Falta de mão de obra e retorno incerto travam avanço de redes privativas

Redes privativas. Divulgação: Siemens

A falta de mão de obra qualificada e a imprevisibilidade quanto ao retorno de investimentos nas redes 5G são pontos a serem solucionados para a expansão das redes privativas, afirmaram especialistas no setor de telecomunicações.

Segundo o vice-presidente de relações públicas da Huawei na América Latina e Caribe, Atilio Rulli, o maior desafio, hoje, é que o ecossistema de players especializados neste tipo de rede ainda é escasso. Da mesma forma, a questão da mão de obra qualificada no setor seria fator preponderante.

"Nós temos ainda poucas empresas, como as startups das grandes empresas, [especializadas] em implementar as redes privativas e conhecer os seus desafios e aplicações. E nós temos muitas aplicações, que são o lado benéfico da rede privativa", disse o executivo, durante debate do jornal O Globo, nesta segunda-feira, 27, no Rio de Janeiro. 

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"As empresas têm que ter especialistas em operar suas redes privativas, senão você também vai depender dos provedores dessas redes ou de contratar isso como serviço", diz. "Não só a pessoa tem que ter o conhecimento em casa. É necessário um ciclo virtuoso de capacitação desse pessoal, porque a necessidade de mão de obra é muito maior do que o que tem disponível no mercado."

Rulli acredita que essas aplicações devem ser construídas por meio da cooperação entre universidades e empresas de tecnologia, tanto nacionais como internacionais.

Retorno

O porta-voz da Huawei mencionou estudo da consultoria IDC que mostra que o Brasil tinha, em 2023, cerca de 100 redes privativas – um patamar considerado baixo, na comparação com as mais de 50 mil indústrias de diferentes setores da economia, frisou.

Uma das apostas são os recursos da Nova Política Industrial. Em janeiro, o governo federal anunciou um plano de R$ 300 bilhões para revitalizar a indústria do país, com telecom figurando como parte importante da iniciativa. Para Vinicius Caram, superintendente da Anatel, o movimento pode impulsionar a participação do setor privado.

"Esse novo programa é mandatório. Quando a gente fala em 5G, o empresário tem uma insegurança de quanto ele vai gastar, qual será a taxa de retorno e quanto tem que avançar", afirmou Caram.

Ainda acordo com o superintendente da Anatel, no caso do 5G, o retorno para os empresários e investidores em termos de ganhos de eficiência e competitividade supera os 10%, o que poderia resultar em um incremento do PIB de 1% ao ano com a adoção em larga escala.

Mais segurança

De acordo com Rulli, da Huawei, as redes privativas no 5G têm ganhos consideráveis sobre aquelas estruturadas em redes de quarta geração, como a performance, velocidade, capacidade, densidade de cobertura de dispositivos por quilômetro quadrado, baixa latência e segurança. No 4G, são 128 bits de criptografia, ao passo que o 5G conta com até 256 bits, por exemplo.

"Isso não é só o dobro, é muitas vezes mais do que o dobro pela capacidade. O 4G tinha somente a identidade da informação. O que é a identidade? Quando você transmite um dado de um lugar para o outro, você identifica a origem. O 5G tem identidade e integridade. A integridade é a origem e se essa mensagem não foi interceptada e alterada entre a origem e o destino", explicou Rulli.

No aspecto de segurança cibernética, Hermano Barros Tercius, secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações (MCom), ressaltou a criação do Comitê Nacional de Cibersegurança, que é integrado pelo próprio MCom e Anatel, com a coordenação do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

Além disso, ele também destacou que o governo tem trabalhado na segurança cibernética dos dispositivos. Em um dos exemplos, Tercius afirma que, hoje, na exigência de homologação de um produto para a oferta posterior no mercado, a Anatel passou a incorporar os requisitos de segurança cibernética.

"Se você tem uma câmera, por exemplo, não adianta sua rede toda estar protegida se aquele seu dispositivo vem com algum tipo de falha. Quando a gente vê os problemas de segurança cibernética, o maior problema ainda é a falha humana", disse o secretário.

Para solucionar a falta de conhecimento de uma parcela dos usuários, a agência passou a proibir, na configuração de fábrica, senhas padrões, como "1, 2, 3, 4, 5, 6". "Pode parecer simples, mas (a falha humana) é o maior problema da segurança cibernética hoje."

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