Nas recentes divulgações de resultados financeiros, quase todas as operadoras deixaram claro a importância de investir em acessos pós-pagos e de banda larga móvel, motivadas pela oportunidade de obter receitas com o tráfego de dados e com serviços de valor adicionado. Mas o cenário atual, evidenciado pelo relatório de acessos em outubro divulgado pela Anatel nesta terça, 19, ainda mostra outra coisa: somente a Claro tem um balanço positivo entre banda larga e 2G. Fica óbvio que o País ainda tem um longo caminho pela frente.
Os acessos pré-pagos totalizavam em outubro 212,1 milhões (78,58% do total) e os pós-pagos, com maior receita média por usuário (ARPU), somavam 57,82 milhões (21,42%). Além disso, o mercado brasileiro continua dominado pela tecnologia 2G, com 62,65% ou 169 milhões do total de 269,9 milhões de linhas ao todo. Os handsets 3G representavam 84,8 milhões de conexões, ou 31,44%. São incipientes os acessos via terminais de dados 3G (2,61%) e LTE (0,27%) – a Anatel contabiliza somente aparelhos ativados na rede das operadoras, mas não necessariamente com plano 4G.
Liderança isolada
Considerando a soma de acessos via handsets 3G, dados 3G (que incluem modems e tablets) e LTE (mesmo na ressalva de contabilizar aparelhos ativados), a Claro é a única operadora que possui uma base potencial para banda larga móvel maior (51,54%) do que a de acessos 2G. Graças à política de desconexões constante do 2G, a operadora domina com folga o share com 37,8% do mercado de 3G (banda larga móvel).
A empresa segue em um ritmo constante de desconexões 2G com cerca de 2,45% a 2,94% de recuo por mês. Por conta disso, ela foi a tele que mais perdeu acessos de segunda geração no ano: ao todo, foram 9,073 milhões de linhas a menos, mais que um terço do total de 26,741 milhões de desconexões do mercado brasileiro. Considerando somente os acessos de handsets 3G, a operadora conta com ainda mais participação: 38,76%.
A Vivo, que segue a matriz espanhola Telefónica e tenta se reposicionar como uma empresa digital, ainda tem a maioria (66,25%) das conexões em 2G. Na soma de acessos de banda larga móvel, conta com a proporção de 30,9% e participação de 25,8% do mercado, ou 23,911 milhões de acessos. Contabilizando apenas os acessos por telefones móveis 3G, a Vivo fica em terceiro lugar (23,68%).
Políticas opostas
A TIM, que apresenta política agressiva nas receitas de dados no pré-pago, fica no meio termo, com 68,27% de linhas 2G e 32,8% de participação nas conexões de alta velocidade, ou 22,031 milhões de linhas. Isolando o mercado de handsets de terceira geração, a empresa fica na segunda posição. No balanço trimestral da tele e na da controladora Telecom Italia, o presidente da TIM Brasil, Rodrigo Abreu ressaltou o foco na venda de smartphones, sem subsídios, justamente para conseguir ampliar o ARPU com a venda de mais pacotes de dados.
Estratégia oposta se vê na quarta maior tele do Brasil. Das principais operadoras, a proporção de acessos 2G em relação ao 3G+4G é ainda maior na Oi, com 76,29% de linhas de segunda geração. A companhia afirmou recentemente que deveria focar mesmo nos pré-pagos, enquanto espera que as receitas de dados cresçam. Entretanto, como anda com incertezas na fase pré-fusão com a Portugal Telecom e ainda sofre consequências da agressiva política de pagamento de dividendos, a empresa preferiu concentrar seus esforços atuais no 3G. Tanto é que, até o momento, a expansão da cobertura do 4G segue rigorosamente as exigências da Anatel no leilão da faixa de 2,5 GHz. Ainda assim, a Oi comemorou um crescimento de 57,6% na receita de dados no terceiro trimestre deste ano em comparação com 2012.