Operadores se deparam com o paradoxo da infraestrutura que vale mais que a operação inteira

Christel Heydemann, CEO da Orange, durante o MWC 2023

O Mobile World Congress, principal evento do mercado de telecomunicações, que acontece esta semana em Barcelona, é tradicionalmente um encontro em que as grandes operadoras costumam enfatizar e reforçar lamentações e dificuldades da indústria. Não é de hoje que as operadoras, sobretudo europeias, reclamam das assimetrias com as empresas de Internet, pedem colaboração nos investimentos em rede, reclamam por um ambiente de menor regulação para seus serviços, esforços de roaming etc. E na edição de 2023 não foi diferente. Mas no meio de tantos problemas e demandas já conhecidas, surgem novos argumentos, e um deles especialmente tem uma relação direta com a realidade brasileira: o surgimento de um mercado de empresas de redes (que no Brasil chamamos de redes neutras).

Christel Heydemann, CEO da Orange, levanta uma indagação: por que estas empresas de infraestrutura pura, muitas vezes segregadas das operadoras de serviços, acabam sendo mais bem avaliadas no mercado financeiro e junto a investidores do que as próprias operadoras originais?

É uma pergunta pertinente, já que as operadoras de telecomunicações que muitas vezes deram origem a essas redes segregadas amargam com avaliações modestas junto aos mesmos investidores que sobrevalorizam as empresas digitais e as empresas de infraestrutura.

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A explicação, segundo a executiva, está justamente nos velhos problemas: enquanto o mercado de telecom é fortemente regulado, o mercado de redes surge sem a mesma carga de obrigações. "Nesse cenário, sempre ficamos estimulados a vender as nossas redes", diz a executiva.

Não foi a única a trazer o tema. Pietro Labriola, ex-presidente da TIM Brasil e hoje presidente do Grupo TIM, também apontou em sua apresentação no Mobile World Congress o fato de que a infraestrutura das redes de telecomunicações tem mais valor do que as operadoras em si. "Vimos essa lógica surgir no mercado de torres e o mesmo acontece no mercado de fibra. São infraestruturas com valor e que recebem a atenção de fundos de investimentos", disse Labriola.

A explicação é o fato de terem receita recorrente, pouca competição e nenhuma obrigação regulatória.

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