Mesmo com uso de TICs, pandemia foi uma catástrofe para educação, diz Unesco

Claudia Uribe, diretora da OREALC-UNESCO

Para Claudia Uribe, diretora do escritório da Unesco para a América Latina, a América Latina enfrenta o desafio do aumento das desigualdades no pós-pandemia, e especialmente o setor de educação foi profundamente afetado, com uma imensa defasagem educacional.

Ela ponderou que esta defasagem pode prejudicar ainda mais o déficit de capacitação em áreas de tecnologia já existente hoje. Ela participou do evento LAC ICT Talent 22, organizado pela entidade, pela Huawei e pela agência EFE, realizado esta semana na Cidade do México.

"A Unesco pede para que se priorize as populações marginalizadas e excluídas", diz a diretora.

Notícias relacionadas

Para Valtencir Mendes, chefe da área de educação do escritório da Unesco para a América Latina, antes da pandemia, 6 de cada 10 crianças não chegavam às mínimas competências em escrita e matemática. " E se o foco é apenas em matemática, só 17% chegam ao mínimo. Isso é de antes da pandemia. Em alguns países as escolas ficaram fechadas por mais de 2 anos. Mesmo que tenha havido casos de sucesso, o contato pessoal não tem comparação e é muito importante para a educação. São mais de dois anos de perda de aprendizagem. Há uma catástrofe educacional, por isso convocamos um summit dos chefes de Estado (para discutir o tema). A tarefa é titânica, para que não se perca uma geração. Esse número de 260 milhões de jovens vai aumentar ainda mais e por isso chamamos toda a sociedade para que juntos, com governo, sociedade civil, empresas, se possa achar uma solução".

Segundo Valtencir Mendes, em conversa com esse noticiário, o fato pelo qual as tecnologias da informação não foram suficientes para impedir essa defasagem de aprendizado foi a falta de planejamento e políticas públicas anteriores à pandemia, que previssem não apenas o acesso à conectividade fora do ambiente escolar, mas também acesso a dispositivos, acessos aos serviços de Internet, conteúdos adequados para educação conectada, capacitação de estudantes e educadores para o uso da tecnologia e projetos pedagógicos.

Manter esforços

Segundo Valtencir Mendes, é fundamental que os governos mantenham os esforços que foram criados durante o período da pandemia para desenvolverem políticas públicas de educação conectada. "São políticas importantes em outras circunstâncias, como para o atendimento de pessoas que estejam impossibilitadas de ir à escola, ou em situações de emergência climática ou ambiental, ou pessoas que vivem distantes dos centros de educação". 

Ele considera essencial assegurar conectividade em escolas e também conectar estudantes e professores.

Para Fernando Salvatierra, especialista do programa de TICs do Instituto de Planejamento da Educação da Unesco, 32% dos habitantes da América Latina não conseguiram conexão à Internet no período da pandemia (a pesquisa não incluiu o Brasil), sendo que 46% das crianças de 5 a 12 anos viviam em locais sem conexão. Em termos de escolas conectadas, segundo o levantamento da Unesco, apenas 44% das escolas primárias e 66% das escolas secundárias tinham conectividade.

Para ele, assegurar o acesso aos domicílios e estudantes foi determinante para o período da pandemia e é a política que deve ser perseguida. "Quando estudantes não tinham acesso à Internet ou a dispositivos, inviabilizou-se completamente o acesso à educação, sobretudo para pessoas mais pobres".

Para ele, aqueles países que asseguraram o acesso tiveram mais sucesso e terão mais chance de inovar em programas de ensino baseados em tecnologia. "O acesso é o básico, mas é preciso também pensar na integração de plataformas de TICs aos modelos de aprendizado. O que vimos na pandemia foi uma grande fragmentação de iniciativas". 

A Unesco deve manter estudos sobre o desenvolvimento de modelos de educação conectada, e o Brasil deve ser incluído nos próximos levantamentos, diz ele. "Países muito federalizados, como o Brasil, apresentam dificuldades adicionais, porque as políticas nacionais acabam sendo implementadas de maneiras distintas". 

Para ele, é importante redesenhar os modelos educacionais para uma integração mais completa com as TICs. (O jornalista viajou ao México a convite da Huawei)

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
CAPTCHA user score failed. Please contact us!