Starlink: de ameaça a parcerias, mercado de satélite vê evolução na relação

Debate sobre comunicações marítimas no Congresso Latinoamericano de Satélites 2023

Se a Starlink é, de um lado, a principal mudança no mercado de satélites em muitos anos, causando apreensão e incerteza entre os provedores tradicionais por seu modelo de negócios e tecnologias extremamente agressivos, e com poder de mudar as relações de custos e ofertas de serviços do mercado, de outro lado ela também já estabele parcerias com muitas das operadoras e provedores de serviços tradicionais no segmento de serviços corporativos. E, com isso, os pontos fortes e fracos da solução de Elon Musk começam a ficar mais claros. Foi o que ficou evidente durante o Congresso Latinoamericano de Satélites, realizado esta semana pela TELETIME, no Rio de Janeiro.

A SES, uma das principais operadoras de satélite do mundo, é uma das que abraçaram o modelo de parceria com a Starlink. Em setembro a empresa anunciou um modelo de parceria para integrar a Starlink em suas soluções de conectividade dedicadas ao segmento de cruzeiros. É um fato notável porque a própria SES, por meio da O3b, sua constelação de órbita média (MEO), já havia revolucionado o segmento, elevanto a conectividade média de navios de 40 Mbps com a conectividade apenas por satélites geoestacionários para 400 Mbps com a constelação MEO. Mas diante dos padrões atuais de consumo foi necessário ampliar a oferta, e a parceria com a Starlink se mostrou uma opção, explicou Fernando Gonsalves, diretor de venda para o mercado de energia da SES durante o evento. Mas ele explicou que na oferta incluindo a conectividade Starlink, apesar da SES ser a responsável pelo serviço como um todo, na conectividade Starlink não há a previsão de disponibilidade e qualidade assegurada. "Trata-se de uma conectividade best-effort, que é muito boa para algumas aplicações, mas não é a mais indicada para aplicações críticas", disse ele no evento. Entre as aplicações que acabam ficando na rede da Starlink estão as de entretenimento, por exemplo.

Na mesma linha vai a Petrobrás, uma empresa que, pela característica de suas operações em alto mar, é uma importante consumidora de conectividade via satélite. Para Ângelo Canavitsas, Gerente de Relacionamento da TIC com Entidades Regulatórias da Petrobrás, é natural que os funcionários da empresa demandem, quando embarcados em plataformas, as comodidades e facilidades de conectividade que têm em terra, e a Starlink acabou aproximando bastante essa experiência, tanto que tem sido utilizada pela Petrobrás nas plataformas. Mas ele explica que é uma solução em que não estão aplicações críticas, como links de monitoramento, segurança e comunicação operacional. "É para uso recreativo, basicamente", diz Canavitsas. 

Notícias relacionadas

Augusto Borella, diretor de produtos da RigNet, vê complementariedade nas ofertas. Para ele, o mercado de conectividade de fato é impactado pela oferta da Starlink, mas ele lembra que em operações marítimas e de energia a conectividade é uma parte do negócio. Existe um conjunto de serviços de gestão de tráfego, serviços gerenciados e aplicações que não são resolvidos apenas com uma conexão da Starlink a bordo, por exemplo.

Atendimento e suporte

As razões para isso, aponta Eduadro Bessa, general manager da Gilat do Brasil, é o fato de que a Starlink é uam empresa extremamente verticalizada, com poucos canais de comunicação nem suporte para qualquer tipo de integração de sistemas ou ajustes operacionais. "Não é só o fato de que eles não têm estrutura de pós-venda no Brasil. É uma empresa que não dá o suporte técnico necessário para aplicações críticas", diz ele. 

Jayme Ribeiro, que é Diretor Executivo de Vendas e Marketing Latam da Sencinet

Já a Sencinet, uma das principais integradoras de serviços corporativos e tradicional usuária de conectividade via satélite, é distribuidora oficial da Starlink depois de mais de um ano de negociação. "No nosso caso, por sermos distribuidores oficiais, temos alguns canais de atendimento, mas de fato não existe qualidade de serviço assegurada. Mas essa é a nossa realidade: temos parcerias com mais de 1 mil ISPs regionais para serviços SD-WAN (redes corporativas) e nenhum deles tem garantia de QoS. Quem dá essa garantia somos nós, no nosso trabalho de integração", diz Jayme Ribeiro, Diretor Executivo de Vendas e Marketing Latam da Sencinet

A Sencinet conta que o setor de satélites sofreu um impacto muito maior com o crescimento dos ISPs de fibra pelo Brasil do que está sofrendo agora com a Starlink. E que o serviço de Elon Musk inclusive está fazendo algumas empresas voltarem a demandar soluções via satélite, para terem redundância por outra rota ou tecnologia. "À medida que os ISPs avançaram com fibra pelo Brasil nossos clientes corporativos, redes varejistas, farmácias, bancos, trocaram a conectividade de seus pontos por internet fixa. Ninguém mais usava satélite. Mas com a Starlink, muitos passaram a nos pedir novamente uma solução com satélite integrado", diz Ribeiro.

 

1 COMENTÁRIO

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
CAPTCHA user score failed. Please contact us!