Apple SIM aponta para uma revolução na relação entre consumidor e operadoras móveis

Na coletiva de imprensa e no release enviado aos jornalistas na quinta-feira passada, 17, para apresentar seu novo tablet top de linha, o iPad Air 2, a Apple destacou como principais novidades a sua espessura de apenas 6,1 mm e a presença de um leitor de digital. Porém, o produto esconde uma novidade muito mais interessante e que pode ser o primeiro passo para uma revolução na relação entre consumidores e suas operadoras móveis. Trata-se do Apple SIM, um SIMcard embutido que serve para acessar quatro diferentes operadoras: as norte-americanas AT&T, Sprint e T-Mobile, e a inglesa EE.

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A novidade está descrita apenas no hotsite do produto, dentro de uma seção sobre conectividade móvel. A explicação não deixam dúvidas: "Um SIMcard. Várias opções. O novo Apple SIM vem pré-instalado nos modelos do iPad Air 2 com Wi-Fi e rede móvel. O Apple SIM lhe dá flexibilidade para escolher entre uma variedade de planos de curto prazo de operadoras selecionadas nos EUA e no Reino Unido, direto em seu IPad. Sempre que precisar, você pode escolher o plano que lhe sirva melhor – sem comprometimento de longo prazo. E quando viajar você poderá escolher um plano de dados de uma operadora local somente para o período da sua estadia". A imagem ilustrativa ao lado do texto mostra uma tela em que o usuário pode escolher uma das três operadoras norte-americanas que participam do projeto.

Em resumo: o consumidor não precisará mais se comprometer com um plano de dados de longo prazo para seu tablet. Em vez disso, poderá contratar planos de curto prazo sempre que precisar e com a operadora que quiser (dentre aquelas participantes do projeto). E provavelmente poderá pagar com seu cartão de crédito cadastrado na Apple, via Apple Pay.

Duas fontes do mercado de SIMcards com as quais MOBILE TIME repercutiu a novidade disseram que a solução da Apple se assemelha a uma ideia que a indústria móvel vem discutindo há algum tempo, mas cujo foco original era o mercado de comunicação entre máquinas (M2M). Seria a adoção de um SIMcard especial, embutido em módulos M2M, que pudesse ser personalizado remotamente, trocando eventualmente de operadora. Isso é particularmente útil para equipamentos em que o SIMcard vem soldado ou cujo acesso para troca é difícil. Lembra também um antigo projeto do Denatran de carros conectados, que sairiam de fábrica com um SIMcard chamado de "chapa-branca", que poderia servir a qualquer operadora. É sabido que há testes também entre operadoras de um mesmo grupo internacional para a adoção de plataformas que permitam trocar o número do SIMcard conforme o consumidor viaja para outros países, adotando linhas locais de teles do mesmo grupo. A Telefônica, por exemplo, vem testando uma plataforma dessas.

A própria GSM Association (GSMA), entidade que representa as operadoras e os fabricantes de equipamentos móveis, vem fomentando a adoção de plataformas de gerenciamento de assinantes móveis. O foco, porém, é para casos pontuais, como os citados acima, não para um SIMcard universal, comenta uma fonte. Por isso, uma solução para a contratação de planos de dados pelo consumidor final entre operadoras diferentes em um tablet, como o Apple SIM, pegou de surpresa boa parte da indústria móvel.

Análise

Antes de se assustarem, as operadoras móveis devem lembrar um dado importante: as vendas de tablets com entrada para SIMcard são muito menores que aquelas de tablets que funcionam somente com Wi-Fi. A maioria dos consumidores se conecta com os tablets através de suas redes caseiras ou no ambiente de trabalho. E quando precisam de conexçao na rua acabam usando seu smartphone como roteador. Tanto é assim que muitas operadoras simplesmente pararam de vender tablets ou pelo menos reduziram o número de modelos em seu portfólio. Outras criaram planos de dados para serem compartilhados, pois seria a única maneira de convencer o usuário a acessar a rede móvel diretamente pelo seu tablet.

Portanto, em vez de ser uma ameaça, o Apple SIM pode ser a solução, trazendo novos usuários às redes móveis, ainda que ocasionais, por poucos dias, durante uma viagem ou um passeio.

Na indústria de SIMcards, por sua vez, a transformação pode ser ainda mais profunda. Se soluções como essa chegarem aos smartphones, as vendas de SIMcards diminuirão. Em substituição, essa indústria provavelmente investirá em plataformas para gerenciamento remoto desses assinantes, além de outros serviços.

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