Para Boeing, mPOWER abre uma nova Era na fabricação de satélites

O lançamento dos dois primeiros satélites da geração mPOWER da SES, ocorrido nesta sexta, 16, na Flórida, é mais do que o início de uma nova fase na estratégia de serviços de satélite de órbita média da operadora de Luxemburgo. Trata-se de um marco também para a Boeing Satellite System, uma das principais fabricante de satélites do mundo, e que encampou o projeto mPOWER  para desenvolver uma plataforma considerada revolucionária e que pode, eventualmente, ser aplicada a outras operadoras de satélite, segundo Ryan Reid, presidente da Boeing Commercial Satellite Systems em entrevista concedida em novembro deste ano.

"A Boeing e a SES trabalham juntas há 22 anos, desde a Astra, mas o projeto mPOWER foi especial e diferente dos projetos anteriores. A encomenda era construir um satélite extremamente flexível, com alta tolerância à radiação, propulsão elétrica, capacidade de ser lançado em conjunto com outros satélites, operação autônoma e payloads avançados".

O resultado, depois de cinco anos de trabalho, foi o Boeing 702X, cujos dois primeiros exemplares foram lançados com sucesso nesta sexta e que irão compor a frota de 11 satélites da constelação de órbita média mPOWER. 

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Segundo Ryan Reid, vários elementos do novo satélite tiveram que ser desenvolvidos especificamente para o projeto, como a tecnologia de resfriamento, a blindagem contra radiação e, sobretudo, o aumento expressivo na capacidade do satélite, com capacidade de controle individualizada dos 5 mil beams. Nessa entrevista, ele conta sobre as perspectivas da Boeing para o mercado de satélites:

Ryan Reid, CEO da Boeing Commercial Satellite Systems

TELETIME – A tecnologia do mPOWER poderá ser utilizada em outros clientes, considerando que hoje a SES é a única que está priorizando o mercado de órbitas médias?

Ryan Reid – Com certeza, acreditamos que estamos apenas no começo do que essa tecnologia pode fazer. Comprovamos o que ela é capaz e como podemos expandir e fazer a tecnologia crescer ainda mais e acredito que estamos apenas nos primeiros passos de uma jornada. Num satélite tradicional, se você precisa de mais capacidade você precisa colocar mais hardware e ele vai ficando cada vez maior. Nesse caso do mPOWER, estamos apenas no começo de uma tecnologia que no futuro será muito mais relevante, que é conseguir adicionar capacidade por meio de software. Quando a SES mostrar o que pode ser feito, veremos certamente um interesse de outras empresas.

Ainda assim, o que vemos é uma aposta da SES no mercado MEO que ainda não se mostra relevante entre outros operadores. Eles estão muito certos ou muito errados em apostar numa constelação de órbita média?

Não vemos ainda esta demanda por parte de outras empresas, mas eu realmente acho que as constelações MEO são o ponto ótimo entre características de acesso equivalente à fibra, seja pelas velocidades ou pela latência, e a otimização de custos com uma cobertura global a partir de menos satélites. Do ponto de vista de cobertura, os satélites GEO são mais vantajosos, mas quando você coloca a questão da velocidade e da latência, o MEO se torna uma opção muito mais interessante. Não existe opção certa ou errada, mas vantagens que variam em função do mercado. Vejo o mercado hoje caminhando para mais constelações não-GEO, e menos oportunidades para satélites de muita capacidade em GEO. O que se busca hoje é flexibilidade.

Isso vale para governos também?

Existe uma nova dinâmica e satélites se tornaram de novo muito relevantes para governos e para segurança cibernética, e veremos muitas mudanças nesse sentido porque as comunicações via satélites são cada vez mais importantes em casos de desastres naturais. Acredito que o mercado de satélites está se abrindo com oportunidades para todos os tipos de constelações. Teremos um cenário em que cada tecnologia vai atender a um nicho de mercado. 

A integração vertical de empresas como a SpaceX/Starlink não é um problema para vocês, já que não se tem acesso à tecnologia deles?

De fato, é interessante, porque a SpaceX não é nem um competidor no sentido puro, até porque nós os contratamos para os lançamentos. O fato de eles serem integrados verticalmente é de fato uma forma de competirem conosco, mas por outro lado trabalhamos com eles e os contratamos no lançamento de satélites. Mas o fato é que o mercado como um todo está crescendo e existem novas empresas surgindo a cada dia.

Mas ainda assim, você não tem ideia do que eles, como competidores, estão desenvolvimento. Isso não preocupa?

Quem acaba nos balizando mais são as operadoras, que conversam entre si, conversam permanentemente conosco e querem propor ajustes nos projetos, como foi o mPOWER. Para nós, o que importa é que as empresas que nos contratam digam o que querem e precisam e nós vamos desenvolver. A SES por exemplo aprendeu que pode explorar novas possibilidades de mercado a partir da tecnologia que entregamos, e nós ajustamos nossos métodos e rotinas de produção em função dessas demandas.

Existe uma discussão global sobre sustentabilidade, inclusive no espaço. O que vocês estão fazendo nessa frente?

Não é possível aderir a todas as práticas imediatamente. É evidente que temos responsabilidade social e ambiental na nossa empresa  e procuramos levar isso aos produtos na medida do possível. Além disso, temos conversas e interlocuções com outros setores civis e militares de exploração do espaço para ajustar as tecnologias às essas demandas. Existe uma grande interdependência na cadeia de fornecedores de satélites, o que só torna a agenda da responsabilidade ainda mais desafiadora. 

Você mencionou a importância dos satélites no cenário geopolítico, mas você diria que houve nos últimos anos uma ampliação do interesse por esse tema nos diferentes países com os quais negociam?

Com certeza, isso está acontecendo. Vemos por parte dos governos uma demanda por capacidade de comunicação via satélite, até para resolver questões de soberania nas comunicações, e os projetos estão sendo desenhados. O viabilizador é que esse tipo de acesso está se tornando possível a mais países e isso dá opção para os países construírem satélites próprios ou partirem para uma solução de mercado. Muitos dos nossos clientes comerciais também estão cada vez mais preocupados  em trabalhar com o governo, e para nós é uma vantagem porque conhecemos as tecnologias demandadas pelos setores militares e civis de defesa dos países. (O jornalista viajou a Los angeles a convite da SES)

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