Com apenas três modificações de redação que não alteram o conteúdo da minuta divulgada pelo Ministério das Comunicações, após negociação com as empresas em reunião no Palácio da Alvorada na semana passada, o presidente Lula publica na edição do Diário Oficial desta quarta, 11, o Decreto 4.733, de 10 de junho de 2003, que dispõe sobre políticas públicas de telecomunicações. A parte mais substancial do decreto (artigo 7º) diz respeito às orientações do governo que deverão ser observadas na renovação dos contratos de concessão da telefonia fixa. Confira a íntegra do decreto como publicado no Diário Oficial:
DECRETO Nº- 4.733, DE 10 DE JUNHO DE 2003
Dispõe sobre políticas públicas de telecomunicações
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe conferem os arts. 76 e 84, incisos II e IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto nos arts. 1º- e 2º- da Lei nº- 9.472, de 16 de junho de 1997,
D E C R E T A :
Art. 1º- As políticas públicas de telecomunicações, abrangendo a organização da exploração dos serviços de telecomunicações e, entre outros aspectos, a indústria e o desenvolvimento tecnológico, nos termos dos arts. 1º- e 2º- da Lei nº- 9.472, de 16 de julho de 1997, obedecerão aos objetivos e às diretrizes estabelecidos neste Decreto.
Art. 2º- Os órgãos da Administração Pública Federal, inclusive suas entidades vinculadas, observarão, no exercício de suas competências, o disposto neste Decreto e em outras normas que versem sobre políticas para o setor de telecomunicações.
Art. 3º- As políticas para as telecomunicações têm como finalidade primordial atender ao cidadão, observando, entre outros, os seguintes objetivos gerais:
I – a inclusão social;
II – a universalização, nos termos da Lei nº- 9.472, de 1997;
III – contribuir efetivamente para a otimização e modernização dos programas de Governo e da prestação dos serviços públicos;
IV – integrar as ações do setor de telecomunicações a outros setores indispensáveis à promoção do desenvolvimento econômico e social do País;
V – estimular o desenvolvimento industrial brasileiro no setor;
VI – fomentar a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico do setor;
VII – garantir adequado atendimento na prestação dos serviços de telecomunicações;
VIII – estimular a geração de empregos e a capacitação da mão-de-obra; e
IX – estimular a competição ampla, livre e justa entre as empresas exploradoras de serviços de telecomunicações, com vistas a promover a diversidade dos serviços com qualidade e a preços acessíveis à população.
Art. 4º- As políticas relativas aos serviços de telecomunicações objetivam:
I – assegurar o acesso individualizado de todos os cidadãos a pelo menos um serviço de telecomunicação e a modicidade das tarifas;
II – garantir o acesso a todos os cidadãos à Rede Mundial de Computadores (Internet);
III – o atendimento às necessidades das populações rurais;
IV – o estímulo ao desenvolvimento dos serviços de forma a aperfeiçoar e a ampliar o acesso, de toda a população, às telecomunicações, sob condições de tarifas e de preços justos e razoáveis;
V – a promoção do desenvolvimento e a implantação de formas de fixação, reajuste e revisão de tarifas dos serviços, por intermédio de modelos que assegurem relação justa e coerente entre o custo do serviço e o valor a ser cobrado por sua prestação, assegurado o equilíbrio econômico-financeiro do contrato;
VI – a garantia do atendimento adequado às necessidades dos cidadãos, relativas aos serviços de telecomunicações com garantia de qualidade;
VII – a organização do serviço de telecomunicações visando inclusão social.
Art. 5º- As políticas relativas à indústria de telecomunicações deverão contribuir para a absorção e desenvolvimento local, norteando- se pelos princípios e objetivos descritos nas Leis nºs – 9.998, de 17 de agosto de 2000, e 10.052, de 28 de novembro de 2000.
Art. 6º- As políticas relativas ao desenvolvimento tecnológico das telecomunicações objetivam:
I – a promoção da pesquisa e o desenvolvimento de soluções tecnológicas voltadas, preferencialmente, para as necessidades e condições sócio-econômicas da população;
II – a aplicação prioritária dos recursos do Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações – FUNTTEL e de outros estímulos existentes em projetos e programas que contemplem as soluções tecnológicas mencionadas no inciso I;
III – o aproveitamento das oportunidades geradas pelas transições e pelo processo de convergência tecnológica, para ampliar a tecnologia nacional no setor de telecomunicações;
IV – a garantia de que o desenvolvimento tecnológico do setor esteja diretamente destinado ao benefício social de seus resultados; e
V – o incentivo às instituições de pesquisa a desenvolverem novas tecnologias de acesso a serviços de telecomunicações.
