Enquanto nos EUA a oferta de serviços de vídeo por empresas de telecomunicações está baseada na reconstrução da rede e substituição por uma plataforma FTTx, baseada em fibras ópticas, no resto do mundo os demais exemplos de serviços de IPTV são, em geral, baseados na plataforma DSL. Durante a Globalcomm 2006, evento da indústria de telecomunicações norte-americana realizada esta semana em Chicago, algumas experiências mundiais foram apresentadas. Destaque para a PCCW, de Hong Kong, e para a Telefônica na Espanha.
O serviço Imagenio, da Telefônica, foi, segundo Jorge Ruano, gerente da unidade de serviços multimídia e TV da operadora espanhola, o que mais assinantes conquistou entre todos os serviços de TV paga da Espanha em 2005. Em pouco mais de um ano, chegou a 265 mil assinantes, o que significa metade dos assinantes de TV paga da Telefônica em seu país. Atualmente, o Imagenio está disponível em todas as capitais provinciais e mais em todas as cidades (140 ao todo) com mais de 100 mil habitantes. A oferta da telefônica é sobre ADSL2, com cerca de 50 canais de vídeo, 15 de áudio, vídeo sob demanda, pay-per-view, Internet TV e ainda todo o serviço de voz e dados agregado. Na verdade, toda a programação é, na prática, sob-demanda, pois fica armazena em um servidor e pode ser retrocedida e pausada a qualquer momento, por um período de 24 horas. Há ainda a biblioteca de títulos premium que podem ser adquiridos a qualquer momento. O custo do serviço triple play é de 52 euros, e a Telefônica começa a testar o uso da infra-estrutura de energia dos lares de seus clientes para oferecer acesso banda larga em outros cômodos. A operação da telefônica está baseada em uma rede cuja capacidade máxima é de 6 Mbps, que são dedicados ao stream de um canal (pouco mais de 4 Mbps), um tanto para navegação (1Mbps) e outro tanto para o serviço de voz. Segundo Jorge Ruano, o conceito da telefônica ao introduzir o serviço de IPTV na casa de um cliente é convergir todos os serviços do assinante para uma mesma plataforma IP. Ou seja, os serviços tradicionais são desativados, especialmente o de voz.
O próximo passo que a Telefônica pretende dar, já em 2007, é a introdução da tecnologia VDSL com velocidades de 30 Mbps a 60 Mbps, distribuindo então um canal em alta definição e mais seis canais simultâneos em definição padrão, para que diferentes cômodos de um casa servida pela mesma linha possam assistir a programações diferentes.
Recentemente, a Telefônica transferiu par a Lucent (sua principal parceira tecnológica) a maior parte dos ativos resultantes das atividades de pesquisa para IPTV. Segundo Ruano, pela falta de experiência no mundo, muito do que a Telefônica fez teve que ser desenvolvido internamente, o que ele não aconselha para outras operações. "Não era o nosso foco. Só fizemos porque não havia outra forma".
PCCW
O case da PCCW traz números mais impressionantes. Com cerca de 550 mil usuários do serviço de IPTV, a operadora de Hong Kong é o maior caso de venda de serviços de TV sobre uma plataforma DSL no mundo. Destes 550 mil assinantes, no entanto, 370 mil pagam pelo serviço. Os demais, só assistem à programação gratuita. De qualquer maneira, a penetração de IPTV está acima dos 65% da base de usuários banda larga da PCCW. São 10 canais vendidos em pacotes pequenos e customizáveis, modelo que foi assim escolhido para criar diferencial em relação a outras alternativas de TV paga. Até o final do ano a PCCW pretende chegar a 750 mil usuários de IPTV.
Acesso de 1 Gbps, para as massas
Enquanto a maior parte das operadoras de telecomunicações entrantes procura reproduzir o modelo das teles em termos de estratégia de venda, atacando primeiro as camadas mais abastadas para aos poucos reduzir preços e chegar às massas, uma operadora de Hong Kong, a City Telecom, está fazendo o impensável: oferecer serviços premium (e por serviços premium entenda-se, inclusive, acesso à Internet de 1 Gbps) com uma política de preços para as massas. A City Telecom talvez seja o único caso de uma operadora que não atacou apenas o filé, porque percebeu que não teria chance de sobreviver com a acirrada competição na cidade. Segundo Niq Lai, CFO da companhia, começando com produtos de ponta para as massas a operadora tem mais chance de avançar sobre a concorrência do que partindo de cima. "O mercado de Hong Kong é muito competitivo, a banda larga tem mais de 60% de penetração. É menos que a Coréia, mas não houve no nosso caso nenhuma ajuda do governo". O modelo da City Telecom tem basicamente três pacotes. Um inicial, de 10 Mbps, por US$ 18, um de 100 Mbps, por US$ 27 e um de 1 Gbps, por US$ 172. "Temos o menos custo por Mbps do mundo: US$ 0,14, no maior pacote".
A rede da operadora foi construída do zero, totalmente baseada na em arquiteturas FTTx até a entrada dos condomínios (basicamente todas as moradias em Hong Kong são em condomínios) e depois com uma rede LAN. "Nós não acreditamos em unbundling", diz o executivo.
O custo por domicílio de construção desta rede foi de US$ 130, o que é infinitamente menos do que a Verizon está gastando (US$ 3 mil por domicílio) para fazer a mesma coisa. A diferença está na alta concentração populacional, na predominância de condomínios e em uma facilidade regulatória: como todos os prédios são obrigados por lei a dar livre acesso às incumbents (e a City, mesmo sendo uma operadora competitiva, tem essa mesma prerrogativa), fica mais fácil fazer as instalações de redes internas e é possível desenhar a arquitetura de distribuição contando com pontos ópticos dentro de todos os prédios.
Com base na rede IP, a City oferece serviços de VoIP e vídeo sob demanda.