Sempre que temos um novo ciclo produtivo e tecnológico, ele vem cercado de oportunidades e desafios. A revolução digital aconteceu! Não há volta. Ciclos de obsolescência tecnológica e de produtos e serviços estão cada vez mais curtos.
Há mais de 10 anos acontecem debates e iniciativas que visam preparar o Brasil para uma sociedade cada vez mais digital. Governos e setores produtivos dos mais diversos, fornecedores de serviços e produtos, desenvolvedores de plataformas discutem e se planejam para não só se inserirem, mas também crescerem e capturarem o máximo de oportunidades que essa realidade traz.
Esse mesmo movimento acontece fortemente no mundo todo. A União Europeia (EU), há tempos estudando o tema, produziu uma agenda visando o protagonismo dos países membros nessa sociedade cada vez mais digital. Se observarmos China, Coreia, Japão e EUA, isso também vem ocorrendo na mesma intensidade. Várias são as dimensões de uma Agenda Digital, indo desde a conectividade, passando pelo incentivo ao desenvolvimento local de plataformas e serviços e tratando também de questões que envolvam incentivos fiscais. Os desafios são enormes e diversos.
Quando visitamos as diretrizes recomendas pela EU em 2016 dentro de um plano de recuperação econômica, e que foram fortalecidas para o enfrentamento da crise gerada pela pandemia, vemos uma estratégia digital que integra diversas frentes de governo e linca essas iniciativas com necessidades da indústria, objetivando o crescimento econômico e a inclusão da sociedade nessa agenda.
Dentre as várias dimensões que devem ser trabalhadas, uma delas chama a atenção e pode ser usada como exemplo para a discussão do tamanho do esforço que deve ser feito. Trata-se das ações para incremento de conhecimento e habilidades digitais dos trabalhadores, consumidores e estudantes, um dos elementos basilares, presente em todas as políticas/programas implementadas nesses países.
Fazendo um recorte mais local, se observarmos o relatório da OCDE "Going Digital in Brazil", produzido com apoio do MCTIC, fica clara a importância de termos ações integradas e coordenadas em várias áreas. A OCDE também chama atenção para a formação, recomendando uma ação governamental com incentivos fiscais e aumento de financiamento (bolsas) para que estudantes e profissionais tenham cada vez mais habilidades e conhecimentos direcionados à inovação e competitividade da indústria.
Capacitação
No Brasil é recorrente vermos nos meios de informação a necessidade que o país tem em formar novos profissionais para a indústria de TICs. O déficit é grande e já beira 400 mil profissionais, tendo se tornado uma barreira ao desenvolvimento pleno das potencialidades. Observamos movimentos associativos de setores de TICs e da indústria em geral, discutindo e tentando montar estratégias e iniciativas que visem enfrentar essa brecha de conhecimento. Mas 400 mil, e crescendo, é muita gente! Um desafio enorme, como tudo que envolve a Agenda Digital.
Olhando o mercado, vemos o mundo das plataformas e serviços crescendo, gerando negócios e demandas por empregos. Temos um leilão do 5G que veio com obrigações de dezenas de bilhões, que dialogam não só com a expansão da conectividade, mas também com novos serviços, inclusão digital e educação. Leis foram aprovadas pelo Congresso, dentre elas a do Fust e a que cria um fundo para conexão de estudantes de escolas públicas e professores. Existem iniciativas, ainda que de menor impacto, no Ministério da Economia, com programas de treinamento profissional e no Ministério da Educação, que há alguns anos trabalha a agenda digital. Possuímos uma "Estratégia Digital Brasileira" desenhada e iniciativas municipais e estaduais que visam ampliar a inserção da sociedade nesse mundo digital.
Assim fica claro que, se por um lado há um enorme desafio, por outro há um ambiente de oportunidades para a discussão de um amplo programa de Estado, não só para o incremento do conhecimento e das habilidades digitais, mas que trate cada dimensão da Agenda Digital. Um Programa de Estado, que integre e coordene esforços públicos e privados nos próximos anos, dando sinergia às iniciativas em curso, e a outras que deverão ser construídas, atento para as realidades e demandas das populações locais. Um PAC- Digital, um programa de aceleração de crescimento voltado para a Agenda Digital. Pra pensar!
*- Sobre o autor – Enylson Camolesi é RelGov, Advocacy em TICs. Engenheiro, Pós-graduado em Economia, MBA em Sistemas de Informação. As informações expressas nesse artigo não necessariamente refletem o ponto de vista de TELETIME.