As ações da AT&T subiram mais de 20% nesta quarta-feira, depois de divulgados os seus resultados do primeiro trimestre, com lucro líquido de US$ 571 bilhões contra prejuízos de US$ 975 milhões em igual período do ano passado. A alta foi um dos maiores fatores de influência sobre o índice de telecom dos Estados Unidos. Enquanto o índice Dow Jones caiu no período 2,73%, o segmento de telefonia fixa (no qual se inclui a longa distância) subiu 6,01%.
Mais do que esses números, porém, o que está agitando o mercado de telecomunicações em geral e o norte-americano, em particular, são os rumores de uma nova rodada de fusões envolvendo a BellSouth e a AT&T. Rumores, é claro, negados pelas duas partes.
De fato, apenas pelos resultados, não se justificaria a súbita especulação com a AT&T. Afinal, a operação da companhia não anda tão bem. As receitas caíram 5,9%, para US$ 9 bilhões, e as vendas despencaram 17,8% entre clientes residenciais e 1,4% no segmento corporativo. Vale lembrar ainda que na segunda-feira, 21, a AT&T solicitou concordata para suas subsidiárias latino-americanas (inclusive a brasileira), dando tempo para se reestruturar e achar um comprador. Os débitos do grupo chegam a US$ 22,6 bilhões, que representam mais do que o dobro de seu valor de mercado (US$ 10,8 bilhões, depois das sucessivas quedas de suas ações).
Especulações
O que está começando a incendiar a imaginação dos analistas e investidores – e o que justifica realmente as especulações sobre a fusão — é a seguinte ordem de raciocínio: muitas operadoras já não têm como administrar dívidas tão altas ao lado de restrita capacidade de melhora da geração de caixa; o negócio não cresce ao passo que os "papagaios" vão batendo na porta. E isso não apenas devido à redução do ritmo de atividade econômica: a concorrência cresce, enquanto, no lugar de uma segunda ou terceira linha, os consumidores preferem ficar com o celular e um acesso à internet de banda larga (uma área em que as telefônicas têm a companhia desagradável das operadoras de cabo).
Além disso, a compra de operadoras já atuantes em quase todos os segmentos, como a AT&T, com preço de mercado tão baixo é mais interessante do que aumentar investimentos em propaganda e marketing, em que a guerra de preços é mais um fator negativo. Para se ter idéia de quanto a AT&T está barata, nos seus US$ 10,8 bilhões, basta observar que a Bell South vale US$ 40,3 bilhões, a SBC US$ 66,3 bilhões e a Verizon US$ 92 bilhões.
Os analistas acreditam que o negócio é especialmente vantajoso, porque é complementar à BellSouth, que atua em apenas nove estados. Aliás, lembram que a companhia, que controla no Brasil, com a família Safra, a BCP, já manifestou interesse na AT&T em 2001. O negócio só não teria saído porque ela não queria a operação a cabo da AT&T, extremamente deficitária e que já foi retirada dos ativos da empresa. Somadas as duas companhias, a dívida total subiria para US$ 40 bilhões.
O que fazer com a dívida
Os analistas já têm na ponta da língua o que a AT&T pode fazer com a sua dívida de US$ 22,6 bilhões para viabilizar o negócio. O modelo que deve ser tomado como padrão daqui para frente é o da WorldCom, agora denominada MCI: os credores trocam dívida por participação acionária. No caso da MCI, a dívida de R$ 36 bilhões caiu para US$ 5 bilhões.
Esse padrão, aliás, é justamente o que a BellSouth está procurando impor no Brasil nas negociações para a venda da BCP. Só que, por aqui, os credores resistem em assimilar perdas.