Dantas tenta explicar suas declarações conflitantes

O depoimento de Daniel Dantas na Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal nesta quarta, 7, foi uma longa tentativa (quase cinco horas de sessão) de explicar suas declarações conflitantes à CPMI dos Correios (no ano passado) e, mais recentemnte, à Justiça dos Estados Unidos e à revista Veja, neste caso, especialmente a entrevista ao colunista Diogo Mainardi. Apesar de haver declinado da prerrogativa oferecida pelo presidente da Comissão, senador Antônio Carlos Magalhães (PFL/BA), que lhe ofereceu a possibilidade de falar em primeiro lugar, logo depois da intervenção do senador Arthur Virgílio (PSDB/AM) como autor do requerimento, Dantas falou praticamente sem ser interrompido por mais de uma hora.
Na companhia de sua irmã Verônica Dantas, também convidada para a audiência, Dantas parecia muito à vontade, sendo inclusive chamado de senador pelo presidente da Comissão por duas vezes, provocando risos na sala. Apenas oito senadores estiveram presentes: Arthur Virgílio (PSDB/AM) e José Agripino (PFL/RN) autores do requerimento, Eduardo Suplicy (PT/SP), Ideli Salvatti (PT/SC), Romeu Tuma (PFL/SP) Gilvan Borges (PMDB/AP) e Ana Júlia Carepa (PT/PA). A Comissão de Constituição e Justiça tem 23 membros, alguns considerados lideranças influentes da casa, mas que não compareceram, como os senadores Aloísio Mercadante (PT/SP), Pedro Simon (PMDB/RS), Jefferson Peres (PDT/AM) e Ney Suassuna (PMDB/PB).

Achaque

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O senador Arthur Virgílio priorizou os pontos de interesse da oposição: tentou saber se Dantas confirmava as denúncias feitas por sua irmã e por ele mesmo à justiça de Nova York este ano, segundo as quais o grupo Opportunity havia sido achacado pelo PT (algo que o próprio Dantas havia negado à CPI dos Correios em setembro de 2005), e saber se de alguma maneira as empresas que na época era geridas por Dantas contribuíram com o valerioduto.
Virgílio não deixou de citar alguns pontos levantados recentemente pela nova administração da Brasil Telecom que denunciou gestão fraudulenta por parte do Opportunity à frente da empresa.
Em sua longa fala, para se defender das acusações de má administração na BrT, Dantas procurou desvincular-se da administração da empresa, argumentando que seu Opportunity administrava fundos em pelo menos 20 empresas diferentes e que não se inteirava da administração destas empresas. Este argumento serviu também para defender-se em relação às questões postas em relação à contratação da Kroll. Aliás, ele chegou a dizer que desconhecia o relatório da Kroll e que, sobre o assunto, tinha apenas participado de uma exposição feita nos Estados Unidos para o pessoal do Citigroup. Quando questionado sobre esta ignorância, Dantas chegou a insinuar que exigir que ele soubesse do que se passava na BrT era o equivalente a exigir que o presidente Lula tivesse conhecimento do ?mensalão? organizado pelos dirigentes do PT.
Na mesma linha, ele disse desconhecer totalmente a que causas os advogados contratados pela empresa se dedicam, especialmente Antônio Carlos de Almeida Costa, o Kakai (que mantinha relações de amizade com o ex-ministro José Dirceu) e que teria recebido mais de R$ 6 milhões da BrT, e Roberto Teixeira, amigo e compadre do presidente Lula, que recebeu R$ 1 milhão. A desculpa que deu foi a de que a empresa tinha mais de 60 advogados que trabalhavam para ela, mas que poderia perguntar à Carla Cico, ex-presidente da empresa, sobre a função pelo menos destes dois. Numa atitude curiosa, Dantas pediu à sua irmã, Verônica Dantas, que também se encontrava na mesa da CCJ, que ligasse naquele momento para Carla Cico para obter a informação. Evidentemente que a ex-presidente da empresa não foi encontrada por Verônica Dantas, mas esta se comprometeu em encaminhar esta solicitação à Comissão, o mais rápido possível.

