O presidente do Citibank no Brasil, Gustavo Marin, depôs na terça, 18, na CPI do Mensalão, onde foi chamado para esclarecer a relação do banco norte-americano com os fundos de pensão. Os parlamentares voltaram a questionar o acordo de put firmado entre o Citi e os fundos, e mais uma vez a explicação dada não foi compreendida: o put, disse Marin, é uma hipótese que só será realizada em 2007 caso os fundos e o Citibank não encontrem uma outra alternativa de venda conjunta, e o preço estabelecido prevê um prêmio de controle condizente com o que foi pago na época da privatização do Sistema Telebrás e mesmo pela Telecom Italia pelas ações do Opportunity. Para a maior parte dos parlamentares, prevaleceu contudo o entendimento que tem sido difundido na imprensa, de que o valor seria excessivo por estar "acima" do valor em bolsa. Argumento que, aliás, embasa a cautelar do ministro do Tribunal de Contas da União, Benjamin Zymler, que será julgada nesta quarta, 19. Marin disse que os fundos e o Citi pediram à Fundação Getúlio Vargas uma avaliação sobre o valor do contrato, e a FGV reconheceu que as condições são condizentes com as práticas de mercado.
Perguntado pelo deputado João Correia (PMDB/AC) se o Citi, na situação dos fundos, faria o mesmo acordo de put, Marin foi categórico. "Na situação em que os fundos estavam (na composição societária da Brasil Telecom), não teria a menor dúvida de fechar o acordo". A explicação, segundo colocou o presidente do Citi, é que os fundos de pensão estavam isolados pelo Opportunity e não teriam condições de venda isonômicas de suas participações. "Os fundos teriam no máximo os 80% de tag along previstos em lei". Na mesma linha, o deputado Paulo Baltazar (PSB/RJ) questionou o que teria acontecido com os fundos caso o Citi tivesse aceito a proposta de compra de suas participações na BrT feita pelo Opportunity no início do ano. "Primeiro, não aceitamos a proposta porque ela era de valor baixo (R$ 680 milhões). Depois, a nossa confiança no Opportunity já estava prejudicada. Mas se tivéssemos fechado o acordo, certamente os fundos de pensão teriam tido um enorme prejuízo pois teriam ficado isolados na BrT.
Marin explicou que o processo de ruptura com o Opportunity começou a se dar em 2003, quando os fundos de pensão demitiram Daniel Dantas da gestão dos seus recursos. Ele explicou que chegou a conversar sobre este assunto com o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, e com o ministro da Fazenda, Antônio Palocci. De ambos, segundo Marin, a informação transmitida ao Citi foi a de que o governo não interferiria na decisão dos fundos de pensão.
Análise
A relação entre os fundos de pensão e o Citibank tem sido alvo de diversas especulações e insinuações em meio à crise política, que tem como palco de debates as três CPIs em curso no Congresso. O que a audiência com Gustavo Marin, do Citibank, mostrou, é que Daniel Dantas, de alguma forma, conseguiu fazer com que parte dos parlamentares passasse a adotar uma nova tese: a de que o Citibank, e não o Opportunity, seria o suposto financiado do esquema investigado do Mensalão. Dantas, ao depor na CPI, dizia a todo momento que não faria sentido ele ter financiado algum esquema político se não teve ajuda do governo. Na ocasião, insinuou que o Citibank e outras empresas de telecomunicações, como a Telemar, é que teriam interesse de financiar algum esquema. Vários parlamentares, sobretudo da oposição, vieram ao depoimento de Gustavo Marin com essa hipótese em mente, desconsiderando o fato que foram as administrações do Opportunity quem contrataram as empresas de Marcos Valério. No caso mais recente, revelado pela Folha de S. Paulo, detectou-se um contrato entre a Brasil Telecom e a DNA propaganda no valor de R$ 50 milhões e sem propósito definido, acordo esse fechado por ordem direta de Carla Cico.