Os operadores de MMDS no Brasil (e no mundo) estão exultantes. Esta terça, dia 8, está sendo considerada histórica pelo fato de a Sprint, uma das maiores operadoras de telefonia celular nos EUA, ter decidido pela adoção da tecnologia WiMAX em suas futuras redes de serviços móveis banda larga. Mas o que tem a ver a decisão da Sprint com o Brasil e com o MMDS? Conforme fato relevante da Sprint, ela está planejando desenvolver a sua rede WiMAX nas faixas de 2,5 GHz, aquelas usadas para o MMDS, tanto nos EUA quanto por aqui. Lá, a Sprint tem cerca de 85% do mercado de licenças de MMDS. Aqui, a maior parte das empresas licenciadas para operar nesta freqüência faz parte da associação Neotec, que por sua vez lidera, ao lado da Sprint, um comitê internacional de desenvolvimento do WiMAX sobre a faixa de 2,5 GHz, comitê esse que congrega ainda operadoras na Ásia, Canadá e outros operadores da América Latina. Na prática, a conseqüência é que Brasil e Sprint estão seguindo o mesmo caminho.
Havia grande expectativa em relação à decisão da Sprint pelo WiMAX. A pressão era grande para que a empresa optasse por tecnologias HSDPA ou W-CDMA (atualmente a Sprint opera com plataforma CDMA/EV-DO), mas prevaleceu a análise estratégica do que as redes de 2,5 GHz poderão ser complementares à atual faixa usada para serviços móveis (note-se que a Sprint não abandonou o EVDO/CDMA em sua rede celular atual). A nova rede que a Sprint deve construir com base nas licenças que ela já controla na casa dos 2,5 GHz poderá cobrir 100 milhões de pessoas em 100 cidades até 2008. Motorola, Intel e Samsung são os principais fornecedores aliados no projeto, que envolverá investimentos de US$ 1 bilhão em 2007 e de US$ 1,5 bilhão a US$ 2 bilhões em 2008. Os primeiros pilotos começam no final do ano que vem, para lançamento comercial em 2008.
Espera-se que esta seja a maior operação WiMAX do mundo. Hoje, existem algumas aplicações comerciais na faixa de 2,5 GHz na Coréia do Sul (Korea Telecom) e no Japão (KDDI e DoCoMo). O próximo grande passo tecnológico deve ser dado no final do ano, quando a Intel lança comercialmente os primeiros chips já prontos para processamento do WiMAX e de redes Wi-Fi de forma integrada. Estes chips deverão estar em notebooks e PDAs normalmente encontrados no varejo, como acontece hoje com o Wi-Fi.
Trabalho conjunto
O desenvolvimento que a associação brasileira Neotec, a Sprint e outras tentam dar ao WiMAX no comitê de desenvolvimento internacional da tecnologia tem como objetivo buscar a harmonização da canalização da faixa de 2,5 GHz (MMDS) e a especificação das condições para roaming do serviço. Ao contrário da faixa de 3,5 GHz, cuja canalização mínima prevista pela Anatel é de 1,75 MHz, no Brasil o MMDS já trabalha com canais de 5 MHz, e esta canalização pode subir para 10 MHz e até 40 MHz, pelos estudos em andamento. As operadoras de MMDS possuem um pedaço de 200 MHz de espectro dos 2,5 GHz
2,5 GHz no Brasil
O MMDS (2,5 GHz) é uma faixa regulamentada e comercialmente disponível no Brasil, onde a tecnologia é, aliás, das mais desenvolvidas no mundo. Nenhum outro país tem mais de 100 mil assinantes de TV paga digital na faixa, nem tantas aplicações de dados e voz como o Brasil. A transmissão de conteúdos em alta definição, como a realizada durante a Copa do Mundo pela TVA, também nunca havia sido feita na faixa dos 2,5 GHz antes. Note-se que o desenvolvimento da tecnologia WiMAX lá fora está acontecendo exatamente ao mesmo tempo em que ela se desenvolve no Brasil. Na semana passada, por exemplo, começaram os testes na cidade de São Paulo. Os dados do último Atlas Brasileiro de Telecomunicações, editado pela revista TELETIME, mostram que no Brasil há licenciamento da faixa de MMDS em 484 cidades, o que representa mais de 105 milhões de pessoas atendidas, 30 milhões de domicílios (que incluem 84% dos domicílios classe A brasileiros, 79% dos domicílios classe B, 69% dos domicílios classe C e 57% dos domicílios classe D e E) e 73,4% do potencial de consumo nacional. Das 484 cidades, 322 estão efetivamente em operação técnica (não quer dizer que as operadoras estejam vendendo serviços, mas estão ativadas).
Outras faixas
A decisão da Sprint é, também, um impulso para o WiMAX como um todo, e deve estimular inclusive a ocupação das faixas de 3,5 GHz, que estão em processo de licitação no Brasil, com edital já lançado pela Anatel. Os chips fabricados pela Intel tendem a ser transparentes em relação à faixa e em relação à canalização, ou seja, funcionarão tanto para o WiMAX sobre MMDS quanto para o WiMAX em outras freqüências. Os operadores de MMDS, contudo, têm mais a comemorar, primeiro porque já têm a licença, depois porque a largura de banda é maior e porque a licença de MMDS permite o serviço de TV por assinatura, o que a licença para a faixa de 3,5 MHz não permite (nesse caso, apenas os serviços associados ao SCM são permitidos). E o MMDS não tem limitações de capital nem as obrigações da TV a cabo.