competindo", aponta Silva, lembrando que a atualização tecnológica do cabo (HFC) também possibilita velocidades de 1 Gbps. No FWA 5G, a consultoria entende ser possível a entrega de velocidades consistentes (entre 240 Mbps e 600 Mbps), mas a partir de arquitetura de rede "não trivial".

Alguns cenários desafiadores são o atendimento de usuários distantes de estações e efeitos de um maior povoamento da rede, o que diminuiria o desemepnho para cada cliente. Para atingir as velocidades mais altas projetadas, o FWA 5G também demandaria o espectro como o 26 GHz, já leiloado para as teles brasileiras, mas ainda em avaliação quanto às possibilidades de uso e ainda com ecossistema mais limitado de equipamentos. 

Vale notar que no caso da faixa de ondas milimétricas, o elemento da auto instalação se torna mais complexo pela necessidade de visada direta com a estação; nos Estados Unidos, onde a opção milimétrica é utilizada em ofertas de FWA, números preliminares indicam que 35% das instalações exigiram antena externa e instalador, relata Silva. A auto instalação é elemento importante da equação econômica da banda larga sem fio, ao permitir dispensar a mão de obra.

Outro ponto chave é o preço dos dispositivos para casa do cliente, considerados por Silva ainda pouco acessíveis no Brasil (US$ 200 a US$ 300, contra US$ 40 de uma OLT de fibra). O consultor reconhece que há curva natural de barateamento dos eletrônicos, mas questiona. "Será que o FWA consegue melhorar essa equação econômica com velocidade suficiente para conseguir brigar de forma crível com o retorno de operações de fibra? A resposta mais provável é não", afirma o sócio da Bain.

Internacional

A avaliação da consultoria sobre o potencial do FWA 5G no Brasil passa pela comparação com cenários vistos em outros mercados. Nos Estados Unidos, por exemplo, a baixa participação da fibra na banda larga (atualmente na casa de 20% dos acessos), a falta de footprint fixo das principais operadoras móveis e a própria disponibilidade das ondas milimétricas contribuíram com a tecnologia.

Naquele mercado, a questão custo da CPE também não é tão preponderante quanto no Brasil, tornando ofertas competitivas com outras alternativas de banda larga. A Bain estima 6% do share da banda larga fixa norte-americana para o FWA 5G em 2023 (ofertas estão disponíveis desde 2019) e mais de 10% em dois anos. A situação é diversa na Espanha, onde a participação de mais de 80% da fibra limita o FWA a 1% do mercado de banda larga, com pouca projeção de crescimento.

Há também os mercados peculiares onde a banda larga fixa sem fio encontrou espaço para crescer. Em países nórdicos como Finlândia e Noruega, o FWA faria sucesso mesmo no 4G, muito por conta das exigências de enterramento para lançamentos de fibra, relata Alberto Silva.

Já na Austrália a alternativa seria mais rentável do que ativar fibra a partir de rede semipública do governo local. Nestes mercados a Bain acredita na banda larga 5G alcançando participações próximas a 20% em meados dessa década. Esse é o patamar que fabricantes de tecnologia acreditam ser possível no Brasil em alguns anos.

Vale destacar que o Brasil também tem suas peculiaridades, como a presença de provedores regionais que devem chegar no segmento com grande ênfase, além das grandes operadoras. As obrigações do leilão de 2021 que exigem das operadoras a construção de redes 5G também pode abrir caminho para maior predisposição a apostas no modelo. Recentemente, subsídios governamentais viraram outra alternativa potencial para projetos de FWA, mas em formatos que ainda carecem de maiores definições. 

 

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