O que era apenas especulação se transformou em fato nas primeiras horas desta terça-feira, 3: a Microsoft anunciou a aquisição das áreas de Devices e Serviços da Nokia, bem como licenças de patentes e uso dos serviços de mapas da fabricante finlandesa, por um total de 5,44 bilhões de euros. De acordo com comunicado ao mercado, a companhia norte-americana vai pagar 3,79 bilhões de euros pelas divisões e serviços dedicados a handsets, além de mais 1,65 bilhão de euros pelas licenças de patentes em um contrato de dez anos. A transação deverá ser completada no primeiro trimestre de 2014, caso seja aprovada por acionistas da Nokia e por órgãos reguladores.
Com a transação, a Nokia afirma que vai se focar na Nokia Services and Networks (NSN), nos serviços de mapas e localização HERE e em tecnologias avançadas (desenvolvimento e licenciamento de tecnologias). A NSN, que foi 100% incorporada à finlandesa após aquisição do share da Siemens, continuará focada nas tecnologias móveis, como LTE e futuros padrões. "A Nokia continua a gerenciar a NSN como uma entidade forte e independente", diz a empresa.
Em uma primeira etapa, a Microsoft vai disponibilizar para a Nokia 1,5 bilhão de euros em três parcelas de 500 milhões de euros em notas conversíveis que a empresa dos Estados Unidos deverá conseguir com fundos e recursos internacionais. A Microsoft deverá absorver 32 mil funcionários da finlandesa, incluindo 18.300 "diretamente envolvidos na fabricação" e 4.700 pessoas na Finlândia. As operações que serão transferidas da Nokia para a Microsoft geraram praticamente 50% das vendas da Nokia em 2012, gerando cerca de 14,9 bilhões de euros. Como parte da transação, a Nokia vai atribuir à Microsoft o acordo de patentes de longo prazo com a Qualcomm.
"Com o vindouro crescimento de participação e sinergias pelo marketing, branding e publicidade, esperamos que a aquisição seja um acréscimo aos nossos lucros ajustados por ação a partir do ano fiscal de 2015, e vemos oportunidades de receitas e faturamento de longo prazo para nossos acionistas", afirmou o CEO da empresa norte-americana, Steve Ballmer. A marca Nokia continuará a ser detida e gerida pela própria empresa europeia. "Este elemento permite à Microsoft ter a oportunidade para estender suas ofertas de serviço para um grupo mais abrangente pelo mundo, enquanto permite que os aparelhos móveis da Nokia sirvam como um trampolim para o Windows Phone", diz o comunicado.
A ideia é que a Microsoft foque não apenas em smartphones de ponta com Windows Phone 8, mas também no potencial do mercado em desenvolvimento com aparelhos mais baratos. "O acordo de hoje vai acelerar o bom momento das áreas de dispositivos e serviços da Nokia, trazendo os smartphones mais inovadores do mundo para mais pessoas, enquanto continua a conectar o próximo bilhão de pessoas com o portfólio de telefones móveis da Nokia", afirmaram em comunicado aberto o CEO da Microsoft, Ballmer, e o CEO da Nokia, Stephen Elop. "É um passo corajoso para o futuro – um ganha-ganha para funcionários, acionistas e consumidores de ambas as companhias. Juntar esses grandes times vai acelerar a participação e lucros da Microsoft em telefones, e reforçar as oportunidades em geral tanto para a Microsoft quanto para nossos parceiros por toda a família de dispositivos e serviços", afirmou Ballmer.
Mudanças
Com o anúncio desta terça-feira, Elop deixa o posto de CEO para virar vice-presidente executivo da Nokia para as áreas de dispositivos e serviços, assim como outros executivos. Assume como CEO interino na finlandesa Risto Siilasmaa, que já era chairman da diretoria da Nokia.
Além disso, a companhia americana anunciou que vai construir um novo data center na Finlândia para servir aos consumidores da Microsoft na Europa, investindo mais de US$ 250 milhões nos "próximos anos, com potencial para futura expansão com o tempo".
Análise
A situação financeira da área de devices da Nokia vinha piorando trimestre a trimestre, como indicavam seus balanços de resultados, a ponto de gerar rumores no mercado sobre uma possível aquisição pela Microsoft, o que era o mais óbvio, ou por concorrentes que usam Android, como a Huawei. Neste último caso, o interesse seria pelas patentes, pela mão de obra especializada, pela área de mapas e pelas unidades fabris, abandonando o projeto Windows Phone. O preço a ser pago provavelmente seria menor. Em outras palavras: a Nokia vale mais para a Microsoft do que para qualquer outra companhia. E sua aquisição tornou-se uma questão estratégica para a companhia norte-americana, pois garante a sobrevivência do projeto Windows Phone, já que a Nokia é o principal fabricante desse sistema – os outros lançaram poucos modelos, apenas para não ficar completamente de fora e terem uma carta guardada na manga caso algo desse errado com Android.