Operadoras e fornecedores divergem na estratégia para OTTs

Na guerra da banda larga fixa, a demanda da capacidade esbarra na oferta de conteúdo e no desafio de expansão da infraestrutura. E enquanto a TIM aposta na estratégia de oferecer incentivos a serviços over-the-top (OTT) de terceiros para justificar sua própria oferta de conexão, a Net segue um caminho oposto, mesmo que isso tenha consequências no debate da neutralidade de rede. Tanto que o presidente da Net Serviços, José Felix, foi categórico durante o Broadband Forum Latin America nesta terça, 3, em São Paulo: para haver parcerias com OTTs, é preciso compensar as operadoras. "As OTTs na verdade usam as redes sem pagar um centavo por elas, nós temos é que tentar encontrar um modelo de negócios que seja viável para todos, porque certamente, se houver uma situação de desequilíbrio, alguém vai parar de investir em redes", disse.

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Felix argumenta que já há um ganho para as empresas de telecomunicações por conta do aumento da demanda, "mas poderia ser mais, frente aos investimentos em redes de transporte". "O vídeo on-demand é um pedaço da coisa toda, por isso custa baratinho. No dia em que ele for a coisa toda, não vai custar R$ 16,90", declara.

Na visão do executivo da Net, o acordo firmado entre a operadora norte-americana Comcast e a Netflix é saudável, mas ele dá uma visão bem mais conservadora do que a proposta de acordos gratuitos de CDN pela companhia OTT à Anatel nesta terça-feira. "Não deveria ser proibido a Netflix dizer que 'tudo bem, é igual para todos, mas eu quero contratar de vocês para oferecer mais qualidade para meus clientes, eu pago R$ 2 e tenho super banda garantida'. Não deveria ser um problema isso, não se está alijando do jogo outros players, está simplesmente abrindo novo canal diferenciado para quem quer pagar por aquele canal", argumenta.

Para a TIM, a vantagem é que "há pressão de consumo e pressão de imposto bem elevado, e tem que chegar a um equilíbrio dentro da sustentabilidade econômica", segundo o diretor de marketing da TIM Fiber, Flávio Lang. A empresa anunciou nesta terça a oferta de um set-top box focado em over-the-tops, o Blue Box.

O CTO da Huawei, José Augusto de Oliveira Neto, sugeriu no evento que as operadoras conversem mais com os OTTs para realizarem parcerias. "A sugestão é um ecossistema VTT (Via The Telco), no qual provedores de conteúdo colaboram com operadoras que proporcionam acesso de qualidade e os assinantes demandam cada vez mais conteúdo", sugere.

Cobre vs. Fibra

Oliveira Neto diz que, para garantir a capacidade para ofertar o conteúdo das OTTs, as empresas precisam oferecer soluções temporárias como TD-LTE fixo, ou acesso em redes de cobre com tecnologias como VDSL2 vectoring ou G.fast. "Acelera o throughput e unifica as redes, e isso traz melhor experiência e reduz o churn." A empresa ainda apresentou durante o evento o roteador de switcher Atom Router, que permite o monitoramento da rede pelo centro de gerência da Huawei, oferecendo visibilidade a custo baixo.

O diretor de FTTH da Telefônica/Vivo, André Kriger, rechaça a ideia de aproveitar a infraestrutura legada, embora reconheça que, em lugares com menor densidade, o cobre ainda é a solução. Para os lugares de grande concentração, no entanto, a solução para a empresa é a fibra até a residência. "A gente tem que ver o quanto as soluções como G.fast e vectoring compensam. Nas contas que fiz, fica elas por elas, então para mim faz mais sentido ter fibra", justifica. Ele diz que precisa fazer overlay na rede de cobre, resultando em duplo custo no Opex. "Precisamos manter o cobre funcionando, ainda temos redes TDM, tem um sobrecusto. Mas, a partir do momento em que conseguimos avançar a migração, tirando o cliente do cobre e levando para a fibra, a redução é total no Opex", compara. Ele ainda ressalta a vantagem de não precisar de elementos ativos na rua, já que a rede ótica não demanda a obtenção de eletricidade no varejo.

Para a On Telecom, as soluções híbridas são ideais para prover a capacidade de OTTs – o vídeo já representa 75% do consumo da base de clientes da empresa. "Nós trabalhamos com 4G (com TD-LTE em 2,5 GHz para acesso fixo) e temos observado que realmente há necessidade de migrar, fazer rede híbrida com ótica. Já temos 2 mil km de rede ótica para misturar com o 4G, porque entendemos que o LTE só não é suficiente", explica o vice-presidente da operadora, Fernando Secali.

Segundo ele, a On está com uma base de 20 mil a 25 mil clientes antes de completar um ano de operação. E há planos para expansão. "Mesmo no interior de São Paulo, o plano de ocupação de três anos foi vencido em dois meses, então já estamos na terceira expansão", comemora. "A demanda existe e ainda é muito reprimida, nossa operação entrante tem se mostrado eficiente. Estamos pensando em expansão de cidades", diz Secali. A empresa conta com 50% das torres com backhaul de fibra, com o restante sendo servido com micro-ondas.

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