Art. 7º- A implementação das políticas de que trata este Decreto, quando da regulação dos serviços de telefonia fixa comutada, do estabelecimento das metas de qualidade e da definição das cláusulas dos contratos de concessão, a vigorarem a partir de 1º- de janeiro de 2006, deverá garantir, ainda, a aplicação, nos limites da lei, das seguintes diretrizes:
I – a definição das tarifas de interconexão e dos preços de disponibilização de elementos de rede dar-se-á por meio da adoção de modelo de custo de longo prazo, preservadas as condições econômicas necessárias para cumprimento e manutenção das metas de universalização pelas concessionárias;
II – a definição do reajuste das tarifas de público será baseada em modelo de teto de preços com a adoção de fator de produtividade, construído mediante a aplicação de sistema de otimização de custos a ser implementado pela agência reguladora;
III – a definição e a classificação de Localidade, para efeito de serviços de telecomunicações, deverão considerar os critérios adotados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE;
IV – o conceito de Área Local levará em conta o crescente processo de urbanização da população e as peculiaridades regionais;
V – o acesso ao enlace local pelas empresas exploradoras concorrentes, prestadoras de serviços de telecomunicações de interesse coletivo, será garantido mediante a disponibilização de elementos de rede necessários à adequada prestação do serviço;
VI – a revenda do serviço de telecomunicações das concessionárias deverá ser garantida às empresas exploradoras concorrentes;
VII – as modalidades de serviço de telecomunicação – local, longa distância nacional e longa distância internacional – terão contabilidade separada;
VIII – a possibilidade de ser assegurada aos assinantes de serviço de telecomunicações, residenciais e não residenciais, a portabilidade do número local;
IX – a possibilidade de ser assegurada, em todo o território nacional, a portabilidade dos códigos não geográficos;
X – a fatura das chamadas locais deverá, com ônus e a pedido do assinante, ser detalhada quanto ao número chamado, duração, valor, data e hora de cada chamada;
XI – a fatura das chamadas de longa distância nacional e internacional deverá, sem ônus para o assinante, informar o número chamado, duração, valor, data e hora de cada chamada;
XII – independentemente da quantidade de exploradoras envolvidas na prestação do serviço, deverá ser assegurada ao assinante a emissão de fatura única;
XIII – ao assinante serão assegurados meios de aferição dos serviços efetivamente utilizados; e
XIV – as participações acionárias, diretas ou indiretas, de pessoas jurídicas nacionais ou estrangeiras, em empresas exploradoras de serviços de telecomunicações deverão ser transparentes, de modo a permitir o conhecimento da composição de seu capital e a verificação do atendimento, entre outras, das exigências legais relacionadas com a competição efetiva, a desconcentração econômica do mercado, a idoneidade para a contratação e a exeqüibilidade do contrato;
XV – a viabilidade econômica da prestação do serviço em regime público será assegurada, em âmbito nacional, regional, local ou em áreas determinadas, quando concomitante com sua exploração em regime privado.
§ 1º- O modelo a que se refere o inciso I deste artigo será construído mediante a aplicação de sistema de otimização de custos, a ser implementado pela agência reguladora, considerando os custos de amortização dos investimentos realizados para a prestação do Serviço Telefônico Fixo Comutado – STFC e as tarifas de interconexão das redes de suporte aos diversos serviços de telecomunicações, de forma sistêmica e balanceada, abrangendo todos os segmentos socioeconômicos e geográficos.
§ 2º- Na fixação dos casos e condições em que se dará o acesso ao enlace local referido no inciso V deste artigo, bem como para a revenda mencionada no inciso VI, a agência reguladora, para garantir a justa competição, observará, entre outros, o princípio do maior benefício ao usuário, o interesse social e econômico do País e a justa remuneração da prestadora do serviço no regime público.
Art. 8º- A Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL ao proceder à análise dos atos a que se refere o art. 7º-, § 1º-, da Lei nº- 9.472, de 1997, deverá dar-lhes transparência e publicidade, estimulando a concorrência, nos termos da regulamentação, respeitadas as garantias de confidencialidade das informações.
Art. 9º- Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 10 de junho de 2003; 182º- da Independência e 115º da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Miro Teixeira