Brasil avança na transição para IPv6, mas tem caminho longo a percorrer

  • Brasil atingiu 43% de tráfego IPv6 em 2023, segundo Anatel
  • Operadoras de telecom avançam na adoção, mas governo, provedores regionais, empresas de conteúdo e de aplicações ainda têm longo caminho
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  • País é 13º no mundo em ranking de transição para novo protocolo IP. Mais de 1 mil provedores aguardam recursos (praticamente esgotados) de IPv4

Com 43% do tráfego em 2023 ocorrendo em IPv6, o Brasil já deu importantes passos na transição para o protocolo IP que está substituindo o IPv4. Mesmo com avanços, Anatel, empresas e outros atores da cadeia da Internet admitem que ainda há muito trabalho até a conclusão da migração no País.

O tema foi motivo de seminário realizado em Brasília pela reguladora em parceria com a Huawei nesta quarta-feira, 5. Na ocasião, a Anatel destacou o avanço do tráfego IPv6 brasileiro (veja quadro abaixo) e sucesso em parte da abordagem regulatória para o tema, mas também reconhecendo a necessidade de um "empurrão para fomentar a adoção e todos os benefícios do IPv6", conforme palavras do presidente da agência, Carlos Baigorri.

Tráfego IPv6
20150%201927%
201711%202235%
201819%202343%

Segundo o assessor da Superintendência de Planejamento e Regulamentação da Anatel, João Alexandre Zanon, a ação iniciada em 2014 pela agência junto às operadoras surtiu efeito, com implementação de IPv6 em praticamente 100% das redes (fixa, móvel, trânsito e interconexão) entre as grandes prestadoras. Mudanças no processo de homologação de produtos também foram realizadas para garantir a compatibilidade com IPv6 dos novos equipamentos.

Já a solução de transição entre IPv6 e IPv4 seria a frente de trabalho que ainda exige esforços. "Muito conteúdo ainda está disponível somente em IPv4, apesar dos novos equipamentos estarem compatíveis ao IPv6. Esses conteúdos ainda precisam estar acessíveis ao usuário", lembrou Zanon.

Para permitir a convivência, o Brasil optou pela tecnologia CG-NAT 44, que basicamente compartilha um endereço do IPv4 entre vários usuários, contornando o esgotamento do protocolo antigo. "Óbvio que isso tem implicações, pois a partir do momento que compartilha, o endereço IP não é mais suficiente para identificação em investigações, exigindo informações adicionais", apontou o assessor da Anatel.

Segundo Zanon, este é um desafio atual no GT de Segurança Pública da agência em meio ao debate sobre quebras de sigilo. Para atendimento de demandas do Ministério Público ou polícias civil e federal, a porta TCP/IP tem sido necessária em casos onde o IPv4 é utilizado. Mas ao contrário das operadoras de telecom – já obrigadas a armazenar tais registros – muitos provedores de aplicação e conteúdos não estariam seguindo a mesma prática.

Enquanto a transição completa para o IPv6 não sana o problema, a Anatel tem tentando identificar provedores de conteúdo que não realizam a guarda das informações e incentivado a migração dos mesmo ao novo protocolo IP. Neste sentido, a própria tomada de subsídios da agência sobre deveres dos grandes usuários de redes – leia-se, as grandes plataformas – é considerada ferramenta.

Conteúdo

Responsável pela alocação dos recursos de numeração da Internet no Brasil, o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) apontou no evento da Anatel alguns dados sobre a adoção do IPv6 entre produtores de conteúdo e aplicações de Internet. Em levantamento no final do ano, só 36% das plataformas de streaming tinham IPv6 funcionando, com 43% entre portais de notícias e 55% entre redes sociais.

A situação é pior entre os bancos, com apenas 8,7% com IPv6 funcionando na navegação de serviços online, e entre games online (8,3%). Mais preocupante ainda seria a ausência de adoção do protocolo em serviços do governo, como a declaração do Imposto de Renda. Liderando a migração para IPv6 no NIC.br, Antonio M. Moreiras apontou que, ao incentivar a migração, o governo poderia puxar toda a cadeia no mesmo sentido

Já a atuação regulatória da Anatel junto às prestadoras de telecom teria surtido efeito, com as grandes "fazendo o dever de casa" ainda que os provedores regionais não tenham números tão bons. Um ponto de atenção, contudo, seria o suporte a equipamentos. Entre CPEs para banda larga fixa, o IPv6 muitas vezes não seria ativado por padrão ou poderia apresentar desempenho diferente, segundo Moreiras. Dificuldades para adequação de consoles de games e de smart TVs são outros pontos fracos na indústria.

Fila

Hoje, o NIC.br ainda reporta uma fila de 1.006 solicitantes de numeração do antigo padrão IPv4 – esgotada em 2020 na América Latina e Caribe, mas que ainda pode surgir em caso de desocupação ou retomada de antigos usuários. O primeiro provedor da fila está aguardando liberação há 778 dias, sendo que um novo solicitante em 2023 só seria atendido em 2029.

Diretor de regulação e autorregulação da Conexis (representante das principais operadoras de telecom), José Bicalho lembrou que há grande parcela de equipamentos legados e conteúdos que ainda dependem do IPv4 como desafios para a transição completa, além da própria fragmentação do mercado de provedores regionais. Neste caso, a ativação de clientes na banda larga apenas com equipamentos IPv6 foi algo sugerido.

No seminário da Anatel, o executivo destacou os patamares já atingidos pelas grandes teles e foi uma das vozes a favor da adequação dos conteúdos governamentais ao novo protocolo, iniciando uma espécie de campanha que sirva de porta de entrada para adequação dos demais provedores de conteúdo e aplicações.

A própria Anatel tem no radar a organização de IPv6 Day, a realização de um white paper sobre o tema ao lado da Huawei e a adoção de um barômetro como mecanismo de medição em tempo real da adoção IPv6, a partir das próprias redes de telecom. A fornecedora chinesa defendeu no seminário o uso da ferramenta, já adotada na França.

De forma geral, contudo, a avaliação do desempenho no Brasil foi positiva, apontou Hok Fun Cheung Cheung, do Huawei Europe Research Center. Em index da Roland Berger sobre adoção entre nações, o País estaria na décima terceira colocação, ficando atrás apenas do Uruguai na América do Sul e superando a China no quadro global. A líder na adoção IPv6 é a Índia.

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