"Programar é um negócio, e distribuir é outro, bastante diferente. Nós, da Globo, aprendemos isso a duras penas", disse o presidente das Organizações Globo, Roberto Irineu Marinho, na abertura da ABTA 2010, que acontece entre os dias 10 e 12 de agosto, em São Paulo. O executivo destacou em sua palestra como o maior grupo de mídia do país vê o futuro do mercado convergente. Marinho deixa bem claro que o futuro da Globo está na programação e produção de conteúdos. "Produzir e programar, saber contar histórias e emocionar, para diferentes audiências, gostos e momentos, é a essência da parte que nos cabe nessa cadeia de valor", disse, destacando a importância da Globosat no desenvolvimento desse trabalho para o mercado de TV paga.
Para ele, a Globo deve o seu sucesso às suas produções, mas também ao seu "talento de programá-las no melhor horário, na melhor grade, e, sempre que necessário, na companhia do que de melhor se faz em TV no mundo". O binômio produção e programação se repetiu nas experiências da Globo na TV por assinatura, apontou, dando ênfase ao conteúdo brasileiro nas grades de programação dos canais Globosat: "são cerca de 33 mil horas de conteúdo brasileiro, sendo 22 mil horas de produção própria e 11.200 horas contratadas de 100 produtoras independentes". "A Globosat transformou-se, sem nenhum incentivo fiscal, no maior pólo privado brasileiro de promoção do produtor independente, sendo essa uma de suas principais vocações", disse Roberto Irineu Marinho a um público de mais de mil pessoas.
Separação da cadeia
Outro ponto importante para garantir o sucesso dos canais brasileiros é a separação da distribuição e da programação e produção de conteúdo. Para Marinho os riscos de uma disputa desigual com grupos estrangeiros são minimizados, ao se adotar a quebra da cadeia de valor, "a espinha dorsal da proposta de nova legislação". "Numa linguagem muito simples, a regra será esta: quem programa e produz não distribui; quem distribui não programa nem produz".
Marinho diz que já há atualmente uma concorrência desigual, com produtores e programadores brasileiros disputando com estrangeiros de porte global. Para ele, a entrada das empresas de telefonia na produção e programação traria mais um desequilíbrio, difícil de ser suportado pelas empresas brasileiras. "A proposta de nova legislação é sábia ao dividir bem os papéis dos atores em nosso mercado. De um lado, ao acabar com as restrições ao capital estrangeiro e abrir o mercado da distribuição às empresas de telefonia, a nova legislação permitirá que a TV por assinatura se expanda mais rapidamente, tornando-a acessível a um maior número de brasileiros. De outro lado, ao impedir que as empresas de distribuição se envolvam na produção e na programação, permitirá que as empresas brasileiras do setor compitam entre si numa saudável concorrência", afirmou Marinho.
Contudo, disse, a abertura do mercado de cabo às operadoras de telecom e a quebra da cadeia de valor só fazem sentido se vierem juntas. "Uma depende da outra para que o mercado siga num ambiente saudável. Não faz nenhum sentido, portanto, a tentativa da Anatel de abrir o mercado às telefônicas sem nenhuma das salvaguardas da nova lei".