[Publicado no Mobile Time] Para modernizar a distribuição de energia e conectar medidores inteligentes ao centro de operações, a Neoenergia construiu uma rede privada 4G (LTE). A rede foi implementada em Atibaia (SP) em parceria com a Nokia, responsável pelos equipamentos, e é gerida pela própria Neoenergia. Ela opera na frequência 3,5 GHz, foi autorizada pela Anatel e, ao todo, conta com seis estações radio-base (ERBs), espalhadas também por Bom Jesus dos Perdões e Nazaré Paulista.
Segundo Heron Fontana, superintendente de smart grid da Neoenergia, a empresa escolheu a rede de telecomunicações 4G para ser seu backhaul. "Normalmente, para o uso de telefonia móvel, ela (LTE) é a rede de acesso. No nosso caso, escolhemos LTE como sendo nosso backhaul que conecta os access points. Atuamos com uma rede em duas camadas. Temos outras duas redes, a Wi-Sun e Prime PLC, que são concentradores e coletam as informações de milhares de medidores em tempo quase real e enviam esses dados para os sistemas no data center através da rede LTE e da rede corporativa".
A escolha pela rede 4G passou por dois critérios básicos: rapidez e nível de latência baixo. Isso porque os equipamentos usados pela malha de energia elétrica precisam tomar decisões rápidas e as informações precisam chegar o quanto antes ao centro de controle.
Energia do futuro
A Neoenergia está trocando os medidores de energia em toda a região de Atibaia. O projeto se chama Energia do Futuro e começou em novembro de 2018. A concessionária trocou até agora cerca de 52 mil medidores na localidade. Os 23 mil restantes serão trocados até o fim do ano. Esses medidores inteligentes permitem ações mais rápidas em casos de interrupção no fornecimento, reduzindo o tempo e a frequência em que isso acontece. A substituição dos medidores convencionais pelo modelo inteligente, mais moderno, não tem custos para os clientes e traz algumas vantagens. Uma delas é que, se o fornecimento for interrompido em função de algum acidente, por exemplo, a distribuidora é acionada automaticamente. Com o novo sistema, a Neoenergia estima uma melhoria da qualidade de serviço em 40%, e eventuais ocorrências podem ser resolvidas de forma mais rápida e eficiente, caindo de horas para 60 segundos a resolução.
"Imagina um galho de árvore que cai em cima de um cabo de rede. Numa rede tradicional, o consumidor tem que ligar para a concessionária, que passa o ocorrido para o centro de operação, que, por sua vez, despacha uma equipe e vai procurar o defeito. Com os smart grids o medidor já informa diretamente ao centro de operação; os sensores detectam o local do defeito, isola-se o ponto, recompõe e redistribui a energia. É o que chamamos de self healing ou rede autorrecuperável. É uma funcionalidade das redes inteligentes. Um problema que poderia levar horas é resolvido em menos de 60 segundos. Mas, claro, depende do caso", explica Fontana.
Frequência
Atibaia é a primeira experiência da Neoenergia em implantação de LTE em serviços de utilidade pública. E, de acordo com Fontana, é a primeira do gênero na América Latina. No projeto, a própria empresa está gerindo a rede, mas não descarta a possibilidade de desenvolver uma parceria com operadoras, tornando o modelo híbrido, no futuro. "É uma tecnologia promissora. A nossa estratégia está aberta nesse sentido, e vamos buscar a solução que tenha o nível de serviço que precisamos". Em seguida, o superintendente complementa: "Se as operadoras atenderem, seja num modelo híbrido ou operado totalmente por elas, não há problema também. Nossa estratégia é ser um modelo híbrido com padrões abertos e interoperáveis com compartilhamento de infraestrutura e de equipamentos".
A rede privada LTE da Neoenergia usa a frequência de 3,5 GHz. O ideal, contudo, seria uma rede sub Giga – ou seja, com frequência abaixo de 1 GHz –, melhor para serviços de missão crítica, como distribuição de energia, diz Fontana.
"Dadas as condições técnicas do momento, escolhemos implantar no 3,5 GHz. Não é a frequência desejada, mas entendemos que era uma boa escolha para esse momento e tivemos a licença da Anatel. Era uma das faixas livres para esse tipo de aplicação e combinou com a proposta da Nokia", relata.
Fraude e roubo
As redes inteligentes também são um fator para diminuir drasticamente os roubos e as fraudes no consumo de energia elétrica. Medidores inteligentes permitem que a Neoenergia detecte facilmente onde acontecem perdas de energia. "Com a implementação do novo serviço, teremos uma redução em até 80% de perdas não técnicas, que são as perdas comerciais na medição. Vai facilitar a identificação de onde ocorre a fraude e o roubo de energia e, assim, regularizar a situação", explica o superintendente. Para o executivo, isso também pode significar um preço mais justo nas tarifas para aqueles "bons pagadores", uma vez que, na lógica regulatória, esses pagam em dia pela energia fraudada ou roubada do sistema. "Estamos trabalhando para uma tarifa mais justa para os bons pagadores", conclui.
Evento
Heron Fontana, superintendente de smart grid da Neoenergia, participa na próxima segunda, dia 22, do TELETIME ec, evento promovido pela TELETIME e que aprofundará o debate sobre redes privadas e mercados verticais. O evento terá a participação ainda de Igor Calvet, presidente da ABDI, Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, falando sobre o impacto do 5G no desenvolvimento de setores verticais da economia. Mais informações sobre o evento pelo site www.teletimetec.com.br