Para lucrar mais, operadoras precisam investir mais, recomenda Merrill Lynch

Enquanto operadoras no mundo inteiro lutam contra a queda da taxa de retorno dos seus investimentos, a recomendação do Bank of America Merryl Lynch parece contraditória e paradoxal. Para lucrar é preciso investir mais. Essa foi a mensagem transmitida pelo chefe da área de análise de investimentos Maurício Fernandes, em palestra realizada nesta terça, 10, na sede da Anatel.

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No Brasil, a relação entre investimento e receita está na casa dos 18%, enquanto que em mercados desenvolvidos essa relação é de 14%, 15%. Ou seja, no Brasil – e nos demais mercados emergentes – as operadoras investem um percentual maior da sua receita do que nos mercados mais desenvolvidos. O problema é que, ainda que esse número tenha crescido ao longo dos anos, o que mostra que as empresas têm investido cada vez mais, elas não têm conseguido retorno sobre esse investimento.

"Nos últimos anos, esse aumento da necessidade de investimento das operadoras não se traduziu em aumento de receita. Pelo contrário, o crescimento da receita só diminuiu ao longo dos anos", resume Maurício Fernandes.

E a saída para esse problema, na sua visão, é investir ainda mais. O executivo explica que as operadoras que têm conseguido boas margens são aquelas que investiram pesado no passado. Ele cita o exemplo da operadora suíça Swisccom, que tem obtido sucesso com um plano de banda larga móvel cobrado por velocidade, assim como na banda larga fixa. Obviamente, apenas com uma rede muito robusta a operadora poderá entregar um serviço que o usuário possa perceber valor em um plano com mais velocidade.

Outro caso citado por ele foi o da Verizon nos Estados Unidos, que tem uma margem EBTIDA da ordem de 50%, enquanto que no mundo a média gira entre 34% a 35%. A explicação para os bons números da Verizon foi o fato de ter investido antes das demais, o que permitiu a ela pegar a última fatia da população que ainda não tinha o serviço móvel. Com isso, a expectativa era que a receita média por usuário (ARPU) diminuísse, mas não foi isso que aconteceu. "Acho que em primeiro lugar tem o investimento feito antes; e segundo, a dificuldade da competição em investir nessa magnitude", explica ele.

Consolidação

Se a ordem é investir para não morrer, a consolidação, para a Merril Lynch,  aparece como uma forma de buscar uma escala maior. Nos EUA, a T-Mobile e a Sprint já estão em negociações avançadas para se consolidarem, pois só assim poderão incomodar a Verizon, mas Fernandes reconhece que o tema é espinhoso. "Como você vai falar com o regulador que é preciso diminuir o número de competidores para aumentar a competição. Isso não é trivial", admite.

Em relação ao mercado brasileiro, o que pode desencadear um processo de consolidação é a situação financeira das matrizes. Hoje, diz Fernandes, a Telecom Italia não precisa vender a TIM, mas no futuro isso pode mudar. "Talvez seja inevitável que o pouco retorno do capital investido ao redor do mundo possa levar a uma consolidação no mercado brasileiro. Isso não é trivial, será que a Telecom Italia quer vender, será que os outros têm balanço para comprar, tem questões regulatórias, tem o Cade", conjectura.

Uma eventual venda da TIM resolveria o problema da Telefônica, que recebeu um prazo (especula-se que seja de 18 meses) para que resolva sua participação cruzada na TIM e na Vivo. Uma das saídas mais comentadas seria o fatiamento da TIM para os players existentes, o que só pode ser feito com o convencimento do governo, já que é preciso alterar a regulamentação. "Não existe nenhuma fator que faça crer que as margens subiriam, já que os players são os mesmos, a inflação é até maior, a não ser a consolidação", afirma ele.

O cenário apresentado realmente não é nada animador para as operadoras. Até meados de 2012, a receita de telefonia móvel média crescia de 10% a 12% ao ano. Esse número foi diminuindo e hoje está em 3% ao ano. "Acho que a esperança é baixa em relação a isso. Ao longo de 2014, 2015 o crescimento vai ficar na casa dos 3% a 4% e os fatores são os fatores globais, mais a VU-M que continua caindo", analisa.

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