A necessidade de um espectro de frequências dedicado para que o 5G permita melhorias nas soluções de conectividade existentes e novas aplicações em ambientes produtivos mobiliza setores industriais no Brasil e no mundo.
O advento da nova geração de telefonia móvel deu destaque a pautas antigas, como a cobertura em áreas remotas, e é preciso que o órgão regulador contemple essas demandas no leilão de frequências do 5G.
Quando se considera que as definições do leilão ficarão em vigor por 20 anos, prorrogáveis por mais 20, essa necessidade se torna mais urgente. Não atender a demandas sinalizadas por diversos setores importantes da nossa economia pode resultar em atrasos ainda maiores na corrida para o desenvolvimento de novas tecnologias.
Voltando o olhar para as utilities ou serviços que possuem maiores níveis de criticidade, soluções confiáveis de radiocomunicação são fundamentais na operação, monitoramento e controle de ativos. Com um volume crescente de dispositivos conectados, somente redes privadas podem garantir a disponibilidade exigida para as operações dessas empresas.
Utilities brasileiras, há anos, vêm lidando com essa questão. Enquanto não há definições sobre a faixa de 450 – 470 MHz, judicializada pelas operadoras de telefonia, há casos de uso da faixa de 225 – 270 MHz.
Outros países avançam nessa pauta, com focos semelhantes e exemplos de operações utilizando faixas de frequências abaixo de 1 GHz – espectro ideal para oferecer resiliência e cobertura geográfica exigidos.
Nos Estados Unidos, a Comissão Federal de Comunicação (FCC) aprovou, em maio, o uso de 6 GHz no espectro de 900 MHz para redes privadas no setor público. Concessionárias norte-americanas de energia elétrica, ao lado de entidades representativas, apresentaram aos reguladores sugestões sobre o uso da faixa de 406,1 – 420 MHz.
Na Irlanda, os avanços envolvem o uso de blocos de 2 x 4 MHz para LTE na faixa de 410-430 MHz, aberta em licitação. Ainda na Europa, empresas alemãs contribuem propondo uma reserva nas frequências 451- 455,4 MHz / 461 – 465, 4 MHz, cujo uso atual definido pelo regulador expira em 2020. Seja na Polônia ou em Portugal – este último, com a faixa de 400 MHz possivelmente alocada para serviços de utilidade pública –, são diversos movimentos nessa direção no continente europeu.
No Oriente Médio, podemos destacar o exemplo de Bahrein, com 2 x 1,4 MHz na banda 410-430 MHz sendo destinados para uma rede nacional de serviços públicos.
Embora o setor de utilities no Brasil não esteja totalmente familiarizado com o mundo da regulamentação dos sistemas de comunicação por rádio, a UTC América Latina (UTCAL) está abrindo os caminhos para uma representação mais ativa em organismos internacionais, como a Comissão de Telecomunicações Interamericanas (Citel), vinculada à OEA, e a União Internacional de Telecomunicações (ITU), vinculada à ONU.
A UTCAL, associação sem fins lucrativos que dissemina informações sobre tecnologia e telecomunicações para missão crítica, vem apresentando pesquisas e relatórios com o intuito de mostrar a real necessidade, com destaque para o setor elétrico, de se ter redes privativas. Por meio de informativos, a UTCAL tem reunido atualizações do cenário global, como os passos mais recentes para implantação de redes LTE dedicadas no mundo, no primeiro semestre de 2020.
*Sobre o autor: Ronaldo Santarem é Vice-presidente da UTCAL