Tema que deve se tornar mais relevante com uma eventual piora a atividade econômica, as provisões para devedores com liquidação duvidosa entre operadoras de telecom listadas em Bolsa têm revelado estratégias diferentes em empresas como Brisanet, Desktop, TIM e Unifique.
As conclusões são de relatório sobre políticas de provisionamento elaborado pela área de pesquisa do BTG Pactual e ao qual TELETIME teve acesso. Enquanto a Desktop foi considerada a operadora mais conservadora em relação às reservas para inadimplência, a Brisanet foi vista como a mais agressiva.
"A Desktop dá baixa [não espera mais receber o dinheiro] em 100% de todos os recebíveis com mais 180 dias de vencimento e provisiona quase todos os recebíveis com mais de 30 dias de atraso (98%, para ser mais preciso). TIM e Unifique também têm níveis bastante elevados de provisões, cobrindo 78% e 86% de todos os créditos vencidos por mais de 90 dias, respectivamente", apontou o banco, a partir de informações de balanços do terceiro trimestre de 2022.
Provisões de recebíveis com mais de 30 dias de atraso | Provisões de recebíveis com mais de 90 dias de atraso | Inadimplência como % da receita líquida | |
Brisanet | 16% | 20% | 3% |
Unifique | 75% | 86% | 5% |
Desktop | 98% | 193% | 4% |
TIM | 62% | 78% | 3% |
Vivo | – | – | 2% |
Já a Brisanet estaria adotando abordagem diferente. "No terceiro trimestre de 2022, ela provisionou apenas 28% de seus recebíveis com mais de 180 dias de vencimento. As provisões também equivalem a apenas 20% dos recebíveis com mais de 90 dias de atraso. Tais níveis são muito mais baixos do que em outras empresas de telecom", sinalizou o banco, no relatório.
Ainda sobre a operadora cearense, a leitura é de que chama atenção a rapidez com que as provisões caíram: no segundo trimestre de 2021, 73% dos recebíveis com mais de 180 dias eram motivos de reservas. "Parece que a Brisanet decidiu manter as provisões estáveis em 3% da receita líquida, o que vemos como uma abordagem simplista para as contas a receber", afirmou o BTG.
Em caso de mudança na política de provisionamento, um efeito sobre a lucratividade da operadora é projetado. Caso a totalidade dos valores com inadimplência há mais de 180 dias se revertesse em provisões, a Brisanet poderia ter queda de 4,4% na margem, ou 2,2 pontos percentuais, calculou o relatório.
Por outro lado, a empresa teria apenas 3% da receita líquida identificada como valores em inadimplência. Similar ao da TIM e maior do que o da Vivo (2%), o indicador foi menor que os apontados por Unifique e Desktop (5% e 4%, na ordem).