Nesta semana, o comitê de transição do NetMundial Initiative promoveu uma reunião para discutir a participação da divisão Business Action to Support the Information Society (BASIS) da Câmara Internacional do Comércio (ICC) na plataforma, inicialmente negada por colocar em dúvida as formas de financiamentos de projetos e sugestões submetidas. Acontece que se pôs em questão também o financiamento da iniciativa em si, que prevê US$ 600 mil em um ano somente para colocar o site em funcionamento.
O CEO da Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (ICANN), Fadi Chehadé, assegurou que o comitê de transição, o secretariado ou o conselho de coordenação não lidarão com dinheiro para bancar as sugestões submetidas. "Os projetos que serão colocados na plataforma serão puramente bottom-up e terão financiamento por meio direto, será peer-to-peer", declara. Quanto à própria iniciativa, ele explica que a ICANN, Fórum Econômico Mundial (WEF) e o Comitê Gestor de Internet do Brasil (CGI.br) irão bancar os primeiros 12 meses com US$ 200 mil cada.
O conselheiro do CGI.br e presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), Demi Getschko, confirmou a este noticiário o valor, que, somado, dará um total de US$ 600 mil no primeiro ano da plataforma – na cotação desta sexta-feira, 12, quase R$ 1,6 milhão. "Os três iniciais se prontificaram a colocar esse pequeno recurso para colocar o sítio no ar, temos competência técnica, já fizemos no NetMundial", conta. Getschko explica que o site é simples, e que a ideia é fazer a plataforma com o mesmo tipo de capacidade da que recebeu as propostas para o evento de São Paulo, em abril deste ano. "É para financiar o funcionamento, com uma quantidade mínima de recursos para colocar o sítio no ar, com banda razoável e aceitando entradas", declara.
Rebatendo mais críticas
Demi Getschko reafirma a proposta de o NetMundial Initiative ser uma plataforma bottom-up, com complementaridade ao Internet Governance Forum (IGF) e sem poder de decisão, mas reconhece que houve ruídos na comunicação. "Ela aconteceu mais ou menos no mesmo tempo que (a plenipotenciária da União Internacional das Telecomunicações em) Busan, e todo mundo estava prestando atenção lá e ninguém prestou atenção ao webinar de lançamento", diz. "Realmente, a comunicação foi ruim, naquele momento os ouvidos estavam em outras áreas, o pessoal estava no automático e olhou só o formato (da Iniciativa)." Ele alega ainda que segmentos da sociedade têm "visões a respeito de algumas entidades", como a ICANN e o WEF, transmitindo a "antipatia" para a plataforma e colocando o CGI no fogo cruzado.
A formação do conselho também precisaria ser colocada de forma mais evidente. "Já temos candidatos para o conselho, tem que deixar claro qual é a função dele, porque enquanto não tiver, vai ter candidato entrando e achando que ganhou algum poder na mão, e isso também é ruim", afirma.
O conselheiro do CGI.br também avalia que seria importante manter o ponto de adesão aos princípios do NetMundial, embora não de maneira formal, que exija isso das propostas. Mas afirma: "Tem que reconhecer que a Internet é daquele jeito, não é algo balcanizado, preservando a privacidade, a neutralidade, direitos humanos… Como no NetMundial".
Caindo fora
O problema é que a iniciativa ainda precisa enfrentar desafios. "Essa é uma plataforma que, se você não gosta dela, não entra. O sucesso ou fracasso dela se verifica se tem projetos submetidos lá ou não. Praticamente não entrou nenhum porque diminuímos o ritmo da coisa". A opinião dele é que o Comitê tem a opção de se retirar caso a NetMundial Initiative seja desvirtuada. "Se alguma coisa dessas por algum motivo violar algum dos princípios pelo qual o CGI batalha há anos, como o Marco Civil e o NetMundial, ele cai fora", declara.
Na visão de Getschko, o prazo para a nomeação de conselheiros, prevista para a próxima segunda-feira, 15, pode ser prorrogado. "Dia 15 foi a última coisa que foi dita, mas não sei se vai valer."
