(Matéria originalmente publicada por Mobile Time, com acréscimos de TELETIME) Os planos de serviços de telefonia móvel vão passar por uma transformação ao longo dos próximos anos: vão virar todos pré-pagos, com cobrança recorrente no cartão de crédito e sem envio de fatura, tal como acontece hoje em alguns planos Controle. A previsão é de Pedro Ripper, CEO da Bemobi, empresa por trás de boa parte das soluções de pagamento utilizadas pelas grandes operadoras brasileiras atualmente. Essa mudança será um novo passo dentro de um processo de modernização e simplificação da cobrança dos serviços de telefonia celular que vem se desenrolando ao longo dos últimos anos.
Ele também prevê que o mercado de redes neutras vai ocupar um papel importante na racionalização e no processo de fortalecimento de margens das operadoras brasileiras, e por isso a empresa pretende se posicionar como uma integradora para o contexto que uma operadora utilize diversas redes neutras, ou uma empresa de rede neutra atue com diferentes tenants.
"No passado, o pós-pago e até certo ponto o Controle eram planos complexos: com minutos on-net, minutos off-net, roaming etc. A conta telefônica variava todo mês. Naquele contexto, fazia muito sentido ter análise de crédito e enviar uma fatura mensal. Mas nos últimos três anos aconteceram duas coisas: 1) os planos se simplificaram dramaticamente, passando a ter um atributo só, os Gigabytes; 2) o Brasil, embora seja um mercado emergente, tem uma penetração alta de cartão de crédito, da ordem de 75% na população economicamente ativa. O Brasil é muito desenvolvido em pagamentos, por efeito do sucesso dos neobanks. Praticamente 100% da base pós-paga e controle no País tem cartão de crédito", descreve Ripper.
A vantagem de migrar os planos para um modelo pré-pago com pagamento recorrente no cartão de crédito é a simplificação e a redução de custos e, sobretudo, de redução do risco por parte das operadoras. Deixa de ser necessário para as operadoras, por exemplo, fazer uma análise de crédito de cada novo cliente (na prática isso é feito pelo emissor do cartão). Também deixa de ser necessário o envio de uma fatura mensal. E com isso coibe-se o principal temos das empresas, que é o não pagamento da primeira mensalidade (First Payment Default – FPD)
Paralelamente, a tendência é de que a contratação e a gestão dos planos passe a ser 100% digital, o que também reduzirá os custos operacionais das teles.
Ripper faz um paralelo com os diversos serviços digitais que estamos acostumados a pagar com cartão de crédito, como as plataformas de streaming de vídeo, que já funcionam dessa forma: contratação 100% digital, com cobrança pré-paga recorrente no cartão de crédito e sem envio de fatura mensal.
"Os planos vão virar pré-pagos na concepção dos planos OTT de música e video, baseados em cartão de crédito. Para as teles isso simplifica sistemas, diminui custo de atendimento por complexidade de plano, gera serviços melhores e até reduz os preços, se houver uma estrutura de custo menor, com repasse do benefício para o cliente. Todas as operadoras flertam com esse conceito. Mas é difícil por ser uma quebra de tabu. Hoje, 90% dos planos do segmento pós-pago têm fatura e 10% são no cartão. A tendência é inverter isso dentro de cinco ou seis anos", prevê o CEO da Bemobi.
A recente aquisição da NomoWave foi feita levando em conta essas previsões, pois vai permitir que a Bemobi ofereça às operadoras a produção de jornadas de planos digitais, incluindo até o app utilizado pelo cliente final, o que era o grande diferencial da Nomo como operadora móvel virtual (MVNO).
Redes neutras
A aquisição da NomoWave entra também em outro contexto: uma das tecnologias desenvolvidas pela Nomo foi justamente pensada na integração de múltiplas redes, mas nesse caso, de redes móveis. "Vejo o mercado de banda larga de desenvolvendo no sentido de otimização de recursos e investimentos, e o que estamos vendo no mercado de redes neutras é um movimento importante nesse sentido. As operadoras precisarão buscar esse modelo por uma questão de rentabilidade e racionalização de investimentos, como aconteceu com as empresas de torres. É um movimento que ainda está no começo, o modelo vai amadurecer, como o modelo de redes amadureceu nos últimos 10 anos, mas vejo como inevitável", diz Ripper.
Ele acredita, portanto, que a aquisição da NomoWave cumpre também o papel de posicionar a Bemobi para esse movimento.
Oportunidades na base pré-paga e com ISPs
O pré-pago com recargas "a granel" vai continuar existindo, mas com participação cada vez menor sobre a base total de linhas em serviço. A tendência é de que a maioria adote também uma cobrança recorrente no cartão de crédito. Aliás, isso já está acontecendo nos pré-pagos atualmente, mas com planos semanal, quinzenal e mensal. Ainda tem muita gente com pré-pago semanal ou quinzenal porque não tem dinheiro para o mensal. A médio e longo prazo a tendência é de que esses planos também virem mensais, tal como o futuro previsto para os pós-pagos.
Hoje, a maior parte das recargas acontecem em canais terceirizados, especialmente apps de bancos. Cerca de 80% são recargas digitais e 20% acontecem em lojas físicas. Do total digital, apenas 10% ocorrem em canais das operadoras, como seus apps e sites próprios. Ripper enxerga aí uma oportunidade para as teles no futuro, se conseguirem ampliar seu relacionamento digital com os clientes através de seus apps próprios.
Por fim, Ripper acredita que a mesma tendência de simplificação de planos com pagamento recorrente por cartão de crédito chegará aos provedores de Internet (ISPs), abrindo mais um mercado para a Bemobi. (Com contribuições de Samuel Possebon)