O mercado brasileiro de TV por assinatura vive, da parte de operadores e programadores, um momento de entusiasmo com os resultados da indústria como um todo. Mas a grande novidade de 2007, que foi a chegadas das teles ao mercado, ainda gera certa preocupação. Este noticiário conversou com vários personagens da indústria, e ouviu relatos de uma sensação em comum: a de que as teles ainda não fizeram justiça ao barulho que se criou em torno delas.
A principal pergunta que todos fazem é: o que se passa com a Telefônica? O único número oficial da operadora (281 mil clientes) mostra que a base de clientes de TV paga é, praticamente, apenas a base de assinantes de MMDS que a TVA já tinha. Ou seja, o DTH da tele cresce pouco. Os assinantes da DTHi não são computados nessa soma (trata-se de uma operação separada), assim como os assinantes de cabo da TVA. Ainda assim, as expectativas eram maiores.
Posicionamento
As análises que tentam explicar os números vão em um sentido também comum: a Telefônica, ao acrescentar a programação Globosat, ficou posicionada no mercado de maneira pouco competitiva. Isso porque passou a ter empacotamento e preço semelhantes aos da Net e da Sky, mas com um produto ainda limitado tecnologicamente, principalmente quando se observa que a ênfase da Telefônica é na oferta combinada de TV paga, dados e voz, território em que a Net tem sido muito agressiva.
"Quando a Telefônica tinha um produto posicionado em uma faixa de preço inferior, ela vendia mais", analisa um fornecedor. O resultado, segundo as informações colhidas no mercado, é que a Telefônica tem hoje no mercado exatamente o mesmo peso que a TVA tinha antes de ser adquirida por ela, ou seja, sua chegada ainda não representou nenhuma grande mudança.
Outro comentário corrente é que a Telefônica não demonstra ter integrado inteiramente a TVA na sua estratégia. Gilberto Sotto Mayor, que era o diretor responsável pelo serviço de TV digital da tele, não ocupa mais essa posição, e as principais decisões são definidas por um comitê de produtos, que define as estratégias comuns entre TVA e Telefônica. Um complicador é o fato de que as operações de DTH e MMDS têm uma estrutura societária e, portanto, de comando, diferente do cabo. No DTH e no MMDS, a Telefônica tem 100% do controle. No cabo, a gestão precisa ser exercida pela Abril. No entanto, a estrutura da operação de MMDS está vinculada à estrutura de TV a cabo, e ambas têm pouco (ou nada) em comum com a estrutura do DTH, operacionalmente.
Outras teles
Mas não é só a Telefônica que enfrenta problemas para entrar no mercado de TV por assinatura. A Brasil Telecom, que iniciou o serviço de IPTV, não esconde que o produto não se sustenta sem uma oferta tradicional de pacotes e canais, o que só poderá acontecer com a mudança de legislação. E a Oi, que planeja iniciar a oferta de IPTV comercialmente a partir de junho, deverá enfrentar o mesmo problema enquanto o PL 29/2007 não for aprovado, ou que outra solução regulatória surja. Para complicar, as duas empresas (Oi e BrT) estão em pré-processo de fusão, o que poderá atrasar ainda mais os planos de entrada no mercado de TV paga de ambas.
Enquanto isso, a expectativa recai sobre a Embratel, que planeja para agosto o lançamento do seu serviço próprio de DTH (a empresa já é sócia da Net). No mercado de TV por assinatura, a pergunta é exatamente onde será posicionado o serviço da tele, dada a experiência da Telefônica. Se a Embratel optar por entrar com o pacote Globosat, terá que encontrar uma fórmula para se tornar acessível a classes menos abastadas, como é o plano declarado da empresa, sem bater de frente com a Net.
Não porque os canais da Globosat sejam necessariamente mais caros, mas porque a Globosat só pode vendê-los na forma com que foi acertado com o Cade no ano passado. Ou seja, a venda só pode ser feita na forma como Sky e Net contratam os canais Globosat, e isso joga preço e empacotamento nos mesmos níveis da concorrência. Foi o que aconteceu com a Telefônica.