Em sua participação na Conferência Internacional sobre Perspectivas das Telecomunicações nas Américas e Europa, realizada nesta segunda, 28, em Brasília, o secretário de comunicação da Argentina, Mário Moreno, revelou insatisfação com o modelo de privatização adotado por seu país. Moreno lembrou que a privatização das telecomunicações na Argentina destruiu a capacidade de produção industrial do país, especialmente porque não interessava aos novos controladores (na ocasião da privatização, as estatais da Espanha, França e Itália dividiram o país ficando com as outorgas) manter a produção de equipamentos na Argentina, e sim importar de seus países de origem. Além disso, Moreno mostrou que não foram feitos os investimentos prometidos para a melhoria da infra-estrutura do setor e os novos controladores ganharam muito dinheiro apenas com a infra-estrutura existente.
Essa constatação, aliás, leva o governo argentino a acreditar que a solução para o aumento da competição no país passa pela possibilidade de garantir aos novos entrantes financiamento para a construção de suas próprias redes. O raciocínio de Moreno é bastante simples: se o governo garante para as entrantes a diferença de custo da construção de uma nova rede de telecomunicações em relação ao valor que a incumbent cobraria pelo aluguel da sua rede, é evidente que a incumbent fará de tudo? para alugar sua rede à entrante, até para aumentar seus lucros.
Outra proposta polêmica do secretário argentino diz respeito à utilização dos recursos recolhidos como fundo de universalização das telecomunicações no país vizinho. Lá, como aqui, o governo ainda não usou os recursos do fundo. Ao contrário do governo brasileiro, que tem "crise de consciência", o secretário argentino afirma que não usou e não usará esses recursos, porque estes seriam para cumprir metas de universalização que deveriam estar sendo cumpridas pelas empresas. E estas empresas, disse ele, têm alta lucratividade sem melhorar sua rede de telecomunicações.
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