O entretenimento audiovisual nasceu com os primeiros contadores de estórias, nos primórdios da humanidade, há 200 mil anos.
Mas a tecnologia tem sido fundamental em ampliar a experiência e incluir novos públicos. Curiosamente, nunca se consumiu tanto conteúdo, mas está cada vez mais desafiador ganhar dinheiro produzindo e distribuindo conteúdo.
O Século XXI se encantou com ofertas disruptivas de desintermediação e acesso direto aos dados dos espectadores, e vem aprendendo a duras penas o desafio de ser produtor e veículo. Os estúdios eram felizes e não sabiam. A verdade é que um mundo com poucas opções lineares e com janelas de exibição exploradas por diferentes meios (cinema, avião, PPV, TV a cabo premium, videoclubes e TV aberta) configuravam um modelo econômico excepcional.
Veio o modelo inaugurado pela Netflix, e foi declarada a guerra de quem consegue perder mais dinheiro. Os produtores e distribuidores de conteúdo não tinham ideia dos desafios de migrar do modelo B2B para B2C: custos de aquisição e retenção de assinante, a eterna batalha contra o churn e o fato de que seu catálogo é tão forte quanto seus últimos lançamentos são apenas alguns dos desafios. Em praticamente todas as mídias é muito difícil viver só de assinatura.
Como aconteceu com a TV a cabo, o streaming começa a perseguir a receita de publicidade junto com a de assinaturas. O problema é que os anunciantes estão cada vez mais educados, exigentes e seletivos. Não ajuda o fato de a base de alcance das plataformas de streaming estar mais pulverizada e menor. Um anunciante vai escolher comprar mídia no YouTube com 2,5 bilhões de alcance global, Instagram com 2,3 bilhões, TikTok com 1 bilhão ou Netflix com 238 milhões?
Do lado do espectador, a enormidade de conteúdos disputando segundos da atenção, que se mudou da sala de estar para a palma da mão, torna o jogo ainda mais feroz.
Nada é garantido para o futuro. O conteúdo tem 20 segundos (TikTok) ou 10 horas (série)? O produtor é um estúdio com orçamento de centenas de milhões ou um influenciador com um celular na mão? O modelo será B2B ou B2C? A exibição deve ser linear ou sob demanda? A plataforma de exibição e um local físico, rede social ou plataforma digital? A monetização tem qual mix de publicidade e assinatura?
A resposta deve ser: "tudo junto e misturado". Muitos recursos serão investidos e perdidos até – e se – a indústria do audiovisual encontrar um modelo sustentável.
O sonho de alguns seria entrar em um túnel do tempo e voltar para os anos 90, onde todos eram felizes.
*- Sobre o autor: Álvaro Pacheco é um analógico curioso digital. As opiniões expressas pelo autor não necessariamente refletem o ponto de vista de TELETIME.
Todos? Menos o consumidor né, porque antes da Netflix, para o consumidor era horrível