Desafios e oportunidades em tempos de Covid-19

Luiz Eduardo Viotti
Luiz Eduardo Viotti é senior advisor da NAE.Global

A crise gerada pela COVID-19 está colocando a prova os mecanismos que unem a sociedade e as engrenagens da economia global. Estamos enfrentando nos âmbitos sociais e econômicos desafios jamais enfrentados por nossa geração e que nos fazem questionar qual o papel e os obstáculos a serem enfrentados pelo setor de Telecomunicações neste novo cenário.

O protagonismo do setor no Brasil já é evidente dado seu papel central como viabilizador da sociedade do conhecimento e de facilitador do ecossistema de inovação e da inclusão digital. Nos últimos anos alcançamos patamares notáveis de penetração na telefonia móvel e na banda larga no país. Nosso arcabouço regulatório amadureceu nos últimos 20 anos e temos hoje um ambiente competitivo que permite aos usuários, seja no varejo ou no segmento empresarial, terem liberdade de escolha, ofertas a preços atraentes e garantia da qualidade dos serviços prestados.

Nesse contexto, os principais players do setor deverão usufruir deste protagonismo e intensificar suas ações que permitirão, simultaneamente, reduzir os impactos da pandemia sobre a nossa sociedade no curto prazo e acelerar a transformação que permitirá o reposicionamento das relações com seus clientes e parceiros de negócio quando nos encontrarmos no "novo normal" pós pandemia.

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Responsabilidade Social, Corporativa e Gestão da Marca

Governos, empresas e cidadãos percebem o setor como essencial para o bom funcionamento da sociedade e da economia. Ações no sentido de permitir às distintas esferas de governo acessar dados anonimizados de seus clientes para gerenciarem a evolução da crise sanitária,  conceder complemento de renda para funcionários da empresa com contratos de trabalho suspenso e oferecer aos clientes pacotes de dados, serviços digitais e streaming de vídeos mais atrativos são exemplos de prontidão e responsabilidade social dados pelas principais operadoras do país.

Respostas diante da contração do mercado

A recessão inevitável como consequência da pandemia e seus desdobramentos obrigarão a revisões dos planos de negócios e expectativas de crescimento. O aumento esperado do churn em alguns segmentos poderá não ser compensado pelo provável crescimento do MoU (minutes of use) em outros, portanto, a busca por eficiência na implantação de CAPEX deve acelerar os acordos de compartilhamento de infraestrutura, como o recém aprovado pelo CADE entre VIVO e TIM, visando a preservação do retorno sobre os investimentos realizados.

Resiliência dos serviços

Análises de riscos consistentes e tempestivas e seus desdobramentos em ações de contingenciamento de redes, segurança da informação, relações transparentes com fornecedores de equipamentos e parceiros de serviços digitais deverão permitir a continuidade e qualidade de serviços em um momento em que os picos de utilização das redes de telecomunicações estarão alcançando o limite da sua capacidade.  

Diversificação e Crescimento

A importância relativa dos atributos preço, qualidade e segurança na percepção e disposição de compra dos usuários será alterada de maneira imprevisível em função do atual momento em que profissionais de diversos segmentos são obrigados a trabalhar a partir de suas residências. Serviços que passaram a ser gratuitos durante a crise poderão nunca mais ser monetizáveis. Por outro lado serviços de tecnologia aplicáveis ao mundo corporativo como disponibilidade de capacidade de servidores na nuvem, infraestrutura para IoT, aplicações de ciência de dados e inteligência artificial como mobilidade, credit scoring, dentre outros, tendem a ter sua demanda significativamente ampliada.

Digitalização

A transformação digital de processos em toda cadeia de valor, já iniciada há alguns anos, irá permear todas as camadas do negócio de forma inexorável e avassaladora.  Da virtualização de redes com a aceleração do deployment de tecnologias SDN e NFV, passando pelo fortalecimento dos canais digitais para garantir aos usuários os benefícios da omnicanalidade, ampliando assim, de forma exponencial, as possibilidades de novas parcerias com o ecossistema de inovação e consequente criação de novos serviços de valor adicionado.

Sustentabilidade

A inevitável contração da demanda de alguns segmentos como PMEs (pequenas e médias empresas) e trabalhadores autônomos de baixa renda trarão pressão adicional ao caixa das empresas. A contínua segmentação da base de clientes que implicará em maior customização da oferta de ofertas de baixo custo e serviços convergentes é a chave para reduzir a volatilidade de caixa e manter a transição acelerada da base de clientes pré-pagos para modelos de negócios que garantam maior previsibilidade de receita como pacotes controle e pós-pago.

*- Sobre o autor: Luiz Eduardo Viotti é Sênior Advisor da consultoria NAE.Global e Managing Director da Kido Dynamics

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