Extorsão, só com arma

Já em relação às versões conflitantes sobre o suposto achaque do PT, o ponto mais complicado para Dantas, a saída foram artifícios semântios. Na CPI dos Correios Dantas negou claramente uma pergunta sobre "achaque ou extorsão". "Não houve", disse em setembro. Ao colunista Diogo Mainardi, da Veja, contudo, disse há cerca de um mês: "sim… houve extorsão inclusive de dezenas de milhões de dólares". Com isso, Dantas foi obrigado a dizer que seu advogado lhe havia instruído que somente se configuraria a extorsão no caso de uso de uma arma. Foi rebatido pelo deputado Arthur Virgílio, que lhe ofereceu a definição correta do Código Penal. Em seguida afirmou que o colunista Diogo Mainardi havia chegado à conclusão que teria havia extorsão do PT contra Dantas por conta própria. E que, inclusive, o colunista o teria avisado que ia escrever sua conclusão pessoal a partir dos fatos por ele (Dantas) relatados, e não a declaração do próprio Dantas de que não teria havido tal atitude. Ao responder ao senador Eduardo Suplicy, que o confrontou com a informação dada na CPMI dos Correios de que não teria havido pedido de dinheiro para campanhas eleitorais, ao contrário do que acabara de dizer (que Delúbio Soares pedira dinheiro para o pagamento de dívidas do partido) Dantas saiu-se com outra solução semântica: ?eles perguntaram se ele pediu dinheiro para campanha. Eu disse que não, porque ele pediu dinheiro para resolver problemas do partido. Não era dinheiro para campanha?. À senadora Ideli Salvatti (PT/SC), que o questionou sobre o mesmo tema, Dantas protagonizou uma cena anti-regimental devolvendo a pergunta à senadora: ?Se eu corrompi alguém, onde está o corrompido?? Com alguma irritação, a senadora reagiu perguntando ao senador ACM se Daniel Dantas a estava inquirindo, deixando claro que ele não tinha este direito. ACM deu razão à senadora.

Palco inadequado

Durante a audiência da Comissão de Constituição de Justiça do Senado Federal, a senadora Ideli Salvatti, líder do partido, não fez mais perguntas, mas manifestou seu inconformismo com o convite da Comissão ao banqueiro. A senadora do PT considera que neste momento em que se aguarda uma decisão da Justiça norte-americana acerca do processo do Citibank contra Dantas por má gestão, não era hora de oferecer um palco para o banqueiro. Dantas poderia, com isso, dizer ao juiz americano que havia sido convidado pela Comissão de Constituição e Justiça de seu país para prestar esclarecimentos e assim dar a seus argumentos uma importância maior. Na opinião de Salvatti, o depoimento na CCJ não acrescentaria nada às investigações que vêm sendo feitas sobre a atuação de Dantas ?nos quatro cantos do mundo?. Para ela, as investigações estão no lugar onde deveriam estar: nas diversas instâncias da Justiça, no Ministério Público e na Polícia Federal.
Ideli Salvatti também questionou a intervenção do senador José Agripino, que ao indagar Dantas sobre os presumíveis R$ 200 milhões de sobre-preço pagos à Telefonica pela aquisição da Companhia Riograndense de Telecomunicações(CRT), em 1999, afirmou que este valor era quatro vezes maior que o valor que Delúbio pediu ao Opportunity em 2004. Para a senadora, teria havido uma insinuação grosseira de que uma coisa (da época do governo Fernando Henrique) tão afastada da outra no tempo estivesse intimamente relacionada: ?É para permitir este tipo de ligação que esta audiência está sendo realizada neste momento pré-eleitoral?, acusou a senadora.

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