Governo fica com 35% da geração de caixa do setor de telecom, diz estudo do BCG

O setor de telecomunicações do País tem uma das menores gerações de caixa e margem de EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação a amortização) do mundo, o que acaba sendo um dos muitos inibidores do crescimento econômico, na avaliação do sócio sênior e diretor de gerenciamento da Boston Consulting Group (BCG), Marcos Aguiar. O consultor chamou a atenção para a necessidade de melhorar as condições da indústria para permitir maiores investimentos e retorno para empresas ao apresentar levantamento do setor referente a 2013 nesta quarta-feira, 10, no 58o Painel TELEBRASIL, em Brasília.

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"Temos observado o nível de investimento no Brasil e é bem importante, acima da média. O impacto que isso tem em caixa é a relação do EBTIDA menos capex dividido por Receita, e aí o País fica lá embaixo", declarou Aguiar. Segundo o levantamento do BCG, o valor gerado pela indústria no ano passado foi de R$ 178 bilhões, com crescimento do Opex de 3%, enquanto o do Capex foi de 9%. Já o aumento da receita foi de 1%. "É uma indústria que gera valor substancial e distribui esse valor entre os diversos stakeholders envolvidos", declara, citando ainda a mobilização de terceiros na cadeia produtiva.

De toda a geração de caixa do setor, o governo ficaria com R$ 62 bilhões, ou 35% do total. Outras indústrias (serviços, aluguéis e outros) ficam com 39% do montante, e a infraestrutura ficaria com 15%. Investidores ficaram com 4% desse bolo, ou R$ 7 bilhões. "O que vemos é a erosão na capacidade de remuneração do acionista de telecom por causa da dinâmica", diz. Isso traz à tona o desafio de investir o necessário para alavancar a infraestrutura e a penetração da banda larga no País. Aguiar cita desafios regulatórios, como a "redução de VU-M e metodologia de multas, que tendem a ampliar os níveis de Opex, e leilão de 700 MHz e contrapartidas aos pleitos das operadoras, (coisas) que tendem a levar o Capex para cima".

Como solução, Marcos Aguiar aponta para o aumento das desonerações tributárias, que "fariam uma diferença certamente muito grande", e o uso estratégico de fundos para aliviar o Capex. "O desafio da indústria é nosso, da sociedade, que em vários países tem visto essa indústria como plataforma para desenvolvimento. Temos que garantir que se crie infraestrutura para aumentar a competitividade", alega.

Outro fator para o que o consultor chama de E-Friction (por serem barreiras à adoção de tecnologia) está também a falta de produtividade da mão de obra brasileira. No levantamento do BCG, um crescimento da economia do Brasil em 3,5% a 4% poderia vir somente da melhora da produtividade.

Soluções

Uma das saídas oferecidas pelo governo é a otimização de recursos, como a prática de compartilhamento de infraestrutura. O presidente da TIM, Rodrigo Abreu, ressaltou durante painel no evento que o RAN Sharing (compartilhamento de espectro) com a Oi na faixa de 2,5 GHz "deu muito certo, tanto que nós estamos muito satisfeitos, a competição foi preservada e temos market share no 4G e ofertas muito diferentes". Ele lembra que a Claro e a Vivo negociam proposta semelhante, e que deve existir racionalidade para o desenvolvimento do crescimento. O presidente da Embratel e do Telebrasil, José Formoso, também defende a ideia. "Além do benefício econômico, o modelo evoluiu bastante nos últimos anos, permitindo chegar mais longe, conseguindo ir lá por redundância e com qualidade", declarou.

O presidente da Anatel, João Rezende, concorda, mas ressalta que, no começo, as empresas ofereceram resistência à ideia. "Compartilhamento nós sempre defendemos, como o PGMC (Plano Geral de Metas e Competição), mas sempre teve resistência. Os players acabavam trabalhando contra medidas que fariam avançar o processo", disse, citando também a abertura do mercado de TV paga, que passou por situação semelhante. "Compartilhamento de infraestrutura como forma de alavancar outros investimentos (é uma saída) principalmente para ter retorno mais longo", finaliza Rezende.

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