Viabilidade financeira de órbitas baixas ainda precisa ser provada, mas há otimismo

Primeiro painel do Congresso Latinoamericano de Satélites. Foto: Bruno do Amaral

Apesar de novas constelações de baixa (LEO) órbita terem ajudado a colocar o assunto em relevância, a maior preocupação da indústria de satélites ainda está na sustentabilidade financeira desses tipos de sistema. Isso porque, apesar de terem artefatos de menor custo e com lançamentos ficando mais acessíveis, o volume do sistema necessita de altos investimentos – e o retorno ainda não tem se provado, na opinião de participantes do primeiro painel do Congresso Latinoamericano de Satélites, evento realizado pela Glasberg Comunicações e organizado por TELETIME nesta quinta-feira, 1º, até a sexta, 2, no Rio de Janeiro.

"A lista de riscos é significativa. Ainda tem que se provar a sustentabilidade financeira das frotas, e não é a primeira vez, já houve tentativas. A OneWeb está em segunda fase, depois do Chapter 11 [recuperação judicial e processo de falência]", coloca o CCO da fornecedora e integradora SpaceBridge, Javier Recio, citando haver "muito custo comparado à receita gerada". Mesmo com grandes investidores por trás, como Jeff Bezos da Amazon e Elon Musk da SpaceX/Starlink, ele afirma que, além de atingir a neutralidade de sustentabilidade (breakeven), as empresas vão buscar "ser mais inteligentes" para ter dinheiro. No entendimento de Recio, não há espaço para mais do que duas ou três operadoras nesse mercado. 

VP de desenvolvimento corporativo Latam da SES, Fábio Alencar, discorda dessa visão e diz estar "surpreendentemente otimista". Para ele, há espaço para ter "quatro grandes players, ou mais". E cita: "Os grandes vão estar lá, o chinês, a OneWeb, por exemplo, vão ficar no mercado. Tem demanda, capacidade de investimento e governo", destaca. O entendimento é que a interoperabilidade é um aspecto importante, mas ele ressalta que há várias aplicações que demandam capacidade satelital e que não necessariamente precisam da baixa latência de constelações LEO ou mesmo MEO. Mas a companhia tem o sistema de órbita média O3b mPower, que deve lançar os primeiros dois satélites em outubro, e ao longo de 2023 terá o início da operação quando chegar aos seis artefatos (de um total de 11). 

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"A demanda continua subindo como foguete, e no lado do fornecimento tem combinação, com evolução da tecnologia espacial e terrestre, com modelo de negócios ficando mais flexível", diz o head de assuntos governamentais e regulatórios da OneWeb, Christopher Casarrubias. Mas ele diz que assuntos externos, como a guerra na Ucrânia, acabaram afetando lançamentos – no caso da operadora, ela precisou remanejar um lançamento que ocorreria no Cazaquistão, em fevereiro. "Somos um setor global e estratégico, fomos impactados por esses eventos, com fechamento de mercado e de cadeias de suprimento." Casarrubias lembra que também houve investimentos por parte de governos, como no caso do governo britânico na OneWeb e dos Estados Unidos na SpaceX. 

Segundo o head of services and global trends da Cullen International, André Gomes, há mercado. Com cerca de 40% da população mundial ainda desconectada, "são bilhões de empresas a ser conectadas. E as próprias empresas que somente um percentual pequeno foi conectado, o negócio para de pé." A empresa de benchmarks e avaliações considera que o papel de governos também é fundamental, incluindo na coordenação satelital na União Internacional de Telecomunicações (UIT), algo que necessita de tempo para ser discutido. "Será muito mais complexa do que é hoje. E precisa ajustar a regulação para permitir que isso aconteça. No final do dia, tem impacto no fluxo de caixa de cada negócio, e fica mais difícil ter payback."